S�o Paulo, 15 - Indicado para substituir Leandro Daiello, diretor-geral da Pol�cia Federal mais longevo do per�odo democr�tico, o delegado Fernando Segovia recha�a a possibilidade de press�es pol�ticas interferirem nas investiga��es em andamento, promete dar mais velocidade aos inqu�ritos contra pol�ticos e afirma ter como meta de gest�o a unifica��o da corpora��o respons�vel pelas maiores opera��es de combate � corrup��o do Brasil.
Segovia falou ao jornal
O Estado de S.Paulo
na sede da PF, em Bras�lia, na tarde desta ter�a-feira, 14.
O novo diretor da PF negou indica��o pol�tica de seu nome para o cargo e disse que n�o tem rela��o com o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e com o ex-presidente Jos� Sarney, ambos do PMDB. Sobre o ministro do Tribunal de Contas da Uni�o (TCU), Augusto Nardes, o delegado afirmou que a rela��o se deu por causa de um convite para cria��o de um gabinete de seguran�a institucional na corte.
Sobre a gest�o na PF, o delegado disse que pretende dar um �upgrade� na equipe que cuida dos inqu�ritos de pol�ticos para que eles tenham a mesma velocidade das investiga��es conduzidas na primeira inst�ncia. �Como h� essa demanda reprimida dentro do STF (Supremo Tribunal Federal) e a necessidade que se tragam essas investiga��es na mesma velocidade das outras, talvez haja necessidade de refor�o nessas investiga��es.�
ESTADO � O senhor � apontado como apadrinhado pol�tico do ministro Eliseu Padilha, do ex-presidente Jos� Sarney e do ministro do TCU Augusto Nardes. Qual sua rela��o com eles?
FERNANDO SEGOVIA � N�o tenho rela��o nenhuma nem com o ministro Padilha, nem com o ex-presidente Sarney. O ministro Nardes conheci em miss�o na �frica do Sul. Ele foi trabalhar l�, como eu era adido policial, foi pedido que eu fizesse trabalho de apoio e seguran�a. Eu o acompanhei, conversamos v�rios assuntos e quando a gente voltou para o Brasil o ministro conversou com o Leandro Daiello sobre a possibilidade de eu ajudar no TCU para que fosse feito l� um gabinete de seguran�a institucional. O ministro Nardes conversou com o ministro Raimundo Carreiro, presidente do TCU, e me chamaram no gabinete para falar sobre a import�ncia da cria��o do gabinete de seguran�a. A partir dessa conversa o ministro Carreiro veio na PF, conversou com Daiello e acertaram minha ida para o TCU. Foi feita a formaliza��o na �poca do ex-ministro Osmar Serraglio, s� que quando ia come�ar a rodar o documento, o ministro Serraglio caiu. Quando ele caiu, o ministro Raimundo ficou esperando um novo momento para haver essa nova agenda, mas nunca houve. Nesse meio tempo conheci o ministro Nardes, fui na casa dele uma vez, em um jantar, falamos sobre seguran�a institucional e nada mais do que isso. J� o ministro Padilha eu n�o o conhe�o pessoalmente. Conheci no Pal�cio do Planalto quando teve a confirma��o da indica��o. Fui apresentado e conversamos uns dez minutos. Dizer que eu sou apadrinhado do Sarney, eu n�o o conheci em momento algum quando estava no Maranh�o, encontrei com ele uma �nica vez aqui em Bras�lia em uma solenidade.
ESTADO � A casa em que o sr. morava no Maranh�o n�o era de pessoas ligadas a Sarney?
SEGOVIA � Cheguei no Maranh�o e a superintend�ncia tinha l� uma pessoa que falou: temos aqui duas imobili�rias que podem atender o senhor. Sa� com minha esposa na �poca e a gente foi rodando e olhando as casas. No final a gente achou essa casa. Saber quem construiu, onde foi feita, pelo amor de Deus.
ESTADO � Onde e quando foi o encontro com o ex-presidente Sarney?
