


A segunda rodada de manifesta��es contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) levou ontem milhares de mineiros � Pra�a da Liberdade, em Belo Horizonte, pedindo, entre outras demandas, o impeachment da petista e a implementa��o de leis mais rigorosas para a puni��o de pol�ticos corruptos no Brasil. Durante toda a manh� e in�cio da tarde, eles levantaram bandeiras, cantaram o hino nacional e gritaram “Fora, PT”. Na capital mineira, segundo a Pol�cia Militar, 5 mil pessoas participaram do ato. De acordo com os organizadores, foram 20 mil. O grupo come�ou a concentra��o �s 9h na Pra�a da Liberdade e, ao meio-dia, fizeram uma passeata at� a Pra�a da Esta��o, onde o movimento se encerrou, �s 14h. O protesto ocorreu em clima pac�fico e reuniu v�rias gera��es, que foram mais uma vez �s ruas demonstrar insatisfa��o com o cen�rio pol�tico brasileiro.
As faixas afixadas no coreto da pra�a j� dava davam uma dimens�o da diversidade de demandas. Al�m de “demitir os corruptos do PT”, quem foi ao protesto pediu auditoria nos bancos do Brasil, BNDES e Caixa Econ�mica Federal e at� da urna eletr�nica. Nos carros de som, os manifestantes bradaram contra um suposto conchavo dos pa�ses latino-americanos para instaurar o comunismo no Brasil. “Estamos aqui para gritar contra esse bolivarianismo”, dizia um dos l�deres ao microfone. Houve tamb�m uma pequena turma que pediu interven��o militar.
Um grupo de manifestantes se organizou para colher assinaturas em defesa de um projeto de lei de iniciativa popular que transforma a corrup��o em crime inafian��vel, proposta que teve grande ades�o. Uma fila imensa para a assinar o texto se formou pr�ximo ao coreto. Quem tamb�m aproveitou para colher assinaturas foram os integrantes do Partido Militar Brasileiro (PMB), que esperam com elas regularizar a legenda junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda este ano. Apesar do nome, os organizadores do partido em Minas afirmaram ser contra a interven��o militar ou mesmo o impeachment da presidente Dilma. “Nosso objetivo � o combate � corrup��o e �s pol�ticas de aproxima��o com regimes comunistas, como Cuba e Venezuela”, afirmou o advogado Rafael Campos de Oliveira, 32 anos.
Para o consultor Fran�ois Moreau, de 57 anos, que levou seu filho Lucas, de 7, para a Pra�a da Liberdade, o Brasil vive um momento importante em sua hist�ria pol�tica e as manifesta��es de rua servem como aprendizado para as novas gera��es. “Temos quest�es essenciais no debate pol�tico atual e que as pessoas querem respostas. Por exemplo, as doa��es de campanha � presidente tiveram liga��es com atos de subornos e pagamentos de propinas?”, questionou o consultor. Fran�ois fez quest�o de levar o filho dessa vez “para que ele entenda a import�ncia de uma popula��o mobilizada e ativa na vida pol�tica de seu pa�s.”
O casal Elisa e Jos� Geraldo compareceu � pra�a dizendo querer o melhor para o Brasil. “Foram 12 anos de retrocesso total. Tenho saudade de quando as crises do Itamar (ex-presidente Itamar Franco) eram por causa de uma mulher sem calcinha ou de um fusquinha. Agora a coisa mais leve que temos � gente roubando R$ 1 bilh�o”, desabafou o engenheiro Jos� Geraldo, que levou tamb�m os cachorros Duque e Pretinha com bandanas do Brasil. Sobrou at� para o governador Fernando Pimentel (PT). A professora da rede estadual Lia Costa, 40 anos, que diz ganhar um sal�rio l�quido de R$ 1.517, empunhou um cartaz perguntando ao petista cad� o aumento da categoria prometido em campanha. “At� agora nada”, afirmou. Mas Lia esteve no protesto tamb�m contra Dilma e o PT.
