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Estado de Minas CIDADES DE DIRCEU E BARBOSA

Passa Quatro e Paracatu n�o escapam de corrup��o


postado em 02/12/2012 00:12 / atualizado em 02/12/2012 09:39



Passa Quatro – Separadas por quase 800 quil�metros e localizadas nos extremos de Minas Gerais, Passa Quatro e Paracatu ganharam evid�ncia nos �ltimos tr�s meses com o maior julgamento da hist�ria brasileira: o mensal�o. Passa Quatro, no Sul de Minas, � a cidade natal do ex-ministro da Casa Civil Jos� Dirceu (PT), condenado como mentor do esc�ndalo. O algoz de Dirceu, o presidente do Superior Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, � de Paracatu, no Noroeste. Em lados opostos no STF, os dois nasceram em cidades repletas de den�ncias de corrup��o no poder p�blico. Na terra de Barbosa, o prefeito enfrenta sua terceira Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPIs) em oito anos de mandato. Na cidade de Dirceu, o Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG) acusa o prefeito de ter provocado um rombo que pode ter chegado a R$ 500 mil somente com malversa��o de di�rias de viagem.

“A hist�ria do Jos� Dirceu est� consumada. Aqui (em Passa Quatro) ainda tem muita coisa para acontecer”, afirma o promotor Fl�vio Mafra Brand�o Azevedo. “O Joaquim Barbosa pode ter at� alguma coisa contra o Jos� Dirceu e se deixou levar pela press�o da m�dia e da sociedade, mas n�o � t�o desequilibrado quanto o promotor daqui”, entende o prefeito Ac�cio Mendes de Andrade (PTB), comparando Barbosa com o promotor local.

Prefeito e promotor n�o se entendem na cidade natal de Dirceu. O promotor acusa o prefeito de diversos delitos. As acusa��es somam milhares de p�ginas divididas em duas pastas na promotoria. “J� houve condena��es e tamb�m absolvi��es, mas est�o em fase de recurso”, explica Azevedo, alegando que o prefeito n�o perdeu o cargo por ter se valido de diversos recursos para protelar o processo. O prefeito, por sua vez, ataca a vida pessoal do promotor e alega persegui��o pol�tica.

“Fiz uma apura��o entre 2005 at� este ano e identifiquei, com documentos, diversas irregularidades”, detalha o promotor. Os principais desvios s�o relacionados �s di�rias de viagem. “Em um mesmo dia um carro do prefeito, que tem um tanque de combust�vel de 55 litros, foi abastecido duas vezes, uma vez com 50 litros e outra com 40 litros, sendo que as duas notas t�m poucos minutos de diferen�a”, denuncia o promotor.

Outra acusa��o do promotor � de que quando o prefeito viajava a Belo Horizonte no retorno, por v�rias vezes, dormiu em um hotel em S�o Louren�o, cidade a apenas 50 quil�metros de Passa Quatro. “As provas s�o robustas. S� fiz a��o porque tenho certeza de culpa”, garante o promotor. As presta��es de contas eram feitas sem apresenta��o da nota fiscal, amparadas por uma resolu��o do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG). O promotor explica que foi poss�vel perceber os desvios e abuso do dinheiro p�blico depois que a resolu��o foi revogada. “Se a di�ria era R$ 600, nunca sobrava dinheiro ou faltava. Sempre dava o valor exato”, destacou ele.

Depois da revoga��o da resolu��o do TCE-MG, o prefeito enviou para a C�mara um projeto de lei estabelecendo limites para a di�ria – R$ 600 para cidades em Minas Gerais e R$ 800 para Bras�lia, sem incluir o transporte – que dispensa a apresenta��o de notas fiscais. O prefeito entende que o valor n�o � elevado. “No meu caso � muito barato, pela quantidade de coisas que eu trago para a cidade e pelos relacionamentos que eu tenho”, alegou Ac�cio.

F�s do ex-ministro O prefeito encerra o segundo mandato este m�s sem ter conseguido eleger o vice-prefeito como seu sucessor. Perdeu para uma chapa que uniu PSDB e PT. O prefeito eleito � o tucano Paulinho Brito, fisicamente parecido com o senador A�cio Neves (PSDB). Por�m, a semelhan�a com o ex-governador n�o ecoa no discurso a respeito de Dirceu. “Ele (o ex-ministro) paga pelo que representa e n�o pelo que fez”, avalia Paulinho. O prefeito ressalta que suas declara��es s�o feitas com o olhar de advogado e n�o de tucano, ressalta que o ex-ministro petista � um orgulho para Passa Quatro. “O maior desagravo � o abra�o fraterno que damos nele quando vem � cidade”, afirma o tucano.

