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Estado de Minas

Para Dilma, rea��o demorada foi erro


postado em 17/04/2016 09:01

Bras�lia, 17 - A presidente Dilma Rousseff neste domingo, 17, � mais importante batalha de sua vida sem saber se conseguir� sobreviver, mas convencida de que o seu maior erro n�o foi enveredar pelo caminho do ajuste nem subestimar o desgaste da Opera��o Lava Jato ou autorizar manobras conhecidas como pedaladas fiscais. Dilma se penitencia pela demora em reagir � �conspira��o� dentro do Pal�cio do Planalto - promovida, no seu diagn�stico, pelo vice-presidente Michel Temer - e por ter se distanciado de seu �criador�, Luiz In�cio Lula da Silva.

Isolada, sem ouvir quase ningu�m, a primeira mulher eleita presidente do Brasil viu a crise pol�tica crescer dia ap�s dia, mas nunca acreditou que ela pudesse fugir do controle. Nesse outono de intrigas, trai��es e fuga de aliados, puxada pelo PMDB, o governo, muitas vezes, pareceu atordoado e sem saber para onde ir. �A vida � mais complexa do que parece�, costuma dizer Dilma, desde que sua popularidade despencou.

A senha para uma ofensiva mais dura contra a amea�a do impeachment foi dada pelo pr�prio Lula, em 4 de mar�o. Naquele dia, o ex-presidente foi obrigado a depor, no �mbito da Lava Jato, e a Pol�cia Federal cumpriu mandado de busca e apreens�o em sua casa e no Instituto Lula.

A c�pula do PT, em rota de colis�o com Dilma, temeu a pris�o de seu maior l�der. Foi a partir da� que a narrativa do �golpe� e da associa��o de Temer com o presidente da C�mara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - r�u em a��o autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, acusado de desviar recursos da Petrobr�s -, ganhou for�a como estrat�gia de sobreviv�ncia pol�tica de Dilma, de Lula e do PT.

�Se a gente n�o se mexer, vai acabar morrendo�, disse Lula ap�s sair do depoimento, em conversa a portas fechadas com dirigentes do PT, em S�o Paulo. Dois interlocutores do ex-presidente contaram ao jornal O Estado de S. Paulo que ele se arrependeu de n�o ter tentado um acordo com Dilma para ser candidato, em 2014. J� �quela �poca, temia que sua afilhada, mesmo ganhando, n�o conseguisse governar.

�Voc�s podem n�o gostar dela, mas � o nosso projeto que est� em jogo. N�o podemos sair das ruas. Precisamos defender a Dilma�, insistiu Lula, na sede do PT.

Jararaca

Diante das c�meras de TV, logo em seguida, o ex-presidente n�o deixou d�vidas de como seria a rea��o. Tudo foi planejado para proteger o �nico nome que o PT disp�e, at� agora, para disputar a sucess�o de Dilma. �Se quiseram matar a jararaca, n�o bateram na cabe�a. Bateram no rabo e a jararaca est� viva, como sempre esteve�, gritou Lula, naquele 4 de mar�o.

Treze dias depois, com o Planalto cercado por seguran�as e manifestantes na Pra�a dos Tr�s Poderes, Lula tomava posse como ministro da Casa Civil, mas sua nomea��o foi suspensa por decis�o judicial e at� hoje aguarda julgamento do Supremo.

Na v�spera, o vazamento de uma conversa entre Dilma e o l�der petista, gravada pela Pol�cia Federal, agitou o mundo pol�tico e causou outro estrago. Pelo telefone, a presidente dizia a Lula que enviaria a ele o �termo de posse� no Minist�rio, para uso �em caso de necessidade�.

Os investigadores da Lava Jato interpretaram o di�logo grampeado como uma tentativa de Lula de escapar da al�ada do juiz S�rgio Moro, de primeira inst�ncia, e ganhar foro privilegiado no Supremo. A crise se agravou ainda mais.

O desarranjo na economia, com forte recess�o e desemprego, fez um ministro do PT apostar no pior cen�rio, na semana passada. O argumento dele era simples: em 2005, no esc�ndalo do mensal�o, Lula e o partido conseguiram dar a volta por cima porque as pessoas tinham �dinheiro no bolso�, situa��o oposta � de hoje.

