S�o Paulo e Curitiba, 26 - O doleiro Alberto Youssef afirmou ao juiz federal S�rgio Moro, em audi�ncia na sexta-feira, 24, do processo com o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa dizia aos membros do PP que buscassem o Planalto para resolverem sobre repasses de propinas, do esquema investigado pela Opera��o Lava Jato.
"O Paulo Roberto, por iniciativa dele, junto com o Fernando Soares procurou alguns membro do PMDB e acabou se aliando, fez essa composi��o. Mas o Partido Progressista nunca gostou disso, sempre foi motivo de discuss�o no Pal�cio do Planalto para que isso n�o acontecesse", afirmou Youssef, um dos primeiros delatores da Lava Jato, junto com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras.
Costa e Youssef eram ligados ao PP, no in�cio do esquema de corrup��o na Petrobras, a partir de 2004, alvo da Lava Jato. Em 2006, o ex-diretor ficou doente e quase perdeu o cargo para um subalterno que buscou apoio do PMDB.
"Foi feito um trabalho para que ele (Costa) perdesse a cadeira dele, em 2006. O PP (que havia indicado o diretor, em 2004) bateu firme o p� e conseguiu manter o Paulo Roberto na diretoria. Mas ficou aquele ran�o do PMDB com o PP", contou o doleiro, arrolado como testemunha de acusa��o no processo contra Lula.
O ex-presidente � acusado de receber R$ 3,7 milh�es em propinas da OAS, em forma de benesses da amplia��o e equipamentos do apartamento tr�plex do Guaruj� (SP).
Foi em 2006 que Paulo Roberto Costa teria buscado o apoio do PMDB, via lobista do partido Fernando Baiano. No acerto com o partido, eles passariam a ter direito a uma cota da propina arrecadada nos contratos da Diretoria de Abastecimento, que antes eram destinados integralmente ao PP.
"Como assim motivou de discuss�o no Pal�cio do Planalto?", questionou Moro. "Muitas vezes o Paulo Roberto Costa deixava de passar receita para o partido, e os pol�ticos reclamavam e o Paulo falava 'conversa l� no Planalto, se eu receber algum sinal de fuma�a, qualquer coisa nesse sentido, eu fa�o o que eles me mandarem'", explicou Youssef.
Moro perguntou se Costa fazia essa afirma��o. "V�rias vezes", respondeu.
"Fazia para o senhor, ou para outras pessoas?", prosseguiu Moro. "Fazia para mim, junto com o l�deres do partido", completou o doleiro.
A defesa de Lula tentou invalidar o depoimento de Youssef, alegando que ele � suspeito, por seu um delator, em busca de manter seus benef�cios - como fez com as outras 10 testemunhas convocadas para o processo contra Lula, pelos procuradores da for�a-tarefa da Opera��o Lava Jato. Moro negou o pedido e ouviu o doleiro.
"Emerge um quadro bastante distinto da acusa��o inicial do Minist�rio P�blico Federal, ap�s a realiza��o das audi�ncias na 13� Vara Federal Criminal de Curitiba nesta semana (21/11 a 25/11), no �mbito da a��o penal que atribui ao ex-Presidente Luiz Inacio Lula da Silva a obten��o de vantagens indevidas a partir de tr�s contratos celebrados entre a OAS e a Petrobras, notadamente por meio da aquisi��o da propriedade de um apartamento triplex, no Guaruj� (SP)", diz a nota da defesa de Lula, representada pelos advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira.
Segundo a defesa, "as 11 testemunhas do MPF isentaram Lula e sua esposa Marisa Leticia da pr�tica dos crimes imputados na den�ncia, e, mais do que isso, revelaram que o foco de corrup��o alvo da Lava Jato est� restrito a alguns agentes p�blicos e privados, que atuavam de forma independente, regidos pela din�mica de seus pr�prios interesses, e alheios � Presid�ncia da Rep�blica". "Quando diretamente inquiridas, as testemunhas (Augusto Ribeiro de Mendon�a Neto, Dalton dos Santos Avancini, Eduardo Hermelino Leite, Delcidio do Amaral, Pedro Corr�a, Paulo Roberto Costa, Nestor Cerver�, Pedro Barusco, Alberto Youssef, Fernando Soares e Milton Paskowich) n�o fizeram qualquer afirma��o que pudesse confirmar a tese acusat�ria do MPF que tem Lula no centro do processo de obten��o de vantagens indevidas no �mbito da Petrobras e muito menos em rela��o aos tr�s contratos indicados na den�ncia", destacaram os advogados.
De acordo com a defesa de Lula, ficou "igualmente claro" o "desconhecimento" dessas testemunhas sobre a rela��o de Lula com o triplex do Guaruj�. "Como sempre afirmamos, o ex-Presidente n�o tem a posse e muito menos a propriedade desse im�vel."
Para os advogados, os depoimentos recolocam em outro plano os resultados obtidos pela Lava Jato. "O foco de corrup��o est� restrito a algumas empresas privadas, alguns dirigentes da Petrobras e, ainda, alguns agentes pol�ticos. Esse foco de corrup��o era herm�tico e atuava, fundamentalmente, dentro da varia��o de pre�o ('range') aprovada pela Diretoria de Petrobras, baseada em par�metros internacionais, o que lhe conferia aura de aparente normalidade", salientaram. "Por isso mesmo, esse foco de corrup��o n�o foi identificado por qualquer �rg�o de controle interno (auditoria interna, Conselho Fiscal, dentre outros) ou externo (auditoria externa, CGU, TCU) da Petrobras, como tamb�m reconheceram algumas das testemunhas ouvidas."
Segundo a defesa do ex-presidente da Rep�blica, "concluir que Lula era o centro desse processo, como fez o MPF, s� pode ser ato de voluntarismo maldoso, sem qualquer lastro de veracidade, o que se insere nas pr�ticas de lawfare - que � o uso da lei e dos procedimentos jur�dicos para fins de persegui��o pol�tica". "N�o havia qualquer lastro probat�rio m�nimo para a abertura dessa a��o penal contra Lula e sua esposa, muito menos com o alarde feito pelo MPF - que usou de um reprov�vel PowerPoint em rede nacional. Nesta etapa processual, j� � poss�vel antever que o �nico resultado leg�timo desse processo � a absolvi��o de ambos."