
Bras�lia – Diante da demora dos parlamentares em assumir um posicionamento contr�rio ao presidente da C�mara dos Deputados, Eduardo Cunha, as primeiras vozes a defenderem com for�a o “Fora, Cunha” foram femininas e partiram das ruas. A aprova��o do PL 6.059 na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ), em 21 de outubro, provocou uma onda de manifesta��es de mulheres contra o peemedebista em diversas cidades, em um misto de indigna��o contra a proposta dele que limita o acesso ao aborto legal, inclusive pro�be a p�lula do dia seguinte, e com as den�ncias de corrup��o e lavagem de dinheiro do parlamentar investigado na Opera��o Lava-Jato. Dentro da C�mara, por sua vez, o enfrentamento feminino a Cunha � disperso.
A bancada feminina n�o tem um posicionamento oficial sobre o afastamento do parlamentar. O assunto nem sequer chegou a ser discutido nas reuni�es semanais. Na avalia��o de deputadas ouvidas pela reportagem, a atua��o de aliadas do peemedebista, a influ�ncia partid�ria e a diversidade do grupo – s�o 53 parlamentares de 18 siglas – impedem que a quest�o avance. Hoje, o grupo s� tem um entendimento unificado em torno do combate � viol�ncia contra a mulher e na luta pelo aumento da participa��o feminina na atividade parlamentar. Ainda assim h� opini�es distintas quanto �s formas de enfrentamento a essas quest�es, tanto pela influ�ncia das legendas quanto por posi��es pessoais e religiosas.
No caso do PL 6.059, parte considera a mudan�a proposta um ato de viol�ncia por se tratar de m�todos abortivos em casos de estupro, mas algumas deputadas s�o radicalmente contra qualquer tipo de interrup��o da gravidez. A proposta uniu parlamentares de orienta��es pol�ticas opostas, como Erika Kokay (PT-DF) e Cristiane Brasil (PTB-RJ). “As manifesta��es nas ruas e nas redes sociais foi muito importante como suporte na C�mara. Somos muito poucas, e os deputados estavam escarnecendo, rindo das mulheres l� dentro, acusando as deputadas que n�o querem que as v�timas de viol�ncia percam direitos fundamentais de serem contra a vida”, conta Cristiane Brasil.
IMPOSI��O Para Erika Kokay a interfer�ncia de Cunha nos crit�rios de distribui��o dos cargos de chefia em fevereiro contribuiu para fragilizar o grupo. Antes, havia autonomia nas defini��es da Coordena��o e da Procuradoria, estruturas da Secretaria da Mulher. Neste ano, o peemedebista decidiu que os cargos seriam divididos de acordo com os blocos montados na elei��o para o comando da Casa, o que favoreceu o seu partido. Foi a primeira vez que a presid�ncia da C�mara interveio no assunto. “Esse direito foi usurpado pelo presidente que se sente no direito de interferir em assuntos diversos”, critica.
No in�cio do ano, foi decidido que a bancada s� se pronunciaria quando houvesse consenso. Apesar de respeitar a decis�o, a deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ) acredita que deveria partir do grupo uma posi��o de “Fora, Cunha”. “A bancada deveria ser mais politizada e se posicionar mesmo quando n�o houvesse consenso”, defende. Opositora do peemedebista, ela tem feito duros discursos em plen�rio, al�m de ter pedido a ren�ncia do parlamentar durante um protesto na C�mara em outubro.
�nica mulher no Conselho de �tica, a deputada Eliziane Gama (Rede-MA) considera que seu voto tem peso diferente por esse motivo. “� uma responsabilidade pol�tica dupla, porque se reflete em todo o grupo de mulheres”, afirmou. Ela � uma das que assinaram o pedido de afastamento do peemedebista em agosto. Procurada pela reportagem, a deputada D�mina Pereira (PMN-MG), coordenadora da bancada feminina, afirmou via assessoria de imprensa que n�o se pronunciar� sobre o tema.