Londres, 14 - Jornais estrangeiros dedicaram nesta sexta-feira (13) espa�o em seus editoriais para falar da situa��o pol�tica no Brasil, um dia ap�s Michel Temer assumir interinamente a Presid�ncia da Rep�blica. O americano The New York Times afirma que a presidente afastada Dilma Rousseff paga um pre�o “desproporcionalmente alto” por erros administrativos que cometeu, enquanto v�rios de seus maiores detratores s�o acusados de crimes mais flagrantes.
Os brit�nicos Financial Times e The Guardian trouxeram vis�es diferentes sobre o processo de impeachment. O FT qualificou o afastamento como “longe de ser perfeito”, mas destacou que, se Michel Temer conseguir colocar a economia de volta aos trilhos e continuar com a luta contra a corrup��o, “deixar� um legado consider�vel”.
J� o Guardian publicou duro editorial, criticando o processo e avaliando que o sistema pol�tico � que deveria ser julgado, e n�o a presidente da Rep�blica.
O editorial do FT diz que Temer enfrenta uma “tarefa assustadora” na Presid�ncia da Rep�blica com uma crise tripla: econ�mica, �tica e pol�tica. No topo das prioridades, o FT diz que est� a situa��o da economia. A nomea��o de Henrique Meirelles para o Minist�rio da Fazenda e o rumor de que Ilan Goldfajn pode ir para o Banco Central s�o “encorajadores”, diz o jornal, que avalia a equipe econ�mica como “digna de confian�a”. Sobre a crise �tica, o FT lembra que a Opera��o Lava Jato pesa sobre boa parte do Congresso e at� sobre o pr�prio Temer. Por isso, o editorial defende que o presidente em exerc�cio “deve permitir que as investiga��es continuem seu curso”.
Ao reconhecer a controv�rsia sobre a argumenta��o jur�dica que baseia o processo de impeachment, o FT afirma que o resultado do desdobramento da crise pol�tica visto “est� longe de ser perfeito”.
J� o editorial do Guardian defende que o Brasil deveria ter profunda reforma para tornar a pol�tica mais funcional e honesta, mas lamenta que a equipe apresentada na quinta-feira mostra que � “muito duvidoso” que o governo Temer dar� esse salto.
O Guardian diz que o sistema pol�tico brasileiro � t�o disfuncional que a corrup��o � “praticamente inevit�vel” para a governabilidade. “Dilma herdou esse legado infeliz e come�ou a perder o controle em um per�odo de decl�nio econ�mico e quando a corrup��o, gra�as � pol�cia e a promotores independentes, come�ava a se tornar um esc�ndalo de propor��es crescentes”. O texto tamb�m cita que houve preconceito machista e ressentimento da direita que nunca aceitou a ascens�o de Luiz In�cio Lula da Silva e do PT.
“O elemento t�xico final na crise foi a percep��o de muitos pol�ticos que os procuradores poderiam descobrir mais coisas sobre eles e uma maneira de evitar ou reduzir essa possibilidade poderia ser distrair a aten��o e tomar o controle pol�tico com o processo de impeachment da chefe de Estado”, cita o editorial. O Guardian diz que “a ironia � que muitos dos acusadores s�o acusados e por pecados piores”. O texto cita Eduardo Cunha e lembra que Dilma n�o � acusada, nem investigada por corrup��o. Diante desse quadro, o Guardian defende que “o que deveria estar em julgamento acima de tudo � o modelo pol�tico brasileiro que falhou”.
Com o t�tulo
Fazendo a crise pol�tica piorar, o editorial do New York Times, maior jornal dos EUA defende que os brasileiros deveriam ter o direito de eleger um novo presidente. O jornal avalia que Dilma pode ter sido uma governante “ruim”, mas foi eleita duas vezes nas urnas e n�o h� evid�ncia de que ela usou seu cargo para enriquecimento pessoal, enquanto outros pol�ticos que a acusam est�o envolvidos em esc�ndalos de corrup��o. O NYT ressalta que Temer foi condenado pela Justi�a eleitoral e est� ineleg�vel por oito anos e o ent�o presidente da C�mara, Eduardo Cunha, que aceitou o pedido de impeachment de Dilma, foi afastado por den�ncias de corrup��o.
O jornal diz que o governo pode representar uma guinada para a direita, como em outros pa�ses da Am�rica Latina.