Bras�lia, 10 - A suspeita de jogo duplo do ex-procurador Marcelo Miller, que conversava com executivos da J&F enquanto ainda ocupava uma cadeira no Minist�rio P�blico Federal, abriu uma crise na c�pula da Procuradoria-Geral da Rep�blica e colocou press�o sobre a equipe que vai atuar com Raquel Dodge, sucessora do procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, a partir do dia 18.
O clima que j� era tenso desde maio, quando o atual procurador-geral pediu a pris�o de procurador da Rep�blica �ngelo Goulart, flagrado passando informa��es privilegiadas a um advogado, a sensa��o foi de consterna��o. Janot disse ter at� vomitado quando Goulart foi preso.
Agora, a situa��o � pior. Auxiliares pr�ximos do procurador-geral avaliam que a conduta de Miller � grav�ssima. Ele teria sido �cooptado� pela J&F para obstruir a Justi�a e vendeu a ideia de que poderia salvar Joesley Batista. Para um procurador pr�ximo a Janot, ele �enganou todo mundo�. A primeira palavra na c�pula da PGR quando o nome do ex-colega � mencionado � �traidor�.
Na sexta-feira, Janot pediu a pris�o de Miller. Procurado, o ex-procurador afirmou que n�o cometeu �qualquer crime ou ato de improbidade administrativa� e est� disposi��o das autoridades�. Para tentar evitar ser preso, os advogados colocaram ontem seu passaporte � disposi��o da Justi�a. Para a defesa, n�o h� raz�o para Miller ser mandado para a cadeia.
Altera��es - Janot vive seu momento mais tenso a frente da PGR, como o pr�prio definiu. A press�o criou uma instabilidade at�pica no processo de transi��o de comando da Procuradoria colocando ainda mais foco na equipe que se forma em torno de sua sucessora. Raquel j� anunciou os principais nomes do seu time, mas restam inc�gnitas importantes, como a defini��o do novo grupo de trabalho da Lava Jato - do qual Miller fez parte.
Raquel pediu que Janot, com quem mant�m uma rela��o apenas cordial, que convidasse os atuais integrantes do grupo para permanecer no posto. Mas a avalia��o interna � de que o convite foi apenas �protocolar�. A futura procuradora-geral n�o pretende, a longo prazo, manter os integrantes da equipe montada pelo seu antecessor. Isso porque as suspeitas sobre Miller abriram brecha para que as cr�ticas de opositores de Janot no �rg�o ganhassem for�a.
Desde os primeiros trope�os da principal opera��o de corrup��o do Pa�s, o grupo cr�tico faz quest�o de alardear nos corredores que ele n�o prestigiou a experi�ncia dos subprocuradores-gerais da Rep�blica - muitos dos quais s�o seus contempor�neos -, preferindo procuradores regionais. Com suas escolhas, Janot ampliou o n�mero de colegas de �fora� da PGR, o que motivou a censuras internas. A queda de Miller foi a tempestade perfeita para o ataque a equipe de Janot. Verborr�gico e pol�mico, como avaliam ex-colegas da PGR, o ex-procurador despertava inimizades.
Equipe- O grupo atual de trabalho da Lava Jato tem dez integrantes e � coordenado pelo procurador S�rgio Bruno. At� agora, Raquel anunciou dois nomes que entrar�o nele: Alexandre Espinosa e Jos� Alfredo de Paula Silva. Ela tamb�m modificou a estrutura do gabinete, subordinando a equipe � Raquel Branquinho - considerada linha dura na condu��o de investiga��es criminais. Os outros nomes v�o depender do desenrolar das pr�ximas semanas. Parte da equipe j� sinalizou que n�o h� clima para continuar.
Na �ltima semana, Raquel evitou coment�rios p�blicos sobre o imbr�glio J&F/Miller. Antes do in�cio da sess�o do Conselho Superior do MPF, na ter�a-feira, Janot chamou Raquel em um canto e conversou com sua sucessora por cerca de cinco minutos. Ao fim da sess�o, em discurso, Janot se emocionou ao falar de dificuldades no cargo e disse a Raquel: �Nos momentos dif�ceis, n�o desanime; converse�.
Raquel tem evitado conversar. Ela costuma frisar que seu mandato s� come�a a partir do dia 18. At� l�, os problemas da casa s�o de Janot.
Passaportes - A defesa de Joesley Batista e Ricardo Saud, delatores do Grupo J&F, pediu na madrugada de ontem para ser ouvida pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, antes de decidir sobre o pedido de pris�o apresentado pela Procuradoria-Geral da Rep�blica na noite desta sexta-feira, 8. Na manifesta��o, tamb�m informa que os delatores deixam os passaportes � disposi��o da Justi�a e que est�o dispon�veis a prestar qualquer esclarecimento necess�rio. �Caso haja qualquer d�vida sobre a inten��o dos Peticion�rios em submeterem-se � lei penal, ambos desde j� deixam � disposi��o seus passaportes, aproveitando para informar que se colocam � disposi��o para comparecerem a todos os atos processuais�, afirmou o advogado Pierpaolo Cruz Bottini. (Colaboraram Breno Pires e Rafael Moraes Moura) As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
(beatriz bulla)