Juliana Colares e Paulo de Tarso Lyra

Bras�lia – O PMDB tenta nesta segunda-feira, em uma at�pica manh� movimentada de segunda-feira no Congresso, completar o dueto que comandar� o Legislativo pelos pr�ximos dois anos. Apoiado pela presidente Dilma Rousseff, o candidato do partido, Henrique Eduardo Alves (RN), disputa a Presid�ncia da C�mara com a companheira de bancada Rose de Freitas (ES), o candidato do PSB, J�lio Delgado (MG), e o do PSOL, Chico Alencar (RJ). O aval do Planalto, ainda que a contragosto – a exemplo do que ocorreu com Renan Calheiros (PMDB-AL) na elei��o do Senado –, representa a garantia de Dilma que a alian�a com o PMDB em 2014 est� mantida. Interessado em fissuras nessa parceria, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, estimulou a perman�ncia de Delgado como candidato.
A possibilidade de surpresas na vota��o j� preocupava Dilma no ano passado. Em encontros separados com peemedebistas e socialistas, ela lembrou o “fantasma Severino Cavalcanti”, quando o rei do baixo clero surpreendeu ao vencer o candidato do governo, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT), em 2005. O PMDB – que elegeu com facilidade Renan Calheiros presidente do Senado na sexta-feira – tenta afastar a possibilidade de sustos na contagem de votos. Confiante nas alian�as e na costura pol�tica que come�ou bem antes do in�cio oficial da campanha, Eduardo Alves se deu at� ao luxo de desfrutar dias de folga em janeiro com a fam�lia em Natal, enquanto os principais oponentes corriam contra o tempo na tentativa de angariar votos. Ainda assim, no m�s passado o peemedebista viajou mais de 14 mil quil�metros. Esteve reunido com as bancadas de 10 estados, incluindo Pernambuco, terra do governador Eduardo Campos, cacique pol�tico de J�lio Delgado, um dos principais advers�rios de Henrique Eduardo Alves na disputa.
Para n�o deixar escapar por entre os dedos o cargo que est� no segundo degrau na linha sucess�ria � Presid�ncia da Rep�blica, o investimento do parlamentar incluiu R$ 700 em torpedos e R$ 2 mil em panfletos. Sem contar os R$ 6,6 mil usados para pagar a impress�o de 512 dos 2 mil exemplares do livro O que n�o quero esquecer, de autoria do deputado. A colet�nea de discursos saiu do forno em dezembro e foi distribu�da a cada um dos parlamentares da Casa, mas a assessoria de Eduardo Alves nega que o presentinho seja brinde de campanha. J�lio Delgado deu passos parecidos aos do opositor peemedebista durante a campanha. O socialista viajou cerca de 18 mil quil�metros e passou por 10 estados. Mais da metade deles tamb�m estavam no plano de voo de Eduardo Alves – Curitiba, S�o Paulo, Belo Horizonte, Recife, Jo�o Pessoa e Fortaleza.
O socialista desembolsou pouco mais de R$ 9 mil com passagens a�reas e outros R$ 1.440 com a impress�o de 2 mil panfletos. “Parlamentares de alguns partidos n�o declararam oficialmente que v�o votar em mim para n�o se exporem em rela��o aos seus blocos”, disse: “Estou convicto de que haver� segundo turno. Estamos caminhando a passos largos para isso. E no segundo turno a hist�ria vai ser outra”, afirma Delgado. Mesmo recha�ando as compara��es, ele quer repetir a hist�ria de 2005. “N�o sou Severino (Cavalcanti). Se tem algu�m que responde a den�ncias, esse n�o sou eu”, disse, referindo-se �s informa��es divulgadas pela imprensa no m�s passado de que Eduardo Alves teria direcionado emendas parlamentares para favorecer a empresa de um ex-assessor.
CONFIAN�A Quem tamb�m diz n�o ter d�vidas do segundo turno � Rose de Freitas. Mesmo sem apoio oficial do partido, se lan�ou candidata com apoio inicial de 81 deputados, segundo as contas da assessoria da parlamentar. Com uma campanha bem mais barata, com passagem apenas por S�o Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, Rose n�o desacelerou nos �ltimos dias e tenta conseguir mais votos at� o �ltimo minuto. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) entrou na disputa poucos dias antes da vota��o. Sem acreditar na pr�pria vit�ria, o parlamentar, que diz que se candidatou para enriquecer o debate, engrossa a lista dos anti-Eduardo Alves e rouba uns pontinhos do favorito, ajudando a levar a decis�o ao segundo turno. Nesse caso, j� indica quem possivelmente apoiaria: o candidato do PSB, J�lio Delgado.
Henrique Eduardo Alves
Aos 64 anos, est� no 11º mandato consecutivo pelo RN, sendo o mais antigo deputado federal. � formado em direito e foi eleito pela primeira vez em 1971. � favorito ao cargo de presidente da C�mara, com aval do Planalto. Em 2002, seria o vice de Jos� Serra na disputa pelo Planalto, mas teve de abrir m�o da vaga ap�s a ex-mulher denunciar contas secretas no exterior. Recentemente, se envolveu em den�ncias de direcionamento de emendas parlamentares para favorecer um ex-assessor � s�cio.
J�lio Delgado
Formado em direito, come�ou a se envolver com pol�tica ainda na faculdade. Foi eleito tr�s vezes prefeito de Juiz de Fora, na Zona da Mata, e est� no quarto mandato consecutivo como deputado federal por Minas. Em 2005, foi relator do processo de cassa��o do ex-ministro da Casa Civil Jos� Dirceu, o que lhe rendeu �dios no PT. Recentemente se aproximou do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que o incentivou a continuar na disputa pela Presid�ncia da C�mara.
Rose de Freitas
Jornalista, professora, produtora rural, projetista e agrimensora, foi deputada estadual de 1983 a 1987 e deputada federal constituinte entre 1987 e 1991. Est� no sexto mandato de deputada federal pelo ES e exerceu nos dois �ltimos anos o cargo de primeira vice-presidente da Casa. Em 1988, participou da funda��o do PSDB. Autorizou a vota��o do requerimento de urg�ncia para an�lise dos vetos da partilha dos royalties, o que acabou lhe rendendo a antipatia de parlamentares fluminenses e capixabas.
Chico Alencar
Formado em hist�ria, Alencar foi l�der de associa��o de moradores do Rio de Janeiro nos anos 1980. � professor e foi coordenador de Apoio ao Educando da Secretaria de Educa��o da capital fluminense. Pelo PT, foi vereador entre 1989 e 1996. Foi eleito deputado estadual em 1998. Ainda no PT, conseguiu se eleger deputado federal em 2002. Na elei��o seguinte, concorreu pelo PSOL e venceu. Est� no terceiro mandato consecutivo. Concorreu � Prefeitura do Rio duas vezes, mas n�o conseguiu se eleger.