Rio, 16 (AE), 16 - O procurador da Rep�blica Deltan Dallagnol, um dos respons�veis pela Opera��o Lava Jato, esquivou-se, na noite desta ter�a-feira (16), de comentar o depoimento prestado na semana passada pelo ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) ao juiz S�rgio Moro. "Vou chamar meu advogado e me reservar o direito de ficar em sil�ncio", respondeu Dallagnol, em tom de brincadeira, durante debate que marcou o lan�amento de seu livro "A Luta Contra a Corrup��o" no Rio. O procurador havia sido questionado pelo jornalista Fernando Gabeira sobre o PowerPoint que usou para acusar Lula em 2016 e que foi criticado pelo ex-presidente durante o interrogat�rio da semana passada.
Durante as quase duas horas do evento, Dallagnol contou epis�dios da Lava Jato e disse que esse � o momento de tentar mudar o Brasil, mas que tem medo "desse discurso de her�is". "Infelizmente a Lava Jato n�o transforma o Brasil. Ela pode ser um passo nessa dire��o, mas � insuficiente. N�o existem her�is na Lava Jato. Esse discurso, ao mesmo tempo em que exalta um trabalho que est� alcan�ando resultado, tem um lado ruim: nos coloca como v�timas da realidade, do passado, de uma coloniza��o portuguesa talvez burocr�tica, que trouxe a corrup��o, e nos coloca como v�timas � espera de her�is, quando nossa busca por her�is j� deu errado no passado. N�s elegemos Collor como o ca�ador de maraj�s e isso n�o deu certo. Em vez de her�is, n�s precisamos de institui��es que funcionem bem", afirmou.
Al�m do senador alagoano, Dallagnol tamb�m criticou Paulo Maluf (PP-SP). "Esses esquemas (de corrup��o) v�m de longa data", afirmou, citando texto do padre Ant�nio Vieira (1608-1697) sobre o tema, uma rima "famosa no Rio em 1850" tamb�m sobre corrup��o e uma cita��o de Get�lio Vargas (1882-1954). "Mais recentemente surgiu a express�o do pol�tico que 'rouba, mas faz'. A quem se relaciona essa express�o?", perguntou o procurador ao p�blico que assistia ao debate, no Teatro do Leblon (zona sul). "Ademar de Barros", respondeu o procurador, completando: "Esse outro que v�rios de voc�s pensaram at� isso ele roubou", completou, sendo muito aplaudido pela plateia - composta por cerca de 400 pessoas que, para ingressar no evento, compraram o livro, vendido a R$ 39,90.
Gabeira criticou Lula e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, instigando o procurador a tecer coment�rios sobre eles, mas nos dois casos Dallagnol evitou pol�mica. No caso de Gilmar Mendes, o jornalista afirmou que "a maioria dos casos (judiciais) n�o chega ao Supremo" porque o r�u comum, ao contr�rio de alguns alvos da Lava Jato, "n�o tem uma banca de advogados capaz de alavancar o tema at� a mesa do Supremo (Tribunal Federal) e, se tiver boa pontaria, precisamente na mesa do Gilmar". Sem citar o ministro do STF, o procurador respondeu que � comum o r�u apontar erros no processo para tentar evitar que o juiz chegue ao m�rito, quando analisa a acusa��o propriamente dita.
Ao citar Lula e a mulher dele, Marisa, Gabeira afirmou que "uma das grandes cr�ticas que foram feitas ao seu trabalho foi a apresenta��o de um PowerPoint. � uma coisa comum, mas acho que voc� cometeu um erro, porque ali voc� diz que o Lula � o comandante de tudo isso, e agora n�s ficamos sabendo que ele � apenas o chefe", disse Gabeira, induzindo a plateia a concluir que a comandante seria Marisa, morta em fevereiro passado. Foi em resposta a esse coment�rio que Dallagnol disse, entre risos, que se reservaria o direito de ficar em sil�ncio.
(Fabio Grellet)