Juliana Cipriani
Pol�tico corrupto atr�s das grades, vota��es r�pidas de projetos de lei que respondem a demandas da sociedade, transpar�ncia e redu��o de pre�os no transporte p�blico. Se at� tr�s semanas atr�s isso parecia utopia para os brasileiros, depois da onda de protestos que levou mais de um milh�o de pessoas �s ruas do pa�s, hoje virou realidade. A press�o foi forte e a resposta dos pol�ticos, alvos do grito de insatisfa��o, imediata. Para analistas pol�ticos, o recado, que anunciou uma crise de representatividade, j� foi percebido e � hora de os movimentos evolu�rem para formas mais permanentes de cobran�a. Dessa evolu��o ou n�o, vai depender a continuidade da postura ativa percebida nos �ltimos dias no Executivo, Legislativo e Judici�rio.
Para o cientista pol�tico da Universidade de S�o Paulo (USP) Rubens Figueiredo, a onda de protestos no pa�s, que ganhou for�a a partir do dia 6, quando o Movimento Passe Livre levou 2 mil pessoas �s ruas da capital paulista, foi surpreendente. “Havia uma insatisfa��o latente na sociedade que n�o foi captada por analistas ou institutos de pesquisa. Essas manifesta��es t�m uma vertente econ�mica, porque as pessoas est�o consumindo menos e devendo mais, e o lado dos governos, longe de dar respostas �quilo que faz as pessoas sofrerem.” As respostas, assim como os protestos crescentes, vieram de todo o Brasil. Desde a presidente, que anunciou pactos nas �reas de transporte, educa��o, sa�de, responsabilidade fiscal e o plebiscito para uma reforma pol�tica, at� governadores e prefeitos que reduziram custos de passagens de �nibus (veja quadro).
Para Figueiredo, houve uma chacoalhada institucional. “Nunca um movimento teve resultados t�o r�pidos. Nem na marcha de 1968, nem nas Diretas J� ou no pedido de impeachment do Collor”, avalia. O Legislativo tirou a poeira de propostas que dormiam nas gavetas sem perspectiva de aprova��o. Para que tudo isso ocorresse houve milhares de eleitores com demandas diversas nas ruas, mas tamb�m houve quebradeira de grupos infiltrados nos protestos. “Isso atrapalha, porque a sociedade pode criar resist�ncia contra os movimentos. O povo n�o quer isso”, disse o professor. Segundo ele, os movimentos escolheram pontos simb�licos, como sedes do Executivo e Legislativo, para demonstrar com quem estavam descontentes e a resposta veio. Agora � o momento de tr�gua. “� dif�cil ter um movimento dessa amplitude, com esse �mpeto, defendendo tanta coisa, durante muito tempo. J� est� se acalmando”, afirmou.
Para a professora de Ci�ncias Pol�ticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Helcimara Teles, os movimentos refletem n�o uma crise, mas um problema de v�nculos escassos entre partidos e eleitores, o que leva a organiza��es como essas. “Eles t�m muito potencial criativo de pressionar, mas, por outro lado, n�o conseguem formar uma organiza��o futura, a m�dio prazo, capaz de manter essa fiscaliza��o que se deve ter no sistema democr�tico”, avalia. Ela considera “problem�tico” o fato de parcelas majorit�rias desses manifestantes ter feito uma proposta antipartid�ria. “Trazer uma pauta contra partidos � um risco para a democracia, porque eles s�o parte essencial do sistema.”
O fato de as ruas terem cobrado elementos como transpar�ncia dos poderes p�blicos levou a uma resposta �gil, mas, para Helcimara, ainda n�o � suficiente. “Melhor resposta seria introduzir elementos maiores de participa��o direta que convivam com a democracia representativa, como a introdu��o de plebiscitos e referendos n�o em situa��es excepcionais como hoje, mas que sejam rotineiros. Tamb�m � preciso adotar mais elementos de fiscaliza��o do poder p�blico”, afirma. Um perigo apontado pela professora � que, no Brasil, os movimentos sem l�deres e contra tudo podem resultar na emerg�ncia de candidatos outsiders, ou seja, algu�m que, ocupando um v�cuo institucional, aparece como uma esp�cie de salvador da p�tria. “Em 1989 apareceu o Fernando Collor, como um ca�ador de maraj�s. Agora pode aparecer um ca�ador de mensaleiros. Essa caracter�stica de desencanto sempre favoreceu lideran�as neopopulistas.”
Para a professora, com as respostas do Congresso e Executivo, e as a��es nas esferas estadual e municipal, � hora de os manifestantes sa�rem das ruas. “A resposta foi bastante positiva e v�rias demandas foram votadas com agilidade. Ficar na rua o tempo todo � uma solu��o da Argentina, que n�o � a melhor, fazendo piquete e n�o reconhecendo o espa�o institucional. A classe pol�tica j� mostrou que entendeu o recado”, afirma.
Recado dado
O mesmo pensa o coordenador do N�cleo de Estudos Sociopol�ticos da PUC Minas, Robson S�vio Reis Souza. “A sociedade precisa esperar um pouco a rea��o dos outros poderes. � dif�cil fazer mobiliza��o por tanto tempo, mas o recado est� dado, que a democracia representativa n�o pode se distanciar do que o povo coloca como prioridade”, diz.
Ao questionar os gastos com a Copa das Confedera��es, por exemplo, o povo mostrou que n�o est� satisfeito quando os governos mostram rapidez para construir est�dios que v�o servir a poucos enquanto s�o morosos com pol�ticas fundamentais como as de sa�de, educa��o e seguran�a p�blica. Para Robson S�vio, os protestos mostraram o poder de mobiliza��o da classe m�dia e das redes sociais, mas � preciso evoluir. “O Parlamento s� � pr�-ativo quando percebe que o cidad�o est� monitorando suas a��es. Espasmos de protestos servem para acordar as institui��es, mas o que vai modificar � o processo de acompanhamento sistem�tico”, disse.