Bras�lia, 24 - A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) tinha conhecimento dos pagamentos il�citos feitos para a sua campanha eleitoral em 2014, disseram nesta segunda-feira, 24, o casal de marqueteiros Jo�o Santana e M�nica Moura em depoimento sigiloso no Tribunal Regional Eleitoral da Bahia, em Salvador. Segundo o casal de delatores, n�o foi tratado de assuntos financeiros da campanha com Michel Temer, ent�o candidato a vice. M�nica e Santana foram condenados pelo juiz S�rgio Moro a oito anos e quatro meses de pris�o pelos crimes de lavagem de dinheiro no esquema de corrup��o na Petrobras.
Santana conversou com a ent�o presidente da Rep�blica em meados de maio de 2014 sobre os pagamentos que seriam feitos via caixa 2. O atraso nos repasses foi tratado posteriormente por M�nica em encontros com Guido Mantega e Edinho Silva, ex-tesoureiro da campanha.
A presidente tamb�m quis saber do casal se era seguro o pagamento feito por meio de uma conta no exterior, de acordo com relatos feitos � reportagem.
O casal, respons�vel pelas campanhas de Dilma em 2010 e 2014, prestou depoimento ao ministro Herman Benjamin, no �mbito da a��o que apura se a chapa de Dilma-Temer cometeu abuso de poder pol�tico e econ�mico para se reeleger. A audi�ncia come�ou por volta das 9h20, sendo que M�nica foi a primeira a deixar o local, ao meio-dia. J� Santana deixou a sede do TRE um pouco antes das 15h.
De acordo com os depoimentos colhidos, a Odebrecht teria acertado pagar R$ 70 milh�es ao casal via caixa 1 e outros R$ 35 milh�es por meio de caixa 2. Da parte n�o contabilizada, os marqueteiros s� teriam recebido algo entre R$ 10 milh�es e R$ 12 milh�es, deixando uma "d�vida" na casa de R$ 25 milh�es. O restante do pagamento, que seria feito usando uma conta no exterior, teria ficado comprometido com o avan�o da Opera��o Lava Jato.
Delatores
Em depoimento prestado ao TSE no m�s passado, o ex-executivo da Odebrecht Hilberto Mascarenhas - que chefiou de 2006 a 2015 o Setor de Opera��es Estruturadas da Odebrecht, conhecido como departamento da propina da empreiteira - havia dito que todo o contato de pagamento ao casal era feito com M�nica, que estaria entre os "top five" - na lista dos cinco maiores recebedores de dinheiro do setor de propinas.
De acordo com outro delator da empresa, o ex-diretor de Cr�dito � Exporta��o da Odebrecht Engenharia e Constru��o Jo�o Nogueira, o empreiteiro Marcelo Odebrecht teria enviado � presidente Dilma Rousseff, por meio do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), documentos que demonstravam o caixa dois em sua campanha de 2014. Segundo Nogueira, Marcelo viajou a Belo Horizonte em 17 de dezembro de 2014 e l� se encontrou com Pimentel. Naquela ocasi�o, teria apresentado ao petista o material sobre os repasses ilegais � chapa Dilma-Michel Temer.
O delator explicou que o recado foi levado a Dilma, conforme lhe teria dito o pr�prio Pimentel numa conversa posterior, tamb�m em BH. Dilma teria pedido a Giles Azevedo, um de seus auxiliares mais pr�ximos, para ficar "em cima do tema contribui��es".
Em um dos seus depoimentos prestados no �mbito do acordo de colabora��o premiada com a Lava Jato, Marcelo assumiu pagamentos de propina para o PMDB e o PT por conta do contrato PAC SMS da diretoria Internacional da Petrobras. Segundo o delator, tanto a ex-presidente da estatal Gra�a Foster como a ex-presidente foram informadas sobre os pagamentos il�citos.
Na conversa com Dilma, segundo Marcelo, teria transparecido que a ent�o presidente queria saber se seu vice, Michel Temer, teria recebido valores oriundos do contrato.
Assalto
O ex-assistente do casal Andr� Santana relatou no TSE nesta segunda, 24, a log�stica dos pagamentos n�o contabilizados efetuados pela Odebrecht. Respons�vel por recolher o dinheiro em esp�cie na maior parte das vezes, Andr� teria sido assaltado ao deixar um hotel de S�o Paulo ap�s receber um pagamento de R$ 1,5 milh�o.
Os depoimentos de Santana, M�nica e Andr� foram pedidos pelo vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino.
Relator dos processos da Opera��o Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin homologou no dia 4 deste m�s o acordo de colabora��o premiada dos tr�s.
Procurada pela reportagem, a defesa do casal informou que reitera o "compromisso de colaborar com a Justi�a" e ressaltou que "os depoimentos prestados permanecem em sigilo tendo em vista a determina��o do STF".
Defesas
At� a publica��o deste texto, a defesa de Dilma Rousseff n�o havia se pronunciado. No entanto, h� duas semanas, a assessoria de Dilma reiterou o teor de nota j� divulgada anteriormente, na qual alegava ser mentira que tivesse conhecimento de "quaisquer situa��es ilegais que pudessem envolver a Odebrecht e seus dirigentes, al�m dos integrantes do pr�prio governo ou mesmo daqueles que atuaram na campanha da reelei��o".
"Ap�s meses de insinua��es, suspeitas infundadas e vazamentos seletivos de acusa��es feitas indevidamente por dirigentes da Odebrecht, finalmente Dilma Rousseff ter� acesso a �ntegra das declara��es. N�o conseguir�o atingir a sua honra e a sua vida p�blica, porque tais acusa��es s�o mentirosas", dizia o comunicado.
Em nota, o advogado Eug�nio Pacelli, que defende o governador de Minas, afirmou que, sobre esses fatos, "parece muito f�cil demonstrar que o delator nada diz de concreto". "Afirma ter mandado recado � ex-presidente, recado esse que seria a comprova��o de que ele poderia se transformar em um delator, se algo n�o fosse feito. Pela l�gica dele, nada se fez. Transformou-se em um. Melhor: no principal delator", diz a nota.
"O governador Fernando Pimentel esclarece que sempre teve consci�ncia da impossibilidade de qualquer interfer�ncia pol�tica na condu��o da Lava Jato. E foi esse o seu comportamento desde sempre. Tanto o juiz S�rgio Moro, quanto os membros do Minist�rio P�blico Federal s�o constitucionalmente independentes e n�o podem sofrer qualquer tipo de influ�ncia em seus atos. Jamais relataram algo nesse sentido em rela��o ao governador", completa. O advogado tamb�m diz que � importante ressaltar que tamb�m n�o houve iniciativa legislativa da ex-presidente para qualquer fim contr�rio �s investiga��es. "Precisamos de mais fatos e menos boatos!", finaliza.