Bras�lia, 15 - O senador cassado Delc�dio Amaral (ex-PT-MS, sem partido) reiterou nesta quarta-feira, 15, � Justi�a acusa��es de sua dela��o premiada contra o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. Em depoimento de cerca de tr�s horas, prestado � 10� Vara Federal, em Bras�lia, ele disse ter sido uma 'sandice' procurar a fam�lia do pecuarista Jos� Carlos Bumlai, supostamente a pedido de Lula, e pedir pagamentos com o objetivo de comprar o sil�ncio do ex-diretor da Petrobr�s Nestor Cerver�, que considerava colaborar com a Lava Jato.
O interrogat�rio de Delc�dio foi no �mbito de a��o penal que avalia se Lula e outros seis r�us, entre eles o pr�prio ex-senador, atuaram para obstruir as investiga��es da Lava Jato. O ex-congressista reiterou que numa reuni�o no Instituto Lula, em maio de 2015, na qual teria tratado com o ex-presidente a possibilidade de Cerver� comprometer Bumlai, seu amigo, numa eventual dela��o. Lula teria pedido, ent�o, para ele 'ver essa quest�o do Bumlai'.
Segundo Delc�dio, a partir dessa ordem, foi montado um esquema por meio do qual a fam�lia de Bumlai pagou R$ 50 mil mensais de ajuda financeira a Cerver�. "Cometi a sandice de tomar essa atitude", declarou.
Delc�dio foi preso em novembro de 2015, depois que o filho do ex-diretor da Petrobr�s, Bernardo Cerver�, o gravou numa conversa na qual revelava parte do plano para evitar a colabora��o do pai e at� financiar uma fuga dele para a Espanha. Depois disso, o ex-senador decidiu fazer sua pr�pria dela��o e, ent�o, implicou Lula.
Delc�dio admitiu que, na suposta conversa ocorrida no Instituto Lula, s� estavam presentes ele e o ex-presidente, n�o havendo testemunhas. "Tive muitas conversas solit�rias com o presidente Lula", explicou, acrescentando que muitas delas versavam sobre quest�es pol�ticas, em geral.
Delc�dio contou que as tratativas com a fam�lia de Cerver� come�aram no in�cio de 2015 e que seu objetivo era evitar que seu nome fosse citado pelo ex-diretor, j� que recebera dinheiro proveniente do esquema da Petrobr�s para quitar, por exemplo, d�vidas de campanha.
Contudo, alegou o ex-senador, entre mar�o e abril daquele ano, a imprensa divulgou informa��es sobre a dela��o de Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB na estatal, que j� dava conta de sua participa��o nas ilegalidades. A partir da�, explicou, a estrat�gia de se blindar de acusa��es de Cerver� perdeu um pouco de sentido. "O Fernando Baiano abduziu a dela��o de Cerver�", disse. Mesmo assim, acrescentou Delc�dio, foi levado adiante o plano para evitar a colabora��o de Cerver�, a mando de Lula.
Conforme a den�ncia apresentada pelo Minist�rio P�blico Federal (MPF), Bumlai obteve no Banco Schahin um empr�stimo fraudulento de R$ 12 milh�es, cujo real objetivo era custear despesas do PT. Como o empr�stimo n�o foi pago, a Petrobr�s foi usada para compensar o grupo credor, firmando com a Schahin Engenharia contrato de R$ 1,6 bilh�o para operar o navio-sonda Vit�ria 10.000 .
Questionado sobre o assunto, Delc�dio declarou que a fraude era conhecida por parte do meio pol�tico e entre pessoas que ajudaram a viabiliz�-la: "Essa hist�ria das sondas do Jos� Carlos Bumlai at� a torcida do Flamengo sabia".
Delc�dio tamb�m disse que, em meio � crise gerada pela Lava Jato, se reuniu com o ex-presidente no Instituto Lula em maio de 2015, juntamente com os senadores Edison Lob�o (PMDB-MA) e Renan Calheiros (PMDB-AL). O objetivo, segundo ele, seria formar um grupo de senadores para reagir �s den�ncias frequentes que surgiam na opera��o. Esse encontro � objeto de um inqu�rito em curso pelo MPF, que suspeita de que o epis�dio foi mais uma tentativa de atrapalhar investiga��es.
Delc�dio, que era l�der do governo � �poca, explicou que havia um grupo no PT mais preocupado com os impactos da Lava Jato para o partido e o governo, no qual se inclu�a Lula. Outro grupo, alinhado com a ent�o presidente Dilma Rousseff, acreditava que a opera��o chegaria ao fim e parte dos quadros da legenda sairia dela fortalecida. "Lamentavelmente, deu no que deu."
Defesa
A defesa do ex-presidente Lula informou que as declara��es de Delc�dio do Amaral revelaram 'de forma inequ�voca' que o ex-senador tinha 'interesse pr�prio no processo de dela��o premiada de Nestor Cerver�'. "Delc�dio Amaral admitiu que se sentiu amea�ado em conversas com familiares de Cerver� diante da possibilidade de o ex-diretor da Petrobras delatar supostos recebimentos de propina por ele, Delcidio, em contratos que a Petrobras firmou com a Alston e a GE, e, ainda, por supostas contribui��es ilegais relativas � campanha de 2006 para o governo do Estado do Mato Grosso do Sul", informa nota divulgada pelos advogados do ex-presidente.
A defesa ressaltou que Cerver� reconheceu em depoimento que as investidas de Delc�dio tinham interesse de 'dissuadi-lo de delatar o pr�prio Delcidio' e que a advogada Alessi Brand�o, que assessorou o ex-diretor da Petrobr�s, confirmou o que foi dito pelo seu cliente, assim como Bernardo Cerver�.
A defesa de Lula alegou que Delcidio admitiu em seu interrogat�rio fazer uso recorrente de 'bazofia' (fanfarrice), "usando de afirma��es que n�o correspondem � realidade". "� nesse contexto que entendemos ter ele atribu�do ao ex-presidente Lula uma frase para que verificasse o que poderia ser feito para ajudar a fam�lia de Jos� Carlos Bumlai. Essa afirma��o, al�m de n�o comprovada, n�o configura qualquer tentativa de obstru��o � justi�a. Delc�dio ainda admitiu n�o haver testemunha dessa narrativa", sustenta a nota, acrescentando que "todos os demais depoimentos" colhidos na a��o penal "colidem com a vers�o de Delcidio e deixaram claro que Lula jamais fez direta ou indiretamente qualquer interven��o no processo de dela��o premiada" de Cerver�.