Bras�lia – Ao assumir o comando da C�mara dos Deputados, um dos tr�s principais candidatos ter� a miss�o de presidir a Casa em meio ao turbilh�o de den�ncias reveladas pela Opera��o Lava-Jato, que investiga um esquema bilion�rio de corrup��o. Arlindo Chinaglia (PT-SP), Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ou J�lio Delgado (PSB-MG) vai precisar de articula��o pol�tica para lidar com as cita��es que envolvem pelo menos 40 pol�ticos. Mais que isso. Ter� que lidar com uma poss�vel crise no Pal�cio do Planalto, que reduz o or�amento para conter as despesas e fazer o Brasil voltar a crescer.
Com perfis bem diferentes – um mais retra�do, outro mais falante e um terceiro mais arrogante –, os tr�s candidatos podem causar reviravoltas �s v�speras da elei��o, marcada para as 18h de 1º de fevereiro, um domingo. “Se somados os votos que cada candidato diz que tem, voc� contabiliza uns 700 parlamentares”, ironiza um petista. Assim, a defini��o deve mesmo ser revelada s� ap�s ser encerrada a vota��o. Confira quem � quem na disputa.

Ficha t�cnica
Nome: Arlindo Chinaglia Junior
Idade: 65 anos
Forma��o: m�dico
Cargos: Presidiu o Sindicato dos M�dicos e a CUT de S�o Paulo, al�m de ter sido vice-presidente da Federa��o Nacional dos M�dicos. Foi presidente da C�mara e l�der do PT e do governo na C�mara
Mandatos: deputado federal desde 1995
Patrim�nio: Ao TSE, declarou possuir R$ 1,2 milh�o para a �ltima elei��o
O trunfo do Planalto na disputa
Paulista da pequena Serra Azul, o deputado federal Arlindo Chinaglia J�nior (PT) se fez conhecido pelo seu jeito interiorano de pol�tico reservado, retra�do, centrado e pragm�tico. “Ele pode at� discordar de uma quest�o apresentada pelo Planalto, mas jamais vai expor suas posi��es contr�rias para outras pessoas. Tem posi��es heterodoxas, mas faz um discurso pragm�tico, de acordo com as conveni�ncias”, definiu um aliado pol�tico. Tal tra�o fez com que fosse considerado nome de consenso do partido para disputar, pela segunda vez, a presid�ncia da C�mara dos Deputados.
Ex-presidente da C�mara, ex-l�der de governo e atual vice-presidente da Casa, Chinaglia � a aposta do Planalto para garantir um primeiro bi�nio mais tranquilo ao segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. “Ele n�o vai ser uma surpresa. � um presidente que todo mundo sabe que postura vai ter. N�o vai ser governista de forma a anular a oposi��o nem vai usar o cargo para fazer oposi��o. O que mais favorece o Arlindo � a seguran�a de ser um presidente sem sustos, sem sobressaltos”, analisou um deputado petista. Por�m, a passagem conturbada dele pelo cargo em 2007 amea�a atrapalh�-lo.
“Todo mundo conseguiu reclamar dele”, lembrou outro parlamentar que presenciou a gest�o do paulista na Casa. Na avalia��o de deputados, Chinaglia era severo e �spero ao tratar determinados assuntos. “Ele n�o � aquela pessoa que faz populismo para agradar”, detalhou outro congressista. O vice-presidente nacional do PT, deputado federal Jos� Guimar�es (CE), o considera “o nome certo para a hora certa”. “A C�mara est� precisando de menos espet�culo, de uma pessoa comedida, e ele tem esses predicados”, avaliou o ex-l�der do PT na Casa.
“Ele far� uma gest�o que viabilizar� o di�logo, e n�o uma gest�o que gerar� crise institucional”, refor�ou o tamb�m deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP). Petistas contam com o parlamentar para fazer uma calmaria na C�mara. “O bom juiz de futebol � aquele que voc� n�o se lembra dele quando termina o jogo porque as grandes atra��es foram os jogadores. Ele tem de ser um presidente sem nenhum grande erro, sem atua��o espalhafatosa. Se ele for assim, ser� eficaz para o Congresso e j� � uma grande vit�ria para o pa�s”, resumiu outro parlamentar.

