Rio, 27 - Funcion�rios da Andrade Gutierrez, empresa que participou do cons�rcio para a constru��o da usina nuclear de Angra 3, sob investiga��o no �mbito da Opera��o Lava Jato, jogaram no colo da Eletronuclear a responsabilidade por atrasos e aumento de custos na obra, retomada em 2009 ap�s mais de 20 anos parada. As testemunhas tamb�m relataram a m� qualidade dos projetos, que eram responsabilidade da Engevix, e destacaram a "�tica" e o "perfil t�cnico" dos acusados.
Os depoimentos, convocados pelas defesas de Fl�vio David Barra, ex-presidente da AG Energia, Ot�vio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, e de Gustavo Botelho, diretor-superintendente da empresa (todos r�us na a��o que investiga desvios e pagamento de propina), foram colhidos na �ltima segunda-feira, 25, pelo juiz Marcelo Bretas, da 7� Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
Um dos funcion�rios afirmou que Azevedo "n�o participava das decis�es" sobre a obra de Angra 3. J� o presidente da EDF no Brasil, Yann des Longchamps, que atua na �rea de energia e tem "relacionamento profissional" com Barra, destacou que o r�u "nunca teve atitude contr�ria � �tica profissional". O ex-presidente do Conselho de Administra��o da Eletronuclear, Armando Casado, disse nunca ter recebido oferta de propina. As declara��es foram as primeiras de uma s�rie que ser�o ouvidas pela Justi�a Federal ao longo desta semana.
O gerente de obras Cau� Oliveira Bastos, que trabalhou na constru��o de Angra 3, afirmou � Justi�a que pelo menos dois problemas atrapalharam o andamento das obras, que desde 2009 sofreram idas e vindas e, desde setembro de 2015, est�o mais uma vez paralisadas. O primeiro foi o licenciamento, obtido em fatias junto � Comiss�o Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
"Fic�vamos restritos a trabalhar no trecho que era liberado (...). N�o necessariamente � o melhor jeito de dar andamento � obra, �s vezes voc� queria fazer uma parede externa e ficava limitado. Isso levou a aumento de prazos, queda de produtividade e coisas assim", disse.
Outro obst�culo, "mais pesado" na vis�o de Bastos, era a qualidade prec�ria dos projetos civis de Angra 3. "Como o projeto n�o era bom, n�o foi muito bem pensado, coisas que eram necess�rias de fazer n�o eram previstas inicialmente. Ent�o voc� tem que aditar para colocar aquilo no contrato", contou o gerente. O projeto de Angra 3 foi feito na d�cada de 80. Em vez de nova licita��o, o certame realizado naquela �poca (cuja vencedora foi a Andrade) foi revalidado em 2009 para retomar as constru��es.
O engenheiro de obras Paulo Fernando Rahme, da Andrade Gutierrez, tamb�m reclamou dos projetos. "Alguns projetos eram at� ileg�veis. A gente recebia projetos deficientes, mesmo. E alguns n�o eram emitidos na data acordada", disse na audi�ncia.
"Existia uma (empresa) projetista, a Engevix, que foi contratada pela Eletronuclear para fazer essa revis�o dos projetos, mas isso n�o foi suficiente, os projetos continuaram a vir com falhas e a n�o serem emitidos na data", acrescentou. Rahme destacou ainda que as delibera��es sobre a obra eram compet�ncia de Fl�vio Barra, e que Ot�vio Azevedo n�o participava das reuni�es da AG Energia. Botelho, em sua descri��o, tem "perfil t�cnico".
Os problemas apontados seriam os motivos pelos quais a Andrade pleiteou uma s�rie de aditivos ao contrato, em negocia��es tensas que chegaram a provocar paralisa��es nas obras devido �s diverg�ncias entre a empresa e a Eletronuclear, segundo os funcion�rios. Para a Pol�cia Federal e o Minist�rio P�blico, os aditivos acabaram sendo fonte de propinas para funcion�rios da Eletronuclear. Entre eles, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da estatal, que � suspeito de receber R$ 4,5 milh�es em troca de favorecimento �s empresas que atuavam na obra. Ele cumpre pris�o domiciliar no Rio de Janeiro.
Procurada, a Andrade Gutierrez n�o quis comentar as afirma��es feitas por seus funcion�rios. A Engevix e a Eletronuclear n�o se pronunciaram at� a publica��o desta reportagem.