Sem o marqueteiro Jo�o Santana - preso em fevereiro pela Lava Jato -, o governo acabou agindo de acordo com estrat�gia definida por Lula, guiada por pesquisas de opini�o.

Foi dele a ideia de carimbar o impeachment como �golpe�, manobra para �sentar na cadeira antes da hora� e tamb�m de ligar Temer e Cunha a um conluio dos que querem interromper o combate � corrup��o e acabar com programas sociais, como o Bolsa Fam�lia e o Minha Casa Minha Vida.

Sem poder despachar no Planalto, Lula tem usado uma su�te do hotel Royal Tulip, em Bras�lia, como �bunker� de negocia��es pol�ticas. H� quase um m�s, recebe deputados, senadores, dirigentes de partidos e at� governadores. �Nunca pensei que cheg�ssemos a essa situa��o t�o cr�tica�, desabafou ele.

Aos mais pr�ximos, Lula contou que se arrependeu de ter aceitado a Casa Civil, no momento em que a Pol�cia Federal e o Minist�rio P�blico investigam a propriedade de um s�tio em Atibaia e de um triplex no Guaruj�.

�Ficou parecendo que eu queria me salvar, mas n�o era isso�, afirmou Lula, que nega ser dono dos im�veis. �A Dilma me fez um apelo desesperado. Em agosto, ela j� tinha me convidado e eu respondi: �Se nem Fidel e Che Guevara couberam dentro de Cuba, como n�s dois vamos caber no mesmo Pal�cio?� Eu disse que poderia presidir o Conselh�o (Conselho de Desenvolvimento Econ�mico e Social), mas ela n�o quis. N�o podia ver o governo desmoronando e n�o fazer nada. Tinha que ajudar�, emendou ele.

�N�o passar�o�

A entrada de Lula no governo, ainda que n�o consumada oficialmente, provocou novos protestos e ati�ou a oposi��o. Mas o Planalto tamb�m foi pego no contrap� com a dela��o premiada do senador Delc�dio Amaral (MS), que se desfiliou do PT. Ex-l�der do governo no Senado, Delc�dio acusou Dilma de interferir na Lava Jato por meio do Supremo e do Superior Tribunal de Justi�a. Afirmou, ainda, que foi Lula quem o mandou procurar o ex-diretor da Petrobr�s N�stor Cerver�, para impedir que ele contasse o que sabia.

�Nunca pensei que ele fosse esse canalha�, disse o ministro do Gabinete Pessoal da Presid�ncia, Jaques Wagner. �N�s precisamos reagir a essa destilaria de �dio�.

Na batalha, o Planalto foi transformado em tribuna contra o impeachment e teve seus sal�es tomados por juristas, professores, estudantes, mulheres e representantes de v�rios movimentos, que se revezavam ao microfone. �Por favor, pelo menos testemunhem que eu n�o tenho cara de quem vai renunciar�, pediu Dilma a rep�rteres.

No �ltimo dia 7, a aposentada Maria Jos� Pereira Said, de 87 anos, se postou ao p� da rampa que liga o Sal�o Nobre ao terceiro andar do Planalto, onde fica o gabinete presidencial, no fim de uma manifesta��o promovida por mulheres.

�For�a, Dilma!�, exclamou ela. Cercada por seguran�as, a presidente voltou alguns passos, agachou-se e deu um beijo nos cabelos brancos de dona Zez�. Tinha os olhos marejados.

Com o grito de guerra �N�o Passar�o� - lema da resist�ncia republicana durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) - e o mote da defesa da democracia, o PT conseguiu, a duras penas, reconquistar movimentos sociais e at� intelectuais que haviam se afastado do partido, ap�s os esc�ndalos de corrup��o.

Mesmo assim, o protesto de 13 de mar�o - a maior manifesta��o da hist�ria do Pa�s - aumentou a press�o pela sa�da de Dilma. Naquele dia � noite, em reuni�o com ministros, no Pal�cio da Alvorada, ela n�o escondeu o abatimento. �Uma das caracter�sticas estarrecedoras daquela manifesta��o foi a rejei��o da pol�tica�, disse a presidente a jornalistas, na quarta-feira. �Isso nunca levou a nada de bom�.