Ficha t�cnica
Nome: J�lio Cesar Delgado
Idade: 48 anos
Forma��o: consultor e advogado
Cargos: l�der do PSB na C�mara, foi quarto secret�rio da Mesa Diretora entre 2011 e 2013
Mandatos: deputado federal desde 1999
Patrim�nio: na �ltima elei��o, declarou ao TSE bens no valor de R$ 921 mil
�tica, a promessa de campanha
Despontando como uma terceira via na disputa � presid�ncia da C�mara, o deputado federal J�lio Delgado (PSB-MG) pretende repetir o desempenho de 2013, quando alcan�ou 165 votos contra os 271 de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) mesmo sem contar, naquela �poca, com o apoio do partido socialista. Mais novo deputado na corrida, aos 48 anos, e com a relatoria de duas perdas de mandato de parlamentares no curr�culo, o mineiro de Juiz de Fora trabalha para convencer os colegas de que tem compet�ncia para presidir a Casa e tenta tirar a impress�o de que tem perfil de “carrasco” de pol�ticos.
O t�tulo acabou refor�ado ap�s apresentar parecer no Conselho de �tica da C�mara que pedia a perda dos direitos pol�ticos de Andr� Vargas (ex-PT-PR), que culminou na cassa��o dele. Vargas era acusado de manter rela��es com o doleiro preso pela Pol�cia Federal Alberto Youssef. Ele nega. Antes dele, em 2005, Delgado havia trabalhado em um dos mais importantes processos da hist�ria da C�mara: a cassa��o do ex-deputado federal Jos� Dirceu (PT-SP), que serviu de base para o procurador-geral da Rep�blica, � �poca, Roberto Gurgel, denunciar 40 pessoas por crimes como corrup��o, lavagem de dinheiro, forma��o de quadrilha, entre outros, no esquema conhecido como mensal�o do PT.
“Ao pedir voto a um deputado, ouvi dizer que hesitava votar em mim porque eu era o deputado que cassava pol�ticos. Questionei o que ele faria se estivesse no meu lugar, relatando casos como aqueles, e ouvi uma resposta de compreens�o”, contou o mineiro, lembrando que o deputado entendeu que as cassa��es eram necess�rias. Advogado, Delgado se orgulha de ter cuidado da �tica no Parlamento. “Como acredito que a maioria dos parlamentares � �tica, ele tem muita chance de ser eleito. A postura �tica dele � uma qualidade, n�o um empecilho” , avaliou a senadora L�dice da Mata (PSB-BA).
Conciliador e com perfil de lideran�a, o filho do ex-deputado mineiro Tarc�sio Delgado conseguiu reunir pol�ticos de diferentes idades e perfis no famoso futebol dos deputados. At� mesmo Tiririca (PR-SP), que pouco interage com parlamentares no plen�rio do Congresso, participa da partida, que tem direito a bate-papo com churrasco e cerveja para relaxar ap�s a rotina de trabalho. “J�lio tem lideran�a. Est� no quarto mandato, mas tem pol�tica no sangue. � com esse perfil que vai conseguir seus votos”, comentou um congressista.

Ficha t�cnica
Nome: Eduardo Cosentino da Cunha
Idade: 56 anos
Forma��o: economista e radialista
Cargos: presidente da Telerj, subsecret�rio de Habita��o do governo do Rio e presidente da Companhia Estadual de Habita��o do Rio
Mandatos: eleito suplente de deputado estadual pelo PPB (antigo PP) em 1998, assumiu entre 2001 e 2002. Deputado federal desde 2003
Patrim�nio: declarou ao TSE bens no valor de R$ 1,6 milh�o para a �ltima elei��o
Favorito, mas citado na Lava-Jato
Apontado como favorito na disputa pela presid�ncia da C�mara, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sofreu um rev�s, na semana que passou, com den�ncias de participa��o no esquema de corrup��o investigado pela Opera��o Lava-Jato. Amea�ado, considerou as acusa��es uma retalia��o pol�tica para tentar derrub�-lo �s v�speras da elei��o que poder� lhe render o comando da C�mara. Alegou serem insinua��es fr�geis, sens�veis, sem provas. Por�m, aliados defendem que Cunha sair� fortalecido deste epis�dio.
De pavio curto, como definem os mais pr�ximos, o l�der do PMDB ficou enfurecido com as cita��es. Por�m, vestiu a roupagem de pol�tico articulador e continuou a campanha. “Ele � intelig�ncia pura”, elogiou o deputado L�cio Vieira Lima (PMDB-BA) sobre o poder de articula��o do colega. Congressistas admiram a capacidade do candidato de entender de projetos, do Regimento da C�mara e de cumprir promessas. “Uma das virtudes dele � a palavra. Se ele fecha o acordo, ele cumpre”, acrescentou Lima.
Foram esses acordos selados durante a campanha eleitoral que garantiram o t�tulo de preferido na corrida � presid�ncia. Evang�lico, casado e pai de quatro filhos, Cunha n�o tem problema em conseguir dinheiro. Economista, ajudou a intermediar financiamentos eleitorais para colegas na C�mara. Por�m, atr�s da intelig�ncia h� um l�der arrogante e truculento, que coleciona uma legi�o de advers�rios e desafetos. “Ele � rancoroso e guarda m�goa. Pior, prepara para se vingar no momento mais apropriado”, lembrou um especialista. Cunha admite: “Sou uma pessoa que tem opini�o. Quem age assim gera controv�rsias. Quem gera controv�rsias ganha admiradores e inimigos. Faz parte”, minimizou.
A vit�ria do economista na C�mara pode representar uma derrota no Planalto. Parlamentares brincam que o l�der – que comandou um bloc�o de 250 deputados em 2014 – tira o sono da presidente Dilma Rousseff. Um pouco do exemplo a ser seguido foi apresentado ainda durante a MP dos Portos, em maio passado, quando sangrou o governo ao longo de 40 horas, na mais longa vota��o da C�mara. Em contrapartida, mostrou que sabe ceder ao ajudar o Planalto a aprovar a proposta que alterou a meta fiscal. “Se Eduardo vencer, cada projeto ser� um di�logo. N�o tem mais piloto autom�tico. N�o ser� uma rela��o de submiss�o e o Pal�cio vai ter que conversar para cada aprova��o”, avaliou um congressista.