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Estado de Minas

Relatos levam Comiss�o da Verdade do Rio �s l�grimas


postado em 28/05/2013 17:49

A historiadora Dulce Pandolfi e a cineasta L�cia Murat prestaram depoimentos emocionados nesta ter�a-feira, 28, quando relataram � Comiss�o Estadual da Verdade do Rio de Janeiro as torturas a que foram submetidas durante a ditadura militar. Os relatos de agress�es, afogamento, choques el�tricos e abusos sexuais levaram as duas - e parte dos que lotaram o plen�rio da Assembleia Legislativa do Rio - por diversas vezes �s l�grimas.

Dulce era estudante de Ci�ncias Sociais e secret�ria geral do Diret�rio Central dos Estudantes (DCE) na Universidade Federal de Pernambuco quando foi decretado o Ato Institucional nº 5. Naquele mesmo ano de 1968, ingressou na A��o Libertadora Nacional (ALN), organiza��o de esquerda armada. "A radicaliza��o do regime justificava a continuidade da nossa luta". Dois anos depois, perseguida pelos �rg�o de repress�o, fugiu de Recife para o Rio, onde foi presa no dia 20 de agosto de 1970. Ela se recorda da frase dita por um militar no momento em que entrou no quartel da Pol�cia do Ex�rcito: "aqui n�o existe Deus, nem P�tria, nem Fam�lia. S� n�s e voc�".

Aula de tortura

Durante os cerca de tr�s meses em que ficou no DOI-CODI, ela foi agredida com socos e pontap�s, sofreu afogamentos, recebeu choques el�tricos enquanto ficava pendurada num pau de arara, e ainda teve um jacar� andando sobre o seu corpo nu. Ela tamb�m relatou ter sido pisoteada nas costas pelo major Riscala Corbaje conhecido como doutor Nagib, depois que ele percebeu que o "soro da verdade" injetado na veia de Dulce n�o surtira o efeito desejado. Al�m dos hematomas, Dulce tamb�m ficou por um per�odo com o corpo parcialmente paralisado. "N�o sei quanto tempo durou a minha primeira sess�o. S� sei que ela acabou quando eu cheguei no meu limite".

Dulce chegou a servir de cobaia para uma aula de tortura. "O professor, diante de seus alunos, fazia demonstra��es com o meu corpo. Era uma aula pr�tica, com algumas dicas te�ricas. Enquanto eu levava choques el�tricos, pendurada no pau de arara, ouvi ele dizer: `essa � a t�cnica mais eficaz'." Quando Dulce come�ou a passar mal, o m�dico Amilcar Lobo foi chamado. Ele a examinou e disse: "ela ainda aguenta". A sess�o continuou. No final da "aula", disseram que ela era irrecuper�vel e iriam mat�-la. Simularam o seu fuzilamento: "levantaram rapidamente o capuz, me mostraram um rev�lver, apenas com uma bala, e ficaram brincando de roleta russa".

Depois de passar tr�s meses no DOI-CODI e um m�s no DOPS, Dulce foi transferida para um pres�dio em Bangu e depois para outro em Recife. No total, ficou presa por um ano e quatro meses. "� muito duro lembrar toda essa situa��o, mas � fundamental para que possamos construir um pa�s mais justo e humano."

A cineasta Lucia Murat, que permaneceu tr�s anos e meio na pris�o, tamb�m relatou momentos de horror no DOI-CODI. Ela tamb�m teve parte do corpo temporariamente paralisado. L�cia tentou o suic�dio duas vezes enquanto esteve presa. "Sofri a pior sensa��o da minha vida. A sensa��o de n�o poder morrer." Al�m das agress�es e dos choques el�tricos no pau de arara, Lucia tamb�m teve baratas espalhadas sobre seu corpo nu. Os torturadores chegaram a colocar uma delas em sua vagina.

Pol�tica de Estado

L�cia disse que eles se comportavam como se estivessem disputando um campeonato. "Eu chorava e pedia pra eles me matarem. Eles riam. Eram donos das nossas vidas e das nossas mortes". Ela relatou que sofreu abusos sexuais de Nagib, algo que ele pr�prio chamava de tortura sexual cient�fica. "Eu ficava nua, com um capuz na cabe�a, uma corda enrolada no pesco�o passando pelas costas at� as m�os, que estavam amarradas atr�s da cintura". Enquanto o torturador abusava de L�cia, ela n�o conseguia se defender. "Se eu movimentasse meus bra�os para me proteger, eu me enforcava, e instintivamente voltava para tr�s". As duas relataram tamb�m abusos cometidos com suas companheiras de cela. "N�o aceitei dar esse depoimento nem por vingan�a nem por masoquismo, mas porque acho fundamental contar essa hist�ria e revelar que foram, sim, praticados crimes de lesa humanidade", disse L�cia.

O presidente da Comiss�o Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, o advogado Wadih Damous, disse que a import�ncia da comiss�o � lembrar �s gera��es, especialmente aos mais jovens, que a tortura j� foi considerada uma pol�tica de Estado. Para o diretor-executivo da Anistia Internacional no Brasil, �tila Roque, as comiss�es da verdade que est�o sendo instauradas t�m o importante papel de chamar a aten��o para os crimes de lesa humanidade cometidos durante a ditadura. "Tudo isso � parte desse exerc�cio de olhar pro passado sem medo, e de saber qual foi o papel do Estado brasileiro como instaurador do terror. Os trabalhos da comiss�o e os desdobramentos que ela provoca v�o colocar a sociedade brasileira, o Estado e as institui��es diante do imperativo da justi�a".


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