Assim como na manifesta��o de 15 de mar�o, ao deixar a Pra�a, os manifestantes usaram as grades do Pal�cio da Liberdade como espa�o para colar cartazes e faixas usadas durante o protesto. Pouco depois de 13h, as grades da frente e nas laterais da sede do governo mineiro estavam praticamente tomadas com cartazes que pediam o impeachment de Dilma.
CAMINHADA Os carros de som, contratados pelos organizadores dos movimentos Vem Pra Rua, Patriotas, Basta e Brasil Livre tocaram o hino nacional e m�sicas que se tornaram trilhas de protestos, como Que Pa�s � Este, do Legi�o Urbana, e Brasil, mostra sua cara, de Cazuza. Durante a passeata, que come�ou na Rua Gon�alves Dias, os manifestantes convocaram moradores dos pr�dios para se juntar ao protestos. Alguns penduraram bandeiras do Brasil nas janelas dos apartamentos e aplaudiram os manifestantes, que respondiam festivamente. Outros, por�m, colocaram bandeiras e camisas vermelhas nas sacadas, em defesa da presidente Dilma e foram hostilizados enquanto a passeata atravessou o Centro. “A nossa bandeira jamais ser� vermelha”, respondiam os manifestantes, que tamb�m gritavam “pula” e os chamavam de “bandidos”.
Os primeiros manifestantes que atravessaram o cruzamento da Esp�rito Santo com Timbiras e �lvares Cabral, na Regi�o Central da capital mineira, enfrentaram a ira de uma moradora de rua que vive sob a marquise daquela esquina. Cercada com seus 16 c�es, ela tapava os olhos dizendo n�o acreditar no que estava presenciando. Raivosa, fez seu protesto particular: abaixou a cal�a e mostrou ao grupo que descia a Esp�rito Santo.
“Estou aqui como pai de fam�lia, lutando contra essa falta de seguran�a em que vivemos, essa completa incompet�ncia que s� defende a minoria”, criticou o empres�rio Reinaldo Quintela. Insatisfeito com os rumos da gest�o do Cefet-MG, o conselheiro da institui��o incorporou um personagem durante a manifesta��o. Com uma m�scara de burro, levantou a placa “Votei nela, sou burro, mas amo o Brasil. Adeus PT. Fora, Dilma”.
Para o vendedor ambulante Roberto Peixoto a satisfa��o ou n�o com o governo ficou em segundo plano. Ele nem � contra a atual administra��o, mas n�o queria desperdi�ar a chance de faturar alguns trocados. Na semana passada dedicou o tempo para produ��o de 1,2 mil faixas amarelas, gravadas “Fora, Dilma” em brocal verde. Vendeu cada uma a R$ 5. “Espero faturar um pouco”, disse.
Pol�ticos
Apesar do car�ter apartid�rio, alguns pol�ticos participaram do protesto. Durante toda a manh� houve expectativa de que o senador A�cio Neves (PSDB), que estava na capital mineira, comparecesse � manifesta��o. Aliados n�o confirmavam nem desmentiam a informa��o. Quase ao final do ato, no entanto, a assessoria dele disse que o tucano n�o iria. O presidente estadual do PSDB, deputado Marcus Pestana, que estava na pra�a, disse que as oposi��es a Dilma devem dialogar com os grupos que se organizaram para ir �s ruas. “Queremos abrir um canal de di�logo com esses movimentos, mas n�o como o PT faz, com objetivo de aparelhar e controlar movimentos sociais, como fez com a CUT e o MST, e sim discutir as propostas para um pa�s melhor”, disse o tucano. A presidente do PPS de Minas Gerais, Luzia Ferreira, disse que seu partido quer a apura��o dos crimes de corrup��o e puni��o dos culpados. “O fato mais relevante � ver as pessoas nas ruas dando um basta. Isso mostra o amadurecimento da nossa democracia”, avaliou.