Jo�o Valadares
Bras�lia – O atual diretor-adjunto da Ag�ncia Brasileira de Intelig�ncia (Abin), Ronaldo Martins Belham, com acesso direto, pela natureza do cargo que ocupa, a informa��es que ainda n�o vieram � tona sobre desaparecidos pol�ticos da ditadura, � filho do general da reserva Jos� Ant�nio Nogueira Belham. O militar era o chefe do DOI-Codi do Rio de Janeiro na �poca em que o ex-deputado federal Rubens Paiva foi assassinado, em 1971, ap�s ser preso e levado para o departamento. Ao saber da informa��o por meio da reportagem, o filho de Rubens Paiva, o escritor Marcelo Rubens Paiva, afirmou que a rela��o de parentesco entre o n�mero 2 da Abin e o general da reserva causa estranheza e extremo desconforto para a fam�lia. "O governo brasileiro precisa saber o que quer de verdade", disse.
O temor de Marcelo Rubens Paiva � de que, pela fun��o de destaque que Ronaldo Martins Belham ocupa na Abin, ocorra algum tipo de filtragem institucional ou at� obstacula��o de informa��es essenciais que podem ajudar a desvendar a verdade hist�rica em rela��o � morte do pai. O corpo nunca apareceu. A Comiss�o Nacional da Verdade (CNV) j� publicou documento em que atesta que o general Belham recebeu, quando chefiava o DOI-Codi do Rio de Janeiro, dois cadernos de anota��es que pertenciam a Rubens Paiva. O nome de Belham aparece escrito de caneta na folha amarelada como o respons�vel por receber o material. O subcomandante era o major Francisco Demiurgo Santos Cardoso. O documento que desmontou a vers�o do Ex�rcito foi encontrado, no fim do ano passado, pela Pol�cia Civil do Rio Grande do Sul na casa do coronel da reserva do Ex�rcito Julio Miguel Molinas, j� falecido.
A CNV tenta localizar o general da reserva Belham para que ele possa ser ouvido e explicar as circunst�ncias da madrugada de 20 de janeiro de 1971. "Imagine um dos filhos do Joseph Goebbels (ministro da propaganda de Adolf Hitler) com a chave de todos os arquivos de Nuremberg nas m�os. Sei que o general Belham ficou com os cadernos de anota��es do meu pai. H� documentos que comprovam isso. Precisa ser investigado. Causa-me desconforto e estranheza saber que ele (Ronaldo) � filho do general Belham, mesmo que seja isento. Como, numa posi��o de destaque da Abin, ele vai facilitar a revela��o de informa��es secretas que comprometam o pai?", questiona Marcelo Rubens Paiva.
Muitos dos quadros da Ag�ncia Brasileira de Intelig�ncia, criada em 1999, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, s�o militares remanescentes do extinto Servi�o Nacional de Informa��es (SNI). Ronaldo Martins Belham ingressou no SNI na d�cada de 1980, antes da cria��o da Abin e do primeiro concurso do �rg�o, em 1999. Ronaldo Belham chegou ao posto de n�mero 2 da ag�ncia em setembro de 2009, durante o governo Lula. Antes, era chefe da Divis�o de Pessoal da Abin. Ele chegou a ser cogitado para comandar a ag�ncia pela proximidade que o pai tinha com o ministro do Gabinete de Seguran�a Institucional na �poca, Jorge F�lix.
ACERVO DE MAIS DE 1 MILH�O DE P�GINAS
A Abin guardava, apenas em rela��o ao per�odo compreendido entre 1964 e 1990, mais de 132 metros lineares de documentos sobre a ditadura, que englobam mais de 1 milh�o de p�ginas. Ainda existem mais 220 mil unidades de microfichas encaminhadas pela Abin para digitaliza��o no Rio de Janeiro. Todos os documentos foram encaminhados ao Arquivo Nacional, em Bras�lia.
"O sadismo reinava no DOI-Codi do Rio de Janeiro. L�, tinha uma famosa geladeira e at� uma cobra. Era um horror. Como o filho dele (general Belham) est� na ponta da Abin? E n�o estou falando apenas como o filho de Rubens Paiva. Estou falando como um cidad�o brasileiro. N�o queremos revanchismo, mas � preciso que as pessoas venham a p�blico. S�o crimes contra a humanidade que foram praticados", ressalta Marcelo Rubens Paiva.
A reportagem tentou entrar em contato com o general da reserva Belham, mas n�o conseguiu. Uma mulher, que n�o se identificou, atendeu o telefone celular e informou que o militar aposentado estaria viajando. Uma ex-cunhada, que mora no Rio de Janeiro, atestou que Jos� Antonio Nogueira Belham est� vivo, com 79 anos, e mora num apartamento em Bras�lia. Ela disse n�o ter mais contato com ele. A reportagem tamb�m tentou, em v�rias ocasi�es, ouvir Ronaldo Martins Belham por meio da assessoria de imprensa da Abin, mas n�o foi poss�vel. Ele foi informado do conte�do da reportagem.
At� novembro de 2010, o militar ocupava o cargo de vice-presidente da Funda��o Habitacional do Ex�rcito, respons�vel pelo controle da Associa��o de Poupan�a e Empr�stimo, a Poupex. Ele foi exonerado pelo comandante do Ex�rcito, general Enzo Peri, por supostamente ter destratado vi�vas de oficiais mortos no terremoto no Haiti, no in�cio de 2010.
O ex-procurador-geral da Rep�blica Cl�udio Fonteles, que integra a Comiss�o Nacional da Verdade e acompanha de perto o caso Rubens Paiva, informou, por meio da assessoria de imprensa, que n�o falaria sobre o fato de o filho do general Belham ser o diretor-adjunto da Abin. Ele alegou que v�rios documentos ainda est�o sendo investigados.
Na �poca em que a Pol�cia Civil ga�cha localizou pap�is in�ditos na casa de Molina, Fonteles afirmou categoricamente � imprensa que Rubens Paiva foi morto no DOI-Codi do Rio de Janeiro. “A prova documental � muito forte. Ela vem do pr�prio sistema ditatorial militar com a tarja de secreto. Para mim, est� esclarecido. S� falta pontuar quem foi que matou. Quem matou, voc� n�o tenha a menor d�vida, foi o Estado ditatorial militar. Agora, algu�m deu um tiro, algu�m deu socos. S� falta saber o nome”, disse, no in�cio do ano. (Colaborou Adriana Bernardes)
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General da ditadura tem filho na Abin
Militar que chefiou o DOI-Codi na �poca em que Rubens Paiva foi assassinado � o pai do n�mero 2 da ag�ncia de Intelig�ncia
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