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Estado de Minas

'N�o se faz pol�tica com intoler�ncia', diz pr�-candidato a presidente da Rep�blica

Para Guilherme Boulos (Psol), defender igualdade social virou coisa de radical


postado em 23/04/2018 06:00 / atualizado em 23/04/2018 09:05

'O Estado funciona como Robin Hood ao contrário. Tira dos pobres e dá aos ricos por um sistema tributário injusto'(foto: Alexandre Guzanche/EM/D.A Press)
'O Estado funciona como Robin Hood ao contr�rio. Tira dos pobres e d� aos ricos por um sistema tribut�rio injusto' (foto: Alexandre Guzanche/EM/D.A Press)

Como nunca antes, Guilherme Boulos, de 35 anos, ganhou proje��o nacional nas �ltimas semanas. L�der do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), ele apareceu ao lado do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, em S�o Bernardo do Campo. No discurso que fez antes de se apresentar � Pol�cia Federal, Lula citou Boulos e disse que “esse menino tem futuro”. O fil�sofo e psicanalista se encantou pela luta por moradia. Por causa dela, foi morar em ocupa��o, j� foi preso algumas vezes e, agora, conquista espa�o na pol�tica e � pr�-candidato � Presid�ncia da Rep�blica pelo Psol. Em entrevista ao Estado de Minas, ele afirma que tem diferen�as pol�ticas com Lula e ressalta que alian�a da esquerda nas elei��es ainda n�o est� em jogo.

 


Na �ltima segunda-feira, o MTST ocupou o triplex do Guaruj�. Qual foi o impacto efetivo dessa a��o?

O objetivo dessa a��o era escancarar a farsa judicial que levou � condena��o e � pris�o do Lula. A completa disparidade com que ele foi tratado. Entendemos que ele foi condenado sem nenhuma prova, que foi uma decis�o pol�tica do juiz S�rgio Moro, com a inten��o clara de retir�-lo do jogo eleitoral. Ocupar o triplex era criar uma situa��o de quem pediria a retirada. Se era do Lula, s� o Lula poderia pedir a retirada.

Mas o MTST acabou sendo retirado pela pol�cia poucas horas depois...
A pol�cia chegou dando um prazo dizendo que prenderia todo mundo sem qualquer ordem judicial, o que foi tamb�m uma arbitrariedade. Mas achamos que o objetivo da a��o, de mostrar a falta de materialidade da condena��o do Lula, foi cumprido. Al�m disso, parecia-se falar de um palacete suntuoso e as imagens mostraram ser descabido falar de reforma de R$ 800 mil naquele apartamento.

A pris�o de Lula uniu a esquerda?
Defendemos o direito de Lula ser candidato. N�o porque concordamos com as propostas que o PT apresenta para o pa�s. Essa n�o � uma quest�o do Lula ou do PT, mas de defender a democracia. Come�ou com o Lula e n�o para nele. Sou pr�-candidato � Presid�ncia da Rep�blica pelo Psol, que teve diferen�as e cr�ticas durante os 13 anos do governo do PT. Expressamos as limita��es que esses governos tiveram, de n�o ter pautado uma reforma pol�tica, de ter baseado a governabilidade nas mesmas for�as que sempre mandaram no Brasil, de n�o ter pautado uma reforma tribut�ria progressiva e n�o ter feito uma regula��o do sistema financeiro do Brasil.

Sua imagem ficou bastante associada � de Lula antes da pris�o do ex-presidente. Voc� estava ao lado dele em S�o Bernardo do Campo e Lula citou seu nome ao discursar. A sua candidatura se apresenta como alternativa caso ele n�o concorra?
De todas as coisas que nos diferenciam da direita, talvez as mais importantes sejam generosidade e solidariedade. N�o vou tratar como inimigo algu�m que tenha diferen�a pol�tica. O pr�prio fato de eu ser pr�-candidato � Presid�ncia da Rep�blica pelo Psol, numa alian�a com movimentos sociais, � a maior express�o dessas diferen�as.

H� possibilidade de uma alian�a ampla entre partidos de esquerda?

Isso n�o est� colocado hoje. A frente que estamos defendendo � uma frente ampla pra defender a democracia. Vivemos a maior crise democr�tica desde o regime militar. Uma escalada de viol�ncia pol�tica, de intoler�ncia, de �dio, expressa por Jair Bolsonaro, pelo assassinato da Marielle, um brutal crime pol�tico, pela politiza��o do Judici�rio, se comportando como Legislativo e Executivo, por militares come�ando a querer dar as cartas na pol�tica. Todos esses fatores acendem uma luz amarela e fazem com que aqueles que t�m um compromisso com a democracia estejam juntos.