SEGOVIA � N�o lembro. Acho que foi no Congresso, na �poca ele ainda que era senador. Naquelas galerias do Senado, quando eu estava ainda fazendo, acho que a PEC 37. Faz muito tempo.
ESTADO � A quem se deve sua indica��o?
SEGOVIA � At� eu fiquei intrigado para saber como foi essa constru��o toda. Quem me contou foram algumas pessoas daqui (PF) mesmo. O doutor Daiello, que estava querendo a transi��o porque estava cansado, resolveu mandar uma lista para o ministro da Justi�a com os nomes de delegados que poderiam suceder-lhe. O Daiello escrevendo a lista colocou primeiro os da sua diretoria, depois os superintendentes regionais e, por fim, os adidos policiais. Eu estava retornando naquela �poca e ele falou: �Dos adidos s� tenho um: o Fernando Segovia�. Eu fui o 9.� nome dessa lista que saiu daqui e foi parar no Minist�rio da Justi�a.
ESTADO � O senhor credita a quem essas afirma��es sobre seu apadrinhamento pol�tico?
SEGOVIA � Eu credito a maioria dessas informa��es a pessoas que n�o queriam me ver sentado aqui como diretor da PF. � muito mais f�cil voc� dizer que o diretor-geral � ligado ao Sarney porque haveria uma resist�ncia ao meu nome. Isso era uma pecha que os meus opositores, que n�o queriam me ver sentado nessa cadeira, tentaram.
ESTADO � Quem seriam esses opositores ao seu nome?
SEGOVIA � Ganhei muitos inimigos aqui dentro porque penso, justamente, em uni�o. Penso em uma PF unida, sem distin��o de cargos e categorias. Leia-se, claramente, dentro do campo profissional. Cada um tem seu lugar dentro da corpora��o. Enquanto alguns acham que mandam na corpora��o e que os outros s�o servi�ais. Eu acredito em equipe e que todos aqui fazem parte de um grande time que chama PF.
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ESTADO � O que o ministro Torquato Jardim disse ao senhor nas conversas?
SEGOVIA � Ele quer primeiro o fortalecimento da PF como um todo. Principalmente uma proje��o maior da PF no cen�rio internacional. Essa vis�o macro � muito mais importante hoje, porque o crime transacional tem de ser combatido com mais for�a. Essa vis�o m�ope que temos tido nos �ltimos anos de olhar o problema s� na raiz, n�o estamos vendo o macro. N�o adianta apreender fuzil no Rio de Janeiro se voc� n�o parar o fluxo de fuzis chegando.
ESTADO � Como est� sua rela��o com o ministro da Justi�a?
SEGOVIA � Por incr�vel que pare�a, eu tenho conversado com o ministro raramente. Hoje (ter�a-feira) eu estou indo l� conversar com ele. � uma din�mica muito simples, o ministro falou: �A porta est� sempre aberta�, ent�o quando eu precisar � s� eu chegar l� que a porta estar� aberta. � uma rela��o muito tranquila e muito aberta.
ESTADO � Foi dito que o ministro tinha prefer�ncia pelo delegado Rog�rio Galloro. Isso causou estresse na rela��o de voc�s?
SEGOVIA � N�o. Eu acho que houve talvez uma manipula��o. Eu e o ministro da Justi�a trabalhamos tranquilamente, sem nenhum problema. A gente trata de alguns assuntos e pensamentos na �rea de seguran�a p�blica.
ESTADO � Como foi sua conversa com o presidente Michel Temer?
SEGOVIA � O presidente Michel Temer me chamou no s�bado � tarde no Pal�cio do Jaburu. Ele queria conversar sobre alguns temas da PF e saber o que eu achava. A ideia � que a PF cumpra fielmente a Constitui��o e todas as leis. A gente percebe que algumas investiga��es ao longo da hist�ria da PF tiveram alguns desvios dentro das linhas investigativas. Alguns delegados nossos tiveram alguns desvios no sentido, eu diria, at� pol�tico-partid�rios. Ent�o h� uma necessidade muito grande de que a PF tenha um trabalho muito profissional que busque somente a verdade. Tudo o que a gente fizer tem que ter o eixo da legalidade e n�o desviar qualquer tipo de a��o da PF, at� porque o ano que vem � delicad�ssimo por quest�es pol�tico-partid�rias. A gente vai ter que trabalhar no limite da lei, para que n�o haja nenhum tipo de desvio. Por isso vai haver um controle em todas as superintend�ncias, para que nenhuma superintend�ncia, nenhum delegado, possa vir a tentar fazer nenhum tipo de a��o que desvirtue ou atrapalhe o processo eleitoral do ano que vem.
