
Bras�lia – O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff ontem na abertura da 68ª Assembleia Geral das Na��es Unidas alimentou no Congresso Nacional um cabo de guerra entre a base governista e a oposi��o. Para os advers�rios da petista, foi eleitoreiro. J� os aliados disseram que a presidente marcou posi��o frente �s den�ncias de espionagem norte-americana.
O pr�-candidato do PSDB � Presid�ncia, senador A�cio Neves (MG), disse que o governo n�o deve tratar a defesa cibern�tica pela “�tica do marketing”. “Menos de 10% do or�amento para o setor neste ano foram utilizados, o que demonstra que, apesar do tom grave adotado hoje na ONU, a presidente da Rep�blica e seu governo n�o deram, at� aqui, nenhuma import�ncia a essa quest�o”, atacou.
J� o l�der tucano na C�mara dos Deputados, Carlos Sampaio (SP), disse que Dilma errou ao cancelar a visita de Estado a Washington. “Se quisesse de fato cobrar explica��es com mais veem�ncia, a presidente deveria ter confirmado o encontro com o presidente Obama, em vez de apenas cobr�-lo na ONU.” O senador Jarbas Vasconcelos (PE), do agora ex-aliado PSB, disse que Dilma foi “med�ocre”. “Foi um expediente totalmente eleitoreiro, med�ocre, que envergonha a hist�ria da pol�tica externa brasileira. Foi uma iniciativa ruim para a senhora Dilma Rousseff e seu partido, por�m muito pior, muito mais grave para o Brasil.”
A presidente foi defendida pelo l�der do PT no Senado, Wellington Dias (PI). “Destaco o fato de ela ter criticado ali, perante o presidente dos Estados Unidos da Am�rica – s�o raros os l�deres que t�m coragem de se opor ao presidente do EUA”, ressaltou Dias.
O ministro da Justi�a, Jos� Eduardo Cardozo, que participou de audi�ncia p�blica na C�mara sobre as den�ncias de espionagem, tamb�m saiu em defesa de Dilma. “Ningu�m � respeitado quando n�o se faz respeitar. No passado, houve muita subservi�ncia (na rela��o com Washington). Hoje, n�o”, afirmou.
Cardozo admitiu que o Brasil tem fragilidades na �rea de seguran�a e precisa “avan�ar” para se proteger contra a��es de espionagem. Em defesa do governo, por�m, ele lembrou que outros pa�ses tamb�m se surpreenderam com as den�ncias sobre os norte-americanos, citando Alemanha e M�xico. “Isso � complexo de vira-lata (achar que o sistema de seguran�a do Brasil � pior que o de outros pa�ses). Foi uma surpresa mundial. O sistema do mundo parece debilitado. Temos fragilidades, mas todos os pa�ses parece que t�m”, comparou Cardozo.
Para “avan�ar” no tema, Cardozo defendeu a aprova��o do marco civil da internet – tema abordado tamb�m pela presidente em seu discurso na ONU – e antecipou que o governo prepara uma proposta que trata da prote��o de dados pessoais armazenados em cadastros na rede. “A internet n�o pode se transformar em um instrumento de guerra”, disse.
Durante sua fala inicial, Cardozo pontuou a��es adotadas pelo Planalto para responder �s den�ncias de monitoramento de comunica��es brasileiras pelos Estados Unidos. O ministro destacou a forma��o de grupo t�cnico interministerial para analisar o caso. Ele lembrou ainda a abertura de inqu�rito pela Pol�cia Federal, al�m de duas visitas aos EUA para tratar do assunto, mas reconheceu que os encontros representaram pouco avan�o, o que terminou levando a presidente a suspender a visita de Estados a Washington que ocorreria em outubro.
