Bras�lia, 05 - O volume de recursos p�blicos desviados no Pa�s fez surgir uma sofisticada ind�stria de lavagem de dinheiro a servi�o de pol�ticos, empres�rios e servidores p�blicos. A lavanderia brasileira tem hoje estrutura profissional, com m�todos cada vez mais dif�ceis de serem descobertos. Na avalia��o de investigadores, os crimes contra a administra��o p�blica direcionam mais recursos sujos para a lavagem que o tr�fico de drogas - que tradicionalmente movimenta somas expressivas e sempre desafiou as autoridades de combate a il�citos.
S� nos inqu�ritos em curso a Pol�cia Federal apura, atualmente, desvios de R$ 43 bilh�es dos cofres da Uni�o. Desse total, R$ 19 bilh�es se referem �s perdas da Petrobras investigadas na Opera��o Lava Jato. O montante � o triplo do admitido at� agora pela estatal. O valor recuperado ou bloqueado somente nessa opera��o �, por ora, de R$ 2,5 bilh�es - oito vezes mais que o valor de bens apreendidos de traficantes em todo o ano passado.
�O dinheiro sujo hoje no Brasil n�o � s� droga, � principalmente desvio de recursos p�blicos, porque � muito f�cil. � bi (bilh�o), bi e bi. A lavagem � assustadora�, diz um dos chefes do combate � corrup��o na Pol�cia Federal. Estimativa da ONU divulgada em 2012 indica que, considerando todas as esferas de governo, o desvio de recursos p�blicos j� chega a R$ 200 bilh�es por ano no Pa�s.
Para o diretor do Departamento de Recupera��o de Ativos e Coopera��o Jur�dica Internacional (DRCI) do Minist�rio da Justi�a, Ricardo Saad, essa constata��o � resultado da mudan�a de foco. �Antes tinha-se a percep��o de que era o tr�fico (que mais lavava dinheiro); hoje as autoridades est�o mais voltadas em combater a corrup��o. O n�mero de processos est� muito nivelado.�
Complexidade. Nas �ltimas duas semanas, o Estado ouviu 15 autoridades que atuam em casos de corrup��o sobre os novos mecanismos utilizados para reciclar as riquezas obtidas por organiza��es criminosas e dar a elas fachada legal. Para delegados, procuradores, ju�zes e respons�veis pelo setor de intelig�ncia financeira, essa arte ficou mais complexa. �Tudo ocorre no mundo das sombras. Mas, para ambos os crimes, as cifras s�o expressivas, considerando apenas os casos conhecidos�, disse o juiz federal S�rgio Moro, que atua na Lava Jato.
De meros operadores do mercado clandestino de c�mbio, doleiros viraram �bancos� de dinheiro sujo e especialistas em gerir o caixa 2 de empres�rios corruptores. Bancos internacionais oferecem a clientes VIP produtos para ocultar suas fortunas no exterior, seja qual for a origem. O dinheiro das quadrilhas brasileiras se desloca de tradicionais para�sos fiscais na Europa e no Caribe para destinos na �sia e Oceania, cujas autoridades n�o t�m tradi��o de colaborar com os investigadores brasileiros.
Principalmente em casos de corrup��o, que envolvem a blindagem de pol�ticos e altos funcion�rios p�blicos, as organiza��es criminosas contratam profissionais altamente especializados, os chamados �gatekeepers� (porteiros ou �abridores de portas�), como consultores financeiros, contadores e advogados. A tarefa � organizar as opera��es financeiras complexas para movimentar o dinheiro de origem il�cita e criar estruturas societ�rias para ocultar a real propriedade dos valores.
�Terceiriza��o�. �Uma das caracter�sticas da lavagem de dinheiro moderna � a profissionaliza��o, outra � a complexidade, e outra, a internacionalidade. Essas pessoas, como o (doleiro Alberto) Youssef, s�o lavadores de dinheiro terceirizados�, afirma o procurador da Opera��o Lava Jato Deltan Martinazzo Dallagnol. Ele explica que os criminosos de colarinho branco est�o dispostos a pagar altas comiss�es por uma opera��o supostamente indetect�vel.
Em depoimentos prestados em regime de dela��o premiada na Lava Jato, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobr�s Paulo Roberto Costa disse que, ao dividir as propinas milion�rias do esquema na estatal, 60% dos valores ficavam com partidos pol�ticos e 20% cobriam custos, como a montagem de empresas de fachada, o pagamento de tributos, a emiss�o de notas frias e o pagamento de �gatekeepers�. Os outros 20% eram divididos entre ele pr�prio e o doleiro Alberto Youssef. �Se voc� for pensar, ningu�m precisava de Youssef ou de operador. Mas eles entram como catalisadores, para facilitar a lavagem�, acrescenta o procurador.
Tecnologia. Novas formas de �reciclar� dinheiro sujo est�o surgindo com a inova��o tecnol�gica. � o caso das moedas virtuais, como as �bitcoins�, e dos meios de pagamento como cart�es pr�-pagos, formas f�ceis de fazer transitar fortunas sem chamar a aten��o. �S�o eles (os criminosos) correndo na frente e n�s atr�s�, diz um dos chefes do combate � corrup��o da Pol�cia Federal. O que n�o significa que m�todos arcaicos tenham sido abandonados.
Um outro dirigente da corpora��o faz uma autocr�tica: �As pessoas tamb�m utilizam as estruturas mais simples porque est� correndo frouxo. A repress�o do Estado n�o est� sendo a contento para as pessoas deixarem de faz�-lo�.
O diretor-geral de Combate ao Crime Organizado da Pol�cia Federal, Oslaim Santana, afirma que o Brasil tem feito nos �ltimos anos acordos com outros pa�ses para receber informa��es sobre recursos desviados da administra��o p�blica, escondidos no exterior, em troca de fornecer dados sobre organiza��es internacionais de tr�fico de drogas. �O que nos interessa, o que mais aflige a popula��o brasileira, � a corrup��o. Eu digo a eles: �Eu combato o tr�fico internacional, mas preciso saber quais s�o os brasileiros que t�m dinheiro l� fora�. Ingleses, franceses, americanos come�aram a repassar reportes (relat�rios) a partir disso�, diz.
�Li��o�. Na avalia��o do secret�rio nacional de Justi�a, Beto Vasconcelos, �n�o h� afrouxamento, mas endurecimento da atua��o do Estado� no combate ao crime. Ele cita como exemplo a cria��o de �rg�os de intelig�ncia financeira, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a SuperReceita e o pr�prio Departamento de Recupera��o de Ativos e Coopera��o Jur�dica Internacional do Minist�rio da Justi�a.
Tem ainda o fator sorte: �Uma coisa que a gente aprende � que n�o existe segredo eterno. Sempre vai ter algu�m que vai contar, um desentendimento no grupo criminoso e, sobretudo, a t�cnica do ex: ex-mulher, ex-s�cio, ex-empregado.� As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.