ESTADO � Como o senhor pretende lidar com a Lava Jato? Pretende mudar as equipes?
SEGOVIA � Equipe pode mudar? Pode. Eu n�o costumo interferir em equipe. Eu tenho a minha equipe, eu nomeio os meus diretores, os meus superintendentes. Agora quem meus diretores colocam nas equipes deles e quem meus superintendentes colocam nas equipes deles eu n�o, vamos dizer, eu n�o interfiro. Exceto se eu vir que � um problema s�rio. Se pega uma pessoa e coloca muito errado em determinado ponto eu posso intervir, porque eu tenho que zelar pela administra��o como um todo.
ESTADO � O senhor pretende blindar as investiga��es?
SEGOVIA � Hoje todas as opera��es s�o blindadas. A investiga��o policial � sigilosa, o que vai guardar qualquer blindagem � o sigilo. Temos que trabalhar em sil�ncio, discretamente, investigando seriamente, colhendo provas da maneira que o C�digo Penal e a Constitui��o demandam. No momento certo, quando houver a maturidade da opera��o e houver necessidade, quem vai determinar a quebra do sigilo � o juiz. Ent�o, foi at� a pauta da conversa que tive com doutora Raquel Dodge (procuradora-geral da Rep�blica) em que fomos un�ssonos sobre o que vai nos blindar � o nosso trabalho.
ESTADO � At� 2007, as investiga��o de combate ao crime organizado ficavam centralizadas em Bras�lia e depois foram descentralizadas. O senhor pretende manter assim?
SEGOVIA � J� existem dentro das superintend�ncias delegacias especializadas em combate ao crime organizado, elas v�o coordenar essas opera��es nos Estados e o dr. Eug�nio (Eug�nio Ricas novo diretor de Combate ao Crime Organizado), que ser� o grande gestor, vai coordenar e controlar essas opera��es. Ent�o h� todo um sistema de controle, feedback e retroalimenta��o do sistema. Temos hoje uma demanda represada de inqu�ritos e investiga��es dentro do STF. E houve at� um reclame de alguns ministros de que as investiga��es est�o lentas, talvez seja o momento de a PF, quem sabe, dar um upgrade na equipe de investiga��es do STF para que haja uma velocidade.
ESTADO � Como ser� esse controle?
SEGOVIA � Quando eu uso a palavra controle ela vem da administra��o. Das defini��es de controle como ferramenta de gest�o, n�o � um controle de coer��o, n�o vou estar verificando rumos. N�o � controle de conte�do, � o controle de prazos, de gerir os dados.
ESTADO � O senhor disse que pretende dar um �upgrade� nas investiga��es de pessoas com foro privilegiado�
SEGOVIA � Como h� essa demanda reprimida dentro do STF e necessidade de que se tragam essas investiga��es na mesma velocidade das outras, talvez haja necessidade de refor�o nessas investiga��es.Vamos sentar com o dr. Eug�nio Ricas, que deve assumir na semana que vem, e ele que vai fazer essa an�lise para ver se h� ou n�o necessidade de refor�o.
ESTADO � O que a classe pol�tica deve esperar da sua gest�o?
SEGOVIA � O que todos esperam � que a PF seja Republicana, que ela siga a Constitui��o Federal. N�o fique fazendo, como j� aconteceu, pirotecnia para que alguns delegados ou procuradores se promovam com base das investiga��es. Isso j� aconteceu, em que alguns tentavam ganhos pol�ticos e at� candidaturas em cima de opera��es da PF. A PF tem que ser isenta, principalmente, no processo eleitoral que vai se iniciar.