Com Lula no palanque, os contr�rios ao impeachment foram �s ruas em 18 de mar�o, num ato que surpreendeu o governo pelo tamanho. Numa alus�o aos 52 anos do golpe de 1964, voltaram no dia 31 a pedir respeito ao voto popular.

Quarenta e oito horas antes, em reuni�o que durou 3 minutos, o PMDB rompeu com Dilma. Emiss�rios de Temer apressaram as negocia��es j� em curso com antigos aliados do PT, como o PP do senador Ciro Nogueira (PI), para a forma��o de um novo Minist�rio e, com aval do PSDB, sondaram nomes de peso para a Fazenda, como o ex-presidente do Banco Central Arm�nio Fraga. Na tentativa de conter os dissidentes, a distribui��o dos cargos foi ampliada por Dilma, mas muitos a abandonaram � pr�pria sorte.

O Pal�cio do Jaburu, resid�ncia oficial do vice-presidente, passou a ser chamado pelo �n�cleo duro� do Planalto de quartel-general dos traidores.

Nos bastidores, por�m, o governo avalia que a a��o de Temer para ocupar a cadeira de Dilma come�ou bem antes, logo ap�s 8 de mar�o de 2015, quando ela foi alvo de �panela�o� ao fazer um pronunciamento na TV, em homenagem ao Dia da Mulher, e defender o ajuste fiscal.

�Al�, al�?�

O vice assumiu a articula��o pol�tica do Planalto com o Congresso em abril daquele ano e, quatro meses depois, entregou o cargo. O movimento marcou sua aproxima��o com l�deres do PSDB, que hoje o apoiam no combate a Dilma. �Desde aquela �poca, queriam derrubar o governo por dentro�, resumiu o l�der do Executivo na C�mara, Jos� Guimar�es (PT-CE).

A rela��o de Dilma e Temer nunca foi das melhores, mas o casamento de fachada continuava. Em 2014, no entanto, o vice deu sinais de que a renova��o do enlace de papel passado n�o duraria muito.

�s v�speras da campanha pelo segundo mandato, o telefone tocou no gabinete de Temer. Do outro lado da linha, o tom de voz era t�o alto que ele p�s o aparelho longe do ouvido. �Al�, al�, al�?�, repetiu, pausadamente, como se nada ouvisse. Um minuto depois, desligou.

O telefone chamou de novo. Irritada, Dilma continuou o �mon�logo� do ponto onde a liga��o fora interrompida, pedindo provid�ncias para conter Eduardo Cunha, ent�o l�der do PMDB, que se voltava contra o governo. �Mas era a senhora ao telefone? Desculpe, n�o percebi�, respondeu o vice, ir�nico. �Tinha uma pessoa a� gritando tanto que n�o dava para saber quem estava falando.�

No primeiro mandato, em 2011, Dilma tamb�m ligou para Temer, que se encontrava em S�o Paulo, para cobrar apoio do PMDB numa vota��o do C�digo Florestal. Estava exaltada. �Acho que a senhora ligou para a pessoa errada�, respondeu o vice, que comanda o PMDB. �Eu estou acostumado a lidar com presidentes da Rep�blica e todos sempre me trataram com muita educa��o.�

Em dezembro do ano passado, Temer enviou uma carta a Dilma, queixando-se de ter passado quatro anos como um �vice decorativo�. �Que coisa estranha!�, comentou ela, ao receber a correspond�ncia no Alvorada.

No in�cio da semana, com o div�rcio j� em fase adiantada, Temer deixou vazar um �udio a um grupo de deputados do PMDB, no qual apresentava as diretrizes de um �governo de salva��o nacional� capitaneado por ele. �Isso passou de todos os limites�, esbravejou Dilma. �N�o vai ficar assim. Quem ele pensa que �? Posa de estadista e age com essa pequenez?�

No Planalto, a mensagem do vice foi batizada de WhatsApp ao Povo Brasileiro, refer�ncia jocosa � Carta ao Povo Brasileiro, divulgada por Lula na campanha de 2002, para acalmar o mercado. Ao contr�rio de 2002, por�m, o desfecho dessa hist�ria � imprevis�vel. As informa��es s�o do jornal

O Estado de S. Paulo.


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