
O novo diretor-geral da Pol�cia Federal, Fernando Seg�via, nomeado ontem pelo presidente Michel Temer, assume o cargo com o desafio de manter o andamento da Opera��o Lava-Jato. Em um momento em que as investiga��es avan�am nas esferas estaduais, o delegado chega com a miss�o de dialogar com os �rg�os envolvidos e dar continuidade �s investiga��es que apuram crimes contra os cofres da Petrobras.
A Lava-Jato � a maior investiga��o da hist�ria da corpora��o e envolve pol�ticos e autoridades com foro privilegiado que est�o no alvo das a��es policiais. Com 22 anos de carreira dentro da corpora��o, Seg�via recebeu a aceita��o das entidades de classe e provoca suspense entre parlamentares. No Congresso, a repercuss�o da troca de comando foi imediata. De acordo com a assessoria da PF, a cerim�nia de posse ser� no pr�ximo dia 20.
O atual diretor, Leandro Daiello, deixa o cargo ap�s quase sete anos — ele � o delegado que permaneceu mais tempo � frente da Pol�cia Federal desde a redemocratiza��o. Antes dele, Moacyr Coelho ocupou o cargo por 11 anos. Daiello atuou durante o mandato de cinco ministros da Justi�a e a troca do posto era cogitada desde o m�s de maio, quando o ent�o ministro da Justi�a, Alexandre de Moraes, passou a responder pela pasta. Pelo menos cinco nomes foram cotados para o cargo. O presidente Michel Temer realizou diversas reuni�es com o ministro da Justi�a, Torquato Jardim, para discutir o assunto. A preocupa��o era escolher delegado que afastasse a suspeita de tentativa de interfer�ncia pol�tica na Lava-Jato.
Press�o
Torquato sugeriu o nome de Rog�rio Galloro, atualmente o n�mero 2 da corpora��o. Mas Temer decidiu por uma escolha mais pessoal para conduzir os rumos de 146 mil investiga��es que est�o em andamento nas 27 unidades da PF nos estados e no Distrito Federal. O governo sofreu press�o do PMDB para realizar a mudan�a. De acordo com fontes da PF, o ex-presidente Jos� Sarney teve papel crucial na escolha do novo diretor. Procurado pela reportagem, Sarney negou que tenha influenciado na escolha. “N�o indiquei o senhor Seg�via nem fiz qualquer gest�o junto ao presidente Temer para que fosse nomeado. O fato de que foi Superintendente da Pol�cia Federal no Maranh�o n�o significa que sejamos pr�ximos. Enquanto esteve no Maranh�o, ocupando o cargo — durante o governo de Jackson Lago —, n�o estive com ele nem uma vez”, disse.
O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) pediu que a sociedade fiscalize o novo diretor. “Essa tentativa de limitar as investiga��es da Lava-Jato n�o est� come�ando agora, apenas est� se concretizando. � preciso acompanhar com aten��o esta nova composi��o da dire��o da PF. A casta pol�tica est� agindo para manter uma articula��o antiga em favor de seus interesses”, completou. O deputado Major Ol�mpio (SD-SP) n�o v� risco para os trabalhos desenvolvidos pela institui��o. “A PF � uma corpora��o s�lida. Isso n�o muda em nada os trabalhos que v�m sendo realizados. A lei e o compromisso da institui��o continuam da mesma forma e isso n�o afeta as investiga��es”, disse.
Entre os integrantes da institui��o, as rea��es foram de surpresa diante da decis�o do presidente em mudar a gest�o. Um delegado, com mais de 15 anos na PF, que preferiu n�o se identificar, criticou a forma como a altera��o na gest�o foi anunciada. “O presidente tem autonomia para definir quem ocupa o cargo m�ximo na PF. Mas esse tipo de mudan�a deve ser feita com calma e tranquilidade. Estamos em um per�odo em que qualquer a��o levanta suspeitas sobre interfer�ncia nas investiga��es. A PF n�o pode ficar sujeita a essa instabilidade e inger�ncia pol�tica. O ideal seria estabelecer tempo de gest�o m�nima para o diretor-geral a fim de evitar qualquer a��o que prejudique o trabalho que as equipes v�m fazendo.”
As entidades de classe reagiram positivamente e manifestaram apoio ao delegado Fernando Seg�via. A Associa��o Nacional dos Delegados da Pol�cia Federal (ADPF) ressaltou, em nota, a experi�ncia de Seg�via na corpora��o. “A associa��o deseja sorte e sucesso ao novo diretor-geral, Fernando Serg�via, servidor com mais de duas d�cadas dedicadas � Pol�cia Federal.” No entanto, a ADPF defendeu mudan�as na escolha dos ocupantes do cargo. “Uma das nossas principais bandeiras � a mudan�a na forma de escolha do diretor. Essa decis�o deve ocorrer por meio de lista tr�plice, votada pelos delegados, assim como ocorre em outras institui��es”, completou o comunicado.
O escriv�o Fl�vio Werneck, vice-presidente da Federa��o Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), destacou que a troca de comando n�o era esperada neste momento. “Os policiais federais foram pegos de surpresa com a decis�o de mudar o comando da PF. Defendemos que a escolha sempre priorize algu�m com preparo de gest�o e atente � meritocracia. No entanto, a escolha do delegado Fernando Seg�via est� em conformidade com as regras atuais de escolha do diretor-geral”, ressaltou.
O novo diretor
Fernando Seg�via � graduado em direito pela Universidade de Bras�lia (UnB) e ingressou na Pol�cia Federal ainda em 1995. O delegado atuou no servi�o de intelig�ncia da corpora��o, que investiga os crimes que ocorrem principalmente nas fronteiras brasileiras. Com larga experi�ncia no combate ao narcotr�fico e na atua��o contra organiza��es criminosas, assumiu a Superintend�ncia da PF no Maranh�o em 2008. Tamb�m foi adido policial do Brasil na �frica do Sul. Seg�via atuou ainda em opera��es como Rapina III, que investigou desvios de at� R$ 30 milh�es em contratos p�blicos de tr�s cidades do Maranh�o.
Apesar do tempo de corpora��o, o curr�culo dele � apontado como t�mido por delegados frente a import�ncia do cargo.