ESTADO � Na Lava Jato houve algum tipo de atua��o pol�tico-partid�ria?
SEGOVIA � Existem rumores, existem pessoas quem falam de alguns casos, especialmente, de um grampo na �poca do (Alberto) Youssef e parece que a PF tem algumas investiga��es na Corregedoria. Mas todas essas suposi��es est�o sendo averiguadas. Qualquer desvio de conduta de delegado nosso n�s faremos averigua��o.
ESTADO � O Minist�rio P�blico Federal levou ao Supremo Tribunal Federal o pedido para que PF n�o possa fazer dela��o. Acha que o MPF pode concordar em PF fazer dela��o?
SEGOVIA � Talvez at� concorde. Essa quest�o de dela��o � pontual. Temos milhares de inqu�ritos, porque teria que ser sempre um procurador da Rep�blica a ter esse tipo de trabalho, um delegado nosso poderia auxiliar. At� porque est� na lei, foi colocado l� pra isso porque a gente sabe que � melhor todo mundo trabalhar junto em prol da investiga��o criminal. A dela��o � uma ferramenta de investiga��o, ent�o n�o pode ser confundida com o monop�lio de um dos lados.
ESTADO � O senhor disse que pretende mudar todas as diretorias da PF. As 27 superintend�ncias ter�o novos chefes?
SEGOVIA � Nas superintend�ncias tamb�m v�o ser feitas algumas mudan�as, porque s�o cargos de confian�a. Cargos de confian�a voc� entrega para pessoas em que voc� confia e que t�m o perfil daquela administra��o. Ent�o o que acontece? Como meu perfil n�o � muito parecido com o do doutor Leandro Daiello, acho que vou procurar pessoas mais alinhadas ao meu perfil, ao meu estilo de administrar. (�) A partir da tarde do dia 20 e o dia 21 inteiro vou ter reuni�o com cada um dos superintendentes regionais, vou ter uma conversa com cada um deles sobre a perman�ncia ou n�o de cada um deles � frente da superintend�ncia. Devo exonerar os que n�o coadunam com a maneira com que eu vou gerir e os que eu achar que devo manter, vou mant�-los na equipe.
ESTADO � Como pretende unificar a PF?
SEGOVIA � Tive um conversa com todas as associa��es, sindicatos, e fui claro: �Olha, houve esse tempo de diverg�ncia na PF, s� que a partir de agora estamos abrindo um novo tempo�. (�) Estou nomeando uma nova assessora parlamentar na PF, que vai ficar respons�vel pela coordena��o de um grupo de trabalho que vai compor com todas as associa��es e sindicatos da PF, e a gente vai reunir todas as demandas, para que a gente coloque numa mesa de negocia��o com todas as associa��es. Tudo que houver uma concord�ncia, tudo o que for proposta comum que vai colocar nessa mesa de negocia��o, vai receber a chancela da administra��o.
ESTADO � Um dos motivos das brigas � para que outras carreiras, n�o s� delegados, possam ocupar cargos de chefia.
SEGOVIA � A gente vai fazer uma equipe, inclusive um de cada categoria, vai haver agente, escriv�o, papiloscopista, perito. Vai ter um de cada dentro da assessoria parlamentar, mas todos trabalhando no projeto conjunto.
ESTADO � O senhor � favor�vel a retirar da PF alguns setores como passaportes, controle de armas e produtos qu�micos, o que vem sendo chamado de moderniza��o?
SEGOVIA � Isso n�o � moderniza��o. As pessoas que tentaram me derrubar ou quiseram criar hist�rias contra mim para que eu n�o conseguisse alcan�ar a cadeira de diretor-geral s�o as que promovem esse tipo de desagrega��o. Isso para mim � uma grande estrat�gia at� para destruir a PF. Porque a PF tem uma estrutura constitucional, de ag�ncia de Estado que v�rios pa�ses no mundo gostariam de ter. A PF foi concebida como uma pol�cia do Brasil e ela �.
(Fabio Serapi�o)