Bras�lia, 05 - A Pol�cia Federal deflagrou uma opera��o para reprimir a m�fia que ret�m cart�es do Bolsa Fam�lia nas cidades do Alto Solim�es, no Amazonas. Um grupo de 20 agentes recolheu, ao longo da semana passada, cart�es de benefici�rios ind�genas do programa social que estavam em poder de nove comerciantes de Atalaia do Norte, munic�pio a 1.350 quil�metros por via fluvial de Manaus. O n�mero de documentos apreendidos ainda est� sendo contabilizado. A pol�cia recolheu tamb�m anota��es de vendas, registros de senhas, cadernos de apontamentos de d�vidas, comprovantes de saque e extratos banc�rios.
O mandado de busca e apreens�o dos cart�es foi expedido pela Justi�a Federal em Tabatinga. Nos pr�ximos dias, o delegado federal Vin�cius Ferreira, coordenador da opera��o, ouvir� os comerciantes envolvidos no esquema. Eles poder�o ser indiciados e responder a processos por crimes de apropria��o ind�bita, estelionato em detrimento de institui��es financeiras e furto. As investiga��es continuam em outros munic�pios com predom�nio da popula��o ind�gena. "A Pol�cia Federal vai coibir essa pr�tica que desvirtua a proposta do programa social do governo", afirmou Vin�cius Ferreira. O delegado pretende ouvir ainda os ind�genas que foram v�timas do grupo.
O opera��o foi posta nas ruas ap�s semanas de investiga��o em Atalaia do Norte. A pol�cia j� tem ind�cios de que o crime de reter os cart�es ocorre tamb�m nas demais cidades amazonenses da regi�o da tr�plice fronteira do Brasil com a Col�mbia e o Peru. As fam�lias entregam inclusive as senhas para os comerciantes. Eles mesmos v�o � casa lot�rica retirar o dinheiro do benef�cio e fazem o acompanhamento da movimenta��o das contas.
'Sistema do barrac�o'
As d�vidas das fam�lias beneficiadas pelo programa, por�m, s� aumentam. Varney da Silva Tavares Kanamari, presidente da Associa��o dos Kanamaris do Vale do Javari, afirma que os comerciantes inflam os pre�os dos produtos aliment�cios para garantir o controle dos "parentes" que moram nas aldeias. Os comerciantes, por sua vez, argumentam que ret�m os cart�es como garantia de pagamento de d�vidas. � o velho "sistema do barrac�o" do come�o do s�culo XX: o dono de seringal fornecia alimentos e outros produtos para seus empregados que, diante do aumento da d�vida, n�o podiam deixar o trabalho sob pena de tortura e morte.
A hist�ria da m�fia dos cart�es do Bolsa Fam�lia em Atalaia do Norte foi contada no caderno especial e em multim�dia para a internet Favela Amaz�nia, um novo retrato da floresta, publicado em 5 de julho pelo Estado. Por meio de textos, v�deos, fotografias e �udios, o jornal mostrou comerciantes que retinham cart�es do Bolsa Fam�lia e da Previd�ncia. O munic�pio tem o terceiro pior �ndice de Desenvolvimento Humano do Pa�s e apresenta elevados �ndices de desnutri��o e morte de crian�as. Fam�lias v�timas do esquema relataram que n�o acompanham a movimenta��o da conta do benef�cio. A m�fia tinha apoio de casas lot�ricas.
Antes da publica��o da reportagem, a reportagem apresentou tr�s v�deos de comerciantes que retinham cart�es para a ministra do Desenvolvimento Social e Combate � Fome (MDS), Tereza Campello. Respons�vel pelo programa Bolsa Fam�lia, ela demonstrou indigna��o com o "crime" praticado pelo com�rcio do munic�pio e encaminhou a den�ncia e apura��es feitas depois por sua equipe para a Pol�cia Federal, em Bras�lia.
Migra��o
No Pa�s, 133.161 fam�lias ind�genas recebem o Bolsa Fam�lia. O programa levanta pol�micas no Alto Solim�es. Beto Marubo, do movimento ind�gena da regi�o, avalia que o benef�cio incentiva a migra��o de fam�lias do Territ�rio Ind�gena do Vale do Javari, �rea do tamanho do Estado de Santa Catarina, para a regi�o urbana em Atalaia do Norte. "Os programas sociais do governo n�o entram nas aldeias", ressalta. Ele observa que para sacar o dinheiro do Bolsa Fam�lia, os �ndios precisam fazer viagens de canoa de at� duas semanas at� o centro da cidade. Depois, n�o t�m dinheiro para pagar o combust�vel da volta.
Alguns �ndios conseguiram recuperar o cart�o, como o casal Maria Rodrigues e Raimundo Kanamari, de Atalaia do Norte.
A partir da reportagem, o minist�rio aumentou o prazo de saque dos cart�es de tr�s para seis meses, permitindo que as fam�lias fa�am menos viagens ao ano. T�cnicos do minist�rio avaliam outras propostas para evitar fraudes.
As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.