Na elei��o mais disputada da hist�ria, a presidente Dilma Rousseff (PT) venceu o senador A�cio Neves (PSDB) por diferen�a de apenas 3,5 milh�es, o equivalente ao eleitorado de Belo Horizonte e Salvador, juntas. Enquanto os candidatos travavam batalha voto a voto, um total de 30,1 milh�es de pessoas deixou de comparecer �s urnas. O n�mero � quase 10 vezes o contigente que decidiu a corrida pelo Pal�cio do Planalto e o equivalente ao maior col�gio eleitoral do pa�s, S�o Paulo, com 31,9 milh�es de eleitores. E mais: representa 21,1% do eleitorado. Nem a campanha do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) “Vem pra Urna” nem toda a press�o que envolveu um pleito indefinido at� os �ltimos momentos da apura��o foram suficientes para reduzir esse percentual, que se manteve dentro da m�dia hist�rica.
Que rumos tomaria a elei��o se esses eleitores tivessem votado � um mist�rio que nem mesmo cientistas pol�ticos conseguem decifrar. “� poss�vel que, se tivesse um comparecimento maior, o resultado fosse diferente, mas isso demandaria boa an�lise de quem n�o foi votar”, afirma o professor do Departamento de Ci�ncias Pol�ticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Manoel Leonardo Santos. “O que importa s�o os votos v�lidos. Por isso, as absten��es nem maculam nem tiram a legitimidade das elei��es”, completa.
Uma das hip�teses levantadas pelo professor � de que, se os faltosos tivessem comparecido �s urnas, Dilma, preferida entre a popula��o mais pobre, teria conseguido vencer com vantagem mais confort�vel. “Tendo a pensar que pessoas com menos recursos s�o aquelas que menos v�o votar. Pessoas com menor escolaridade participam menos eleitoralmente e politicamente. T�m mais dificuldade de coletar informa��es sobre as elei��es. Se fosse para fazer uma aposta, a diferen�a entre Dilma e A�cio seria maior. � o mais prov�vel”, diz Manoel Leonardo.
J� o cientista pol�tico Wagner Pralon Mancuso, professor da Universidade de S�o Paulo (USP), � da opini�o de que “tudo seria poss�vel”. “A diferen�a da Dilma poderia ser maior, A�cio poderia ter ganho as elei��es. Pela l�gica, se as absten��es se distribu�ssem de forma homog�nea, o resultado deveria ser mantido”, afirma. Ele refor�a que h� diversos perfis entre os eleitores faltosos: aqueles desinteressados no processo eleitoral, os que n�o se importam em n�o comparecer, por saber da puni��o pequena, eleitores fora do domic�lio eleitoral, al�m de casos de pessoas que j� morreram e o t�tulo ainda consta no TSE. “H� uma regularidade de um quinto dos eleitores n�o comparecer para votar”, refor�a Wagner.
Mem�ria
Pelo mundo
Na discuss�o sobre absten��es, o professor Wagner tem uma certeza. “Se o voto fosse optativo, esse percentual aumentaria”, refor�a. Em pa�ses com o voto facultativo, como o Chile, o �ndice de absten��o � maior. No segundo turno das �ltimas elei��es presidenciais, em 2013, em que Michelle Bachelet se reelegeu, menos de 40% dos chilenos foram �s urnas. Em Portugal, 53,4% da popula��o n�o votou no �ltimo pleito, em 2011, que consagrou a reelei��o de An�bal Cavaco Silva. J� na Argentina, onde o voto � obrigat�rio, a absten��o foi de 20,6% nas �ltimas elei��es presidenciais, em 2011, quando Cristina Kirchner foi reeleita.