Bras�lia, 10 - No que pode ser a sua �ltima agenda p�blica fora do Pal�cio do Planalto antes do seu afastamento pelo Senado, que deve acontecer nesta quarta-feira, 11, a presidente Dilma Rousseff escolheu uma plateia de mulheres para refor�ar o seu discurso de que vai continuar trabalhando em defesa de seu mandato. Ela reiterou que n�o existe a hip�tese de que ela renuncie e refor�ou que essa ideia "jamais passou pela cabe�a".
Dilma disse ainda que o �ltimo dia de seu mandato continuar� sendo 31 de dezembro de 2018 e que ela n�o deixar� de batalhar por isso. "Eu n�o estou cansada de lutar, estou cansada dos desleais e dos traidores. Mas esse cansa�o impulsiona a mim a lutar ainda mais", afirmou na abertura da 4� Confer�ncia Nacional de Pol�ticas para as Mulheres, em Bras�lia. "A ren�ncia � algo que satisfaz a eles; a n�s o que satisfaz � a luta", afirmou. "Eles querem de todas as formas evitar que eu continue falando e denunciando o golpe", disse, acrescentando que sua capacidade de resistir "� enorme".
A presidente assegurou a plateia de apoiadoras que vai lutar com todas as suas for�as e "usando todos os meios dispon�veis" para derrubar o processo de impeachment. "(Vou usa os) Meios legais, meios de lutas. Vou participar de todos atos e a��es que me chamarem", afirmou. Ap�s o j� esperado afastamento, a presidente pretende percorrer o Pa�s em uma esp�cie de "campanha" para tentar se defender e recuperar a presid�ncia.
Dilma disse ainda que se sentia "acolhida" pelas militantes e que o impeachment tamb�m est� pautado no preconceito contra a mulher. "A Hist�ria ainda vai dizer o quanto de viol�ncia, de preconceito contra a mulher, tem nesse processo de impeachment golpista", afirmou. Segundo ela, o fato de ser a primeira mulher a assumir o cargo despertou esse preconceito. "Mas uma parte da minha capacidade de resistir decorre de eu ser mulher", garantiu. "A hist�ria vai mostrar que o fato de ser mulher me tornou mais resiliente e lutadora."
A presidente afirmou que o momento � decisivo para a democracia brasileira e que "os golpistas" carregam promessas que foram derrotas nas urnas. "Os golpistas carregam o retrocesso", afirmou, citando poss�veis medidas de um futuro governo do vice Michel Temer, como mudan�as na pol�tica do sal�rio m�nimo e em programas sociais.
Ao dizer que � preciso "dar nome aos bois", Dilma citou que o respons�vel pelo processo de impeachment foi o presidente afastado da C�mara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) junto com o vice. Ela n�o citou nominalmente Temer. "N�o � um golpe qualquer; temos que entender a natureza dele. Esse pessoal n�o consegue chegar a Presid�ncia pelo voto popular", afirmou.
Dilma voltou a dizer que eles querem implementar uma "elei��o indireta" e que � preciso fortalecer a "jovem democracia brasileira". Ao explicar os decretos de cr�dito suplementares que constam no pedido de impeachment, Dilma voltou a dizer que n�o cometeu crime de responsabilidade e que se o mesmo princ�pio de acusa��o contra ela fosse aplicado a governadores muitos sofreriam impeachment. "Isso � um absurdo".
Ao repetir que se sente injusti�ada, a presidente destacou as pol�ticas sociais do PT e afirmou que muitas delas trouxeram descontentamento "para uma minoria". "Eu me sinto injusti�ada sim, sou v�tima. Sou uma v�tima por�m lutadora, com consci�ncia e capacidade de luta", finalizou.
Apoio
A plateia, formada por mulheres ligadas a diversos movimentos sociais, interrompeu o discurso de Dilma por diversas vezes com gritos de apoio que t�m sido frequentes das �ltimas agendas da presidente, como "no meu pa�s eu boto f� porque ele � governado por mulher"; "n�o vai ter golpe, vai ter luta"; e "Fica, querida", em contraponto �s manifesta��es de oposicionistas que no dia do impeachment fizeram cartazes com a frase "Tchau, querida".
Um grupo de delegadas, que foi detido na chegada a Bras�lia ap�s uma confus�o no aeroporto por elas terem feito uma manifesta��o pr�-Dilma ainda dentro da aeronave, foi bastante aplaudido ao chegar no evento. Segundo a deputada Moema Gramacho (PT-BA), a ordem de deten��o teria sido de deputados da oposi��o que estavam no mesmo voo vindo de Salvador.
Com um formato similar ao de campanha, Dilma citou uma s�rie de Estados e cidades para agradecer a presen�a das mulheres. Como tem feito nos �ltimos eventos, de forma "interativa", Dilma repetia as cidades conforme a plateia a ajudava. Quando chegou ao fim dos agradecimentos, ouviu mais uma militante e rebateu: "Minha filha, a fronteira � imensa. Falei todos os Estados".
O secret�rio-geral da Organiza��o dos Estados Americanos (OEA), o uruguaio Luis Almagro, que mais cedo teve um encontro com Dilma, esteve no evento e fez uma fala em defesa do direito das mulheres. Mais cedo, Almagro afirmou que a entidade far� consulta � Corte Interamericana de Direitos Humanos para saber a respeito da legalidade do processo de impeachment.
Mesmo com o iminente afastamento, Dilma intensificou a agenda nas �ltimas duas semanas. O Pal�cio do Planalto estuda, inclusive, a realiza��o de um evento amanh� no Planalto, mesmo dia em que o Senado deve definir o afastamento de Dilma por at� 180 dias.
'Fora do protocolo'
A participa��o de Dilma estava inicialmente marcada para as 15 horas, depois foi postergada duas vezes - para as 16h e para as 16h30. A presidente chegou �s 16h39, bastante ovacionada pela plateia, que chegou a cantar o Hino Nacional a capela. No entanto, diferentemente de outras ocasi�es em que a presidente era esperada, mesmo com atrasos maiores, para o evento come�ar, a ministra da Secretaria de Pol�ticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, abriu a confer�ncia alegando que "Dilma estava em outro evento" e chegaria mais tarde. Menicucci fez um discurso em defesa do mandato de Dilma, exaltando o "cora��o valente" da presidente.