Bras�lia, 26, 26 - A per�cia realizada pela Pol�cia Federal nos sistemas de comunica��o e contabilidade da Odebrecht no curso de a��o penal contra o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva permitiu a descoberta de que a empresa n�o havia entregado todas as evid�ncias que existiam em seus servidores. A informa��o consta no laudo de mais de 300 p�ginas elaborado pelos peritos criminais federais divulgado pela PF na semana passada.
Os peritos questionaram no dia 7 de fevereiro a Odebrecht sobre a aus�ncia de uma m�dia que havia sido listada pela Forensic Risk Alliance (FRA), empresa baseada em Londres que realizou a c�pia dos dados dos servidores f�sicos da Odebrecht instalados na Europa. Um dia ap�s a PF solicitar � Odebrecht esse material, a empresa brasileira encaminhou um pendrive contendo os arquivos relacionados pela FRA.
O pendrive que faltava continha um total de 87.866 arquivos ativos. S�o 6.151 documentos, 86 planilhas, 107 e-mails, 63 bases de dados, 3.443 arquivos multim�dia (�udios, imagens e v�deos), 13.689 programas e outros 64.327 arquivos. Al�m disso, h� 77.386 arquivos apagados que, no entanto, podem serem recuperados. O total de dados � de 13 gigabytes.
A per�cia foi determinada pelo juiz S�rgio Moro, da 13� Vara Federal Criminal de Curitiba, a pedido da defesa de Lula, na a��o penal que investiga se o ex-presidente Lula foi beneficiado em compra de im�vel de R$ 12 milh�es para o Instituto Lula.
"Em 06/02/2018 foi recebida, da empresa FRA, uma planilha eletr�nica contendo listagem de arquivos e respectivos hashes das evid�ncias obtidas por essa empresa. No dia seguinte (07/02/2018), observou-se que nessa listagem de hashes foi citada a evid�ncia "00051547", entretanto n�o foram encontrados arquivos relacionados a esta evid�ncia no material recebido at� essa data. Nesse mesmo dia (07/02/2018), foi solicitado � Odebrecht que encaminhasse o conte�do referente a essa evid�ncia. Em 08/02/2018, nas depend�ncias da SR?PF?PR (Superintend�ncia Regional da Pol�cia Federal do Paran�), foi recebido um pendrive contendo essas informa��es, o qual foi cadastrado no Sistema de Criminal�stica (SISCRIM) sob o n� 0361/2018-SETEC/SR/PF/PR", diz o laudo pericial.
Os peritos fizeram uma an�lise sobre esse material adicional encaminhado pela Odebrecht, especificamente focados na investiga��o envolvendo o presidente Lula, mas n�o identificaram conte�dos significativos para o caso concreto que motivou a per�cia. Isso n�o significa que n�o haja conte�dos relevantes para outras investiga��es. Uma nova an�lise do material poder� ser feita se houver alguma solicita��o das autoridades de investiga��o (MPF ou PF), que teria de passar pela Justi�a.
� Pol�cia Federal, a Odebrecht entregou, junto com o pendrive, "um documento explicando que tal evid�ncia foi recuperada pela FRA ap�s o fornecimento da senha de acesso por um funcion�rio da Odebrecht", segundo o laudo pericial.
A Odebrecht explicou � PF que n�o havia recebido da FRA a m�dia em quest�o. E explicou que n�o tinha na base de dados os arquivos referentes ao Hash de c�digo 51547 e que por isso havia solicitado em dezembro um esclarecimento da FRA, que n�o havia sido respondido na �poca.
Questionada pela reportagem sobre a n�o entrega do pendrive, a Odebrecht manifestou-se apenas por nota, sem mencionar o epis�dio.
"A Odebrecht vem cumprindo rigorosamente as obriga��es estabelecidas nas cl�usulas do acordo firmado com o Minist�rio P�blico Federal, que preveem a colabora��o continuada da empresa com a Justi�a, inclusive com a apresenta��o de 'documentos, informa��es e outros materiais relevantes e suplementares descobertos ap�s a celebra��o deste Acordo'. No caso em quest�o, a per�cia da Pol�cia Federal determinou que 99,96% dos arquivos examinados est�o �ntegros e s�o aut�nticos. A empresa est� oferecendo todo apoio ao trabalho de per�cia, de modo a esclarecer eventuais d�vidas", diz a nota da Odebrecht.
Caixa de Pandora.
O laudo pericial no caso de Lula, feito a pedido da defesa do ex-presidente e por determina��o do juiz S�rgio Moro, possibilitou o mapeamento mais amplo at� agora da base de dados dos sistemas de armazenamento de informa��es da Odebrecht.
Com 13 gigabytes, o pendrive faltante � uma pequena fra��o do total de 54 terabytes do conjunto de m�dias entregues pela Odebrecht ao Minist�rio P�blico Federal e disponibilizadas � Pol�cia Federal por decis�o do juiz S�rgio Moro, da 13� Vara Federal Criminal de Curitiba.
O presidente da Associa��o Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo, disse ter conhecimento de que existem outras solicita��es de laudos periciais nos sistemas da Odebrecht para a apura��o de crimes investigados em outros processos, mas n�o soube precisar o n�mero.
Ao se referir ao conjunto de dados que podem ser examinados, o presidente da APCF afirma que se est� diante de uma "caixa de Pandora". A express�o que remete a um artefato descrito na mitologia grega como o recipiente de todos os males do mundo.
Camargo afirmou que a identifica��o destes arquivos � um exemplo da necessidade de realiza��o de per�cia em um n�mero maior de investiga��es. Ele ressaltou que o Minist�rio P�blico Federal n�o havia pedido a per�cia nos sistemas da Odebrecht.
(Breno Pires)