Ajuda europeia
A CPI da Espionagem do Senado aprovou ontem requerimento em que pedir� apoio da Comunidade Europeia para investigar atividades de espionagem feitas pelos Estados Unidos. A partir de pedido do senador Walter Pinheiro (PT-BA), a inten��o � solicitar o envio de informa��es sobre o acordo firmado entre Estados Unidos e Inglaterra na d�cada de 1990, que supostamente envolveria a constru��o de uma base de espionagem internacional em territ�rio brit�nico. A comiss�o aprovou tamb�m a convoca��o de dirigentes de v�rias companhias telef�nicas, como Telef�nica, GVT, Oi e TIM, al�m da Google Brasil, Facebook Brasil e Microsoft, para saber se houve participa��o das empresas no monitoramento de e-mails e telefonemas pelos EUA no Brasil, al�m de investigar como as intercepta��es
foram feitas.
Repercuss�o internacional
Rep�dio contundente
Com essa express�o, o prestigiado di�rio da capital americana titula sua reportagem sobre o discurso da presidente brasileira, com direito a chamada de destaque na p�gina inicial de sua edi��o on-line. O Post reproduz v�rias passagens da interven��o e ressalta a men��o � espionagem dos EUA sobre comunica��es privadas no pa�s – inclusive as dela pr�pria e da Petrobras – como “infra��o das leis internacionais e afronta ao Brasil”, al�m de “uma viola��o dos direitos humanos e das liberdades civis”. “As atividades de espionagem americanas representam uma amea�a � democracia no mundo, disse Rousseff, que prop�s a regulamenta��o do ciberespa�o pela ONU, para que se assegure a integridade da internet”, afirma o texto.
F�ria brasileira
Tamb�m o di�rio londrino destacou a participa��o de Dilma na abertura da Assembleia Geral como um “duro ataque” � espionagem americana. O Guardian, considerado de orienta��o liberal, viu no discurso da presidente brasileira uma indica��o de que o incidente provocado pelo rastreamento de comunica��es arranhou as rela��es bilaterais. “O discurso furioso de Rousseff foi um desafio direto a Barack Obama, que estava esperando no corredor para fazer o seu pronunciamento, e representa a consequ�ncia diplom�tica mais s�ria, at� o momento, das revela��es feitas pelo ex-consultor da NSA Edward Snowden”, afirma a reportagem.
Atentado � soberania
Na edi��o on-line do maior jornal espanhol, o discurso da presidente brasileira teve destaque na primeira p�gina da edi��o local e foi manchete na edi��o dirigida �s Am�ricas. A reportagem observa que Dilma “em nenhum momento referiu-se de maneira expressa aos EUA, mas foi veemente na hora de denunciar a espionagem internacional”. El Pa�s lembra que o incidente motivou o adiamento da visita de Estado que a presidente faria a Washington em outubro e foi discutido no encontro informal que ela teve com Barack Obama � margem da c�pula do G20, na R�ssia. Quanto � justificativa americana, segundo a qual as opera��es teriam como fim exclusivo o combate ao terrorismo, o jornal conclui que n�o foi o bastante para convencer o governo brasileiro.
Guerra cibern�tica
O ciberespa�o n�o poder ser usado como arma de guerra” foi a passagem da fala de Dilma Rousseff que o principal jornal da Argentina escolheu para o t�tulo de sua reportagem – com uma chamada secund�ria no bloco reservado � abertura da Assembleia Geral. “J� se sabia que a mandat�ria enviaria uma dura mensagem a respeito da espionagem global norte-americana, da qual ela pessoalmente foi v�tima. E assim foi”, diz a reportagem do Clar�n.
Resposta � afronta
Para um dos maiores jornais franceses, o termo escolhido por Dilma para definir o rastreamento de comunica��es pela intelig�ncia americana acompanha o tom da decis�o de cancelar a visita de Estado aos EUA. “A brasileira aproveitou o discurso � Assembleia Geral para denunciar as escutas feitas pela NSA no Brasil como uma viola��o das leis internacionais e uma ‘afronta’”, diz o texto. Segundo o Monde, Dilma “martelou” a tecla de que a alega��o de defesa dos interesses de seguran�a dos EUA “� insustent�vel”.