
Nova York - A uma plateia de 1.200 pessoas reunidas em um jantar de gala nessa ter�a-feira, 12 em Nova York, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que os avan�os constru�dos no Brasil a partir da Constitui��o de 1988 pareciam "desfazer-se no ar" nos �ltimos anos. Defendendo que o pa�s se guie por "uma lanterna na proa, e n�o na popa", o tucano disse esperar que os caminhos percorridos at� hoje "n�o se percam".
Para Fernando Henrique, essa "constru��o" de d�cadas foi feita por gera��es e n�o permite que se diga "nunca neste pa�s antes de mim fez-se tal e tal coisa" - uma refer�ncia ao bord�o que marca os discursos de seu sucessor, o petista Luiz In�cio Lula da Silva. "Um pa�s n�o se constr�i sen�o pondo tijolo sobre tijolo, obra de gera��es."
FHC foi um dos dois homenageados em jantar oferecido no hotel Waldorf-Astoria pela C�mara de Com�rcio Brasil-Estados Unidos em Nova York. Desde 1970, a entidade d� o pr�mio Pessoa do Ano a um brasileiro e a um americano que atuaram pela melhoria nas rela��es entre os dois pa�ses. O outro homenageado foi o ex-presidente Bill Clinton, cujo mandato coincidiu com grande parte do governo do tucano. O evento de ontem foi o mais concorrido das 45 edi��es do pr�mio concedido pela c�mara, que re�ne 450 empresas dos dois pa�ses.
Em seu discurso de agradecimento, o ex-presidente preferiu n�o se referir aos casos de corrup��o que afetam o governo petista, aos quais se referiu como pr�ticas "n�o republicanas". Disse que preferia "se calar" por estar no exterior.
Sem mencionar o nome da presidente Dilma Rousseff, o tucano criticou a pol�tica econ�mica do primeiro mandato da petista por manter medidas antic�clicas adotadas em resposta � crise de 2008. "O governo interpretou o que era pol�tica de conjuntura como um sinal para fazer marcha � r�", observou. "Paulatinamente fomos voltando � expans�o sem freios do setor estatal, ao descaso com as contas p�blicas, aos projetos megal�manos que j� haviam caracterizado e inviabilizado o �xito de alguns governos do passado."
O discurso caiu bem em uma plateia de tucanos, como os senadores A�cio Neves (MG) e Jos� Serra (SP) e o governador de S�o Paulo, Geraldo Alckmin, al�m de simpatizantes do partido. Entre os pol�ticos n�o tucanos, estava o ex-senador Jos� Sarney (PMDB).
Do setor financeiro, estavam os presidentes do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi; do Ita� Unibanco, Roberto Setubal; e do BTG Pactual, Andr� Esteves, al�m de Jos� Olympio, do Credit Suisse, e do presidente do conselho do Ita� Unibanco, Pedro Moreira Salles. Os empres�rios Rubens Ometto e Jos� Lu�s Cutrale tamb�m foram convidados para o jantar, que teve wrap de salm�o defumado e cherne com camar�es e aspargos e ingressos a partir de US$ 1 mil.
Quando o homenageado subiu ao palco, ouviu-se um grito: "Volta, presidente". O publicit�rio Nizan Guanaes foi na mesma linha em seu discurso. "Temos saudades de voc�, presidente", disse, sob aplausos.
Para Clinton, FHC est� entre os quatro ou cinco l�deres mais extraordin�rios que conheceu. "Ele era a pessoa certa para o seu tempo. Ele � a pessoa certa para qualquer tempo."
Pol�tica externa
Fernando Henrique fez a primeira parte do discurso em ingl�s e retornou ao portugu�s quando falou de quest�es brasileiras. O aplauso mais longo veio ao dizer: "Perdi em v�rios momentos a popularidade, nunca a credibilidade".
O ex-presidente criticou a omiss�o do governo brasileiro diante de viola��es de "pr�ticas democr�ticas" na Venezuela e atacou o que considera uma t�mida repulsa ao terrorismo. "N�o h� sequer como pensar em negociar com quem exibe as cabe�as cortadas dos 'infi�is'", declarou, em refer�ncia indireta ao discurso de Dilma na Assembleia-Geral da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) do ano passado, no qual ela defendeu o di�logo para solu��o da crise gerada pela emerg�ncia do Estado Isl�mico.
"Se quisermos participar da mesa decis�ria do mundo, temos de nos comprometer com os valores democr�ticos e dar-lhes consequ�ncia", afirmou FHC. Para ele, em um mundo globalizado n�o h� lugar para a "mudez solid�ria" em nome da autodetermina��o.
Ao mesmo tempo em que condenou a atual pol�tica externa brasileira, FHC criticou a inger�ncia e a busca de hegemonia pelos Estados Unidos. Segundo ele, s�o tra�os que come�aram a ser modificados na gest�o de Clinton e prosseguem com Barack Obama em tentativas de acordo nuclear com o Ir� e reatamento de rela��es diplom�ticas com Cuba.