 

A direita vem se fortalecendo no pa�s nos �ltimos anos. De que forma a esquerda vai reagir para ganhar espa�o?
Existem projetos diferentes na esquerda e a diversidade precisa ser considerada e respeitada. N�o podemos jogar a diferen�a pra debaixo do tapete. N�o se faz pol�tica com intoler�ncia e pregando o pensamento �nico. Ao mesmo tempo, temos que ter unidade democr�tica. O fato de as elei��es serem em dois turnos nos permite apresentar projetos num primeiro momento. Queremos estar num segundo turno, e, nele, qualquer que seja a candidatura no campo progressista, seguramente se unificar�.

 

Voc� vem do movimento de luta pela moradia. O que conquistaram de forma concreta?
As pessoas t�m preconceito enorme com movimento social, acham que � coisa de vagabundo, coisa de quem quer tomar o que � dos outros. A luta por moradia no Brasil � urgente e necess�ria. Temos mais de 6 milh�es de fam�lia sem casa, e mais de 7 milh�es de im�veis abandonados. H� mais casa sem gente do que gente sem casa. O MTST foi talvez o movimento social que conseguiu entregar moradias da mais alta qualidade e sem estar no poder p�blico. Pelo Minha casa, minha vida-entidades, com lotes urbanizados, loteamentos, seguramente, entregamos mais de 15 mil casas, nos �ltimos seis anos.

E al�m da habita��o, qual � o seu projeto de governo?
Resumiria em tr�s iniciativas principais: � preciso fazer plebiscito para o povo dizer se quer manter ou revogar os retrocessos do governo Michel Temer. � tamb�m necess�rio enfrentar a desigualdade, pois seguimos entre os pa�ses mais desiguais do mundo. Uma forma de enfrentar isso � uma reforma tribut�ria progressiva. Hoje o estado brasileiro funciona como um Robin Hood ao contr�rio, tira dos pobres e da classe m�dia e d� aos ricos por um sistema tribut�rio injusto. Porque rico praticamente n�o paga imposto. Quem tem carro, por exemplo, paga IPVA todo ano, mas quem tem um jatinho, um helic�ptero, como o Zez� Perrella, um iate, n�o paga R$ 1 de imposto. Tamb�m temos que compreender que este sistema pol�tico est� falido, o presidencialismo de coaliz�o n�o se sustenta mais, virou sin�nimo de balc�o de neg�cios. O PMDB (hoje MDB) nunca elegeu um presidente da Rep�blica, mas deu as cartas em todos os governos h� 30 anos. Queremos criar um sistema em que a participa��o das pessoas n�o se limite ao dia da elei��o, o povo tem que ser ouvido, tem que ter referendo, plebiscito. Depois de 30 anos, queremos colocar o PMDB na oposi��o.

Como conseguir se eleger num sistema pol�tico que leva a coliga��es?
S� faz sentido entrar numa campanha como essa se for para fazer diferente. N�o vamos sair com menos dignidade nesse processo, abrindo m�o das nossas bandeiras e fazendo qualquer tipo de alian�as ou recebendo financiamento de quem for. Preferimos fazer campanha de chinelo rasgado do que receber dinheiro de banqueiro ou de grande empreiteira. Porque esse dinheiro compromete e depois deixa de rabo preso. Vamos apostar no financiamento coletivo. Queremos fazer disputa dialogando com a sociedade. � uma alian�a de novo tipo, junto com intelectuais, artistas, movimentos feminista, negro, LGBT, o PCB, v�rias vozes do povo brasileiro.

H� quem o veja como o radical demais, como um “Bolsonaro da esquerda”. Como lida com essa vis�o?
No est�gio em que est� o debate p�blico no Brasil, defender o direito � moradia virou coisa de quem � radical. Defender a igualdade social � radical, defender a democracia � radical. Estamos mal e isso � um sintoma.

Houve dentro do Psol resist�ncia em rela��o a seu nome. J� conseguiram construir consenso dentro do partido?
Todo partido tem pluralidade e � importante que tenha. O Psol fez o debate, houve dia 10 de mar�o confer�ncia e por mais de 70% de aprova��o foi definida minha candidatura junto com S�nia Guajajara, uma lideran�a ind�gena extraordin�ria. Sou o candidato � Presid�ncia mais jovem do Brasil. A S�nia � a primeira ind�gena a fazer parte de uma chapa presidencial. Achamos que tem um espa�o enorme para essa candidatura crescer e se expressar.


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