
Ao longo de seus 89 anos, o ex-governador Miguel Arraes guardou e preservou documentos minuciosa e cuidadosamente. Esse acervo, hoje, narra uma parte importante da hist�ria pol�tica de Pernambuco e do pa�s. S�o mais de 270 mil itens entre correspond�ncias, livros, revistas, brochuras, monografias, discos de vinil, CDs, DVDs, fotografias, reunidos na antiga casa que foi morada do ex-governador no bairro de Casa Forte. Todo o material faz parte do Instituto Miguel Arraes (IMA) e pode se transformar em patrim�nio do estado.
O IMA solicitou ao governo do estado o tombamento do acervo do ex-governador como uma forma de assegurar a sua perpetua��o, preservando a mem�ria de um dos principais l�deres da esquerda do pa�s e possibilitando que pesquisadores e historiadores possam esclarecer fatos da hist�ria atrav�s de documentos e testemunhos que fazem parte do acervo. Um dia depois da data em que Arraes completaria 97 anos, a Funda��o de Cultura de Pernambuco come�a a analisar a cole��o para aprova��o do tombamento.
“No ano que antecede os 50 anos do golpe militar de 1964, o IMA dando continuidade � preserva��o do acervo de Miguel Arraes, que tem uma relevante documenta��o da hist�ria brasileira, v� o tombamento com uma forma de deixar um legado para a hist�ria de Pernambuco e do Brasil”, explicou o advogado e presidente do Conselho Deliberativo do IMA, Ant�nio Campos, neto de Arraes.
Mantido pela fam�lia Arraes, o instituto � dirigido pela vi�va do ex-governador, Magdalena Arraes. Ela conta que a preserva��o dos arquivos foi um movimento natural da fam�lia, dos amigos e dos correligion�rios. “Todos os documentos que existem sobre a trajet�ria pol�tica dele est�o aqui. Se n�o est�o aqui, � porque n�o existem”, comentou. Chama a aten��o o volume de correspond�ncias e documentos do per�odo do ex�lio (1965-1979). Arraes se correspondeu, por exemplo, com v�rias lideran�as de esquerda, como Salvador Allende (Chile), Fidel Castro (Cuba), Luiz Carlos Prestes, Leonel Brizola, Greg�rio Bezerra. “� um acervo rico que revela um peda�o da hist�ria recente de Pernambuco, do Brasil e do mundo. O sentido de preserv�-lo � transmitir para novas gera��es a sua riqueza”, afirmou o secret�rio de Cultura, Marcelo Canuto.

Tr�mite
Nesta segunda-feira, uma solenidade marca o in�cio do processo de tombamento da cole��o do ex-governador. O secret�rio de Cultura, Marcelo Canuto, receber� formalmente o of�cio do IMA solicitando o tombamento do acervo. Nos pr�ximos meses, uma equipe t�cnica da Fundarpe far� uma an�lise do acervo do IMA para a elabora��o de um laudo, que ser� submetido ao Conselho Estadual de Cultura. Se aprovado pelo colegiado, o governador Eduardo Campos (PSB) assinar� o decreto para o tombamento e o acervo de Arraes estar� sob a tutela do estado de forma a garantir sua preserva��o e prote��o. O evento est� marcado para as 8h na sede do IMA, em Casa Forte.
Material dispon�vel para pesquisa
Consciente da import�ncia hist�rica dos acontecimentos em que estava envolvido, o ex-governador Miguel Arraes guardou absolutamente tudo relacionado �s suas atividades pol�ticas, aos acontecimentos do Brasil e do mundo. At� mesmo as cartas que escrevia, principalmente as do per�odo do ex�lio (1965-1979), tinham c�pias para serem arquivadas. Projetos, artigos, a��es e programas de governo, tudo est� dispon�vel para pesquisa no instituto que leva o nome do ex-governador.
H� documentos relacionados ao primeiro cargo p�blico ocupado por Arraes, secret�rio estadual da Fazenda (1947), passando pelos mandatos no Executivo (Prefeitura do Recife entre 1959 e 1962 e governos do estado – 1963-1964, 1987-1990, 1995-1998) e no Legislativo (ele foi deputado estadual por duas vezes na d�cada de 1950 e tr�s vezes federal, em 1982, 1990 e 2002). Ap�s a deposi��o de Arraes do Pal�cio do Campo das Princesas, familiares e amigos se responsabilizaram por preservar os “pap�is” dele no Brasil. O ex-governador, em seu per�odo de ex�lio, continuou a guardar tudo que lhe chegava �s m�os.
O arquivo de Arraes foi retirado da Arg�lia, onde o ex-governador passou os anos de desterro, depois de sua volta ao Brasil. Passou muitos anos na resid�ncia do ex-deputado e amigo M�rcio Moreira Alves, no interior da Fran�a, at� ser enviado ao Recife, onde se juntou com os demais documentos. As caixas da Arg�lia, depois que chegaram ao pa�s, s� foram abertas ap�s o falecimento de Arraes em agosto de 2005. O material sofreu a a��o do tempo e precisou ser recuperado. Ainda hoje, uma equipe trabalha na recupera��o, no restauro, na identifica��o e cataloga��o do material.