J� o atual prefeito, Ac�cio Mendes de Andrade, foi opositor do prefeito eleito, mas quando o assunto � Jos� Dirceu os dois afinam a orat�ria no mesmo tom. Ac�cio est� encerrando o terceiro mandato, sendo o segundo consecutivo. Chegou a governar a cidade enquanto Dirceu comandava a Casa Civil do governo de Luiz In�cio Lula da Silva. “Tinha uma rela��o muito boa. O Dirceu era o homem mais importante do Brasil, depois do Lula. Ele abria as portas de v�rios minist�rios, me ajudava muito”, lembra Ac�cio.

Ac�cio relata que conseguiu fazer v�rias obras na cidade com recursos do governo federal. Uma das mais vistosas � a policl�nica de sa�de, inaugurada em junho, pouco antes do in�cio do julgamento do mensal�o. “Dei o nome de Castorino Oliveira e Silva”, destaca o prefeito. Castorino, j� falecido, tinha uma pequena gr�fica na cidade e hoje � mais conhecido como pai de Jos� Dirceu. Entretanto, Ac�cio ainda pensa em uma �ltima homenagem antes de deixar o poder. “Queremos fazer algo, mas n�o sei ainda o qu�. Ele (Dirceu) deve vir passar o Natal aqui com a fam�lia e ent�o vou conversar com ele e saber o que pensa sobre uma homenagem”, explica o prefeito.

 

 

Mais que uma foto na parede

 

Antes do julgamento do mensal�o, Jos� Dirceu passou alguns dias na casa da m�e, Olga Silva. H� cinco anos, o ex-ministro comprou o im�vel, uma bela resid�ncia localizada no Centro, e est� sempre presente em Passa Quatro, ou P4, como os moradores e ele se referem � bela cidade de 15 mil habitantes encravada no alto da Serra da Mantiqueira. Em P4 tamb�m vivem uma irm� e um irm�o de Dirceu. O ex-ministro estudou at� a oitava s�rie no Col�gio S�o Miguel, institui��o cat�lica tradicional.

O padre Joaquim Soares Moreira, de 84 anos, foi professor do ex-ministro e, al�m de destacar a intelig�ncia dele, recorda quando outro professor, padre Domingos, perdeu a compostura com o menino. “Agarrou ele pelo fundo da cal�a e jogou pela janela para o lado de fora”, lembra. 

Na parede do corredor principal, a foto do garoto, ent�o com 14 anos, est� entre os formandos. Ao lado, o bras�o do col�gio, que tem as cores da bandeira de Cuba (azul, vermelho e branco), pa�s onde Dirceu viveu na d�cada de 1960, quando esteve exilado. “Acho horr�vel a atitude dele, mas reconhe�o que � um homem que n�o engole as coisas facilmente. Quando algu�m est� errado, ele bate de frente, feio”, avaliou o religioso.

Quem n�o discorda de Dirceu, ou Z�, como ele se refere ao ex-presidente do PT, � o engenheiro Jo�o Luiz Schianni. “As pessoas aqui t�m orgulho. N�o por isso que acontece com agora, mas pela hist�ria dele”, afirmou Jo�o, que � tr�s anos mais novo que Z� e foi seu amigo de inf�ncia.

Muita coisa aconteceu desde que Z� deixou P4 e se mudou para S�o Paulo, onde foi l�der estudantil, participou da luta armada, foi preso e um dos libertados em troca do embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick, sequestrado por militantes em 1969. Depois do ex�lio em Cuba, ele retornou clandestino ao Brasil, no interior do Paran�, onde viveu com outro nome e outro rosto e se casou – sem revelar � esposa sua verdadeira identidade.

 Ap�s a anistia, em 1979, participou da cria��o do PT, foi eleito deputado estadual e federal por S�o Paulo, foi derrotado para o governo de SP em 1994, se tornou presidente do PT em 1995 e um dos principais art�fices da candidatura vencedora de Lula em 2002, se tornando ministro. Em 2005 foi cassado e agora condenado pelo Supremo a 10 anos e 10 meses de pris�o.

“Eu n�o falo que ele est� certo ou errado. Eu respeito o Z� de Passa Quatro acima da pol�tica”, pontuou Jo�o. O que incomodou o amigo de inf�ncia foi a alian�a do PT com o PSDB para a prefeitura. “N�o gosto de briga, mas n�o queria a alian�a”, entende Jo�o, que h� 26 anos � filiado ao PT. “Como fui voto vencido, pedi para deixar o cargo de secret�rio do partido e estou pensando em sair e fundar o PCdoB na cidade”, planeja Jo�o.


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