
Bras�lia - Um ano depois da divulga��o do �udio gravado pelo empres�rio Joesley Batista — piv� do maior esc�ndalo do atual governo —, o presidente Michel Temer chama o epis�dio de “embara�o do dia 17 de maio”, mas diz que, se houve um erro, n�o foi dele. “O erro foi ele gravar. Recebi in�meras pessoas no Jaburu e n�o colocava na agenda. Foi um descuido meu, mas n�o que tenha sido gesto criminoso, absolutamente n�o”, disse o emedebista durante entrevista ao Correio Braziliense/Estado de Minas. Ao fazer uma retrospectiva dos dois anos de mandato, Temer tem na ponta da l�ngua avan�os na economia por causa de reformas e de repactua��es de acordos com estados e munic�pios, al�m de medidas como a libera��o do FGTS. por�m, n�o conseguir entender os altos �ndices de impopularidade. Sobre sua candidatura ao Planalto, Temer diz que est� “meditando”, mas abre espa�o para o debate de um candidato do centro. “Penso que todos os candidatos tinham de abrir m�o para firmar um pacto em torno de um s� candidato”, afirmou. “Isso significa que precisamos ter um �nico candidato de centro”, diz.
Como o senhor quer ser julgado pela hist�ria?
Quero ser julgado como algu�m que colocou o Brasil nos trilhos, permitiu uma sequ�ncia governamental. Lamento n�o ter conseguido ainda a reforma da Previd�ncia. E tamb�m quero ser lembrado como algu�m que manteve os crit�rios democr�ticos. H� poucos dias, ouvi de um colega de voc�s, da imprensa, que via algo incr�vel. Batiam em mim e ainda assim eu mantinha a liberdade de imprensa. Porque existe uma ordem constitucional, que assim determina. Distinguo as pessoas das institui��es, todos vamos passar, as institui��es permanecem. Quero ser lembrado como algu�m que, apesar das agress�es, n�o respondeu com agress�o. Voc�s se lembram na Argentina, por exemplo, a ex-presidente tentou fechar empresas… Jamais isso me passou pela cabe�a, por mais que do plano pessoal eu considerasse uma injusti�a. Prego a reinstitucionaliza��o do pa�s. Estamos fazendo essa integra��o na seguran�a p�blica, por exemplo. Criamos esse minist�rio porque j� t�nhamos levado a garantia da lei e da ordem para 11 estados. O BNDES est� colocando quase R$ 40 bilh�es para estados e munic�pios brasileiros. Fizemos reuni�es dos governadores e prefeitos das capitais, reuni�es das empresas. Para p�r todo mundo nessa hist�ria da seguran�a. Porque quando fui secret�rio, me lembro que criei os conselhos comunit�rios de seguran�a, que inclui associa��es de bairro. Quero ser lembrado assim.
O senhor sente algum tipo de m�goa, se chateia com a alta impopularidade?
Zero m�goa. Vejo naturalmente um crit�rio injusto. Reconhe�o esta impopularidade derivada de uma campanha feita contra mim, ent�o, sei l�, tem 6 milh�es de pessoas que podem achar que sou boa pessoa, tem 200 que s�o bombardeados diariamente pelo notici�rio. Voc� v�, n�o h� uma not�cia positiva divulgada. Isso n�o se d� cr�dito.
"Zero m�goa ( da impopularidade), agora vejo naturalmente um crit�rio injusto. Reconhe�o esta impopularidade derivada de uma campanha que � feita contra mim"
A divulga��o da grava��o do Joesley Batista completou um ano. A popularidade piorou desde ent�o?
Naquela data j� n�o tinha muita popularidade, estava muito em alta a pauta da Previd�ncia, e a campanha contra mim era uma coisa feroz. Aquilo n�o me dava popularidade, mas n�o me incomodava.
Foi um erro receber o Joesley naquele hor�rio?
N�o. O erro foi ele gravar. Recebi gente no Jaburu, in�meras pessoas. Empres�rios, gente da imprensa, �s vezes ia jantar �s 22h30. E n�o estava na agenda. N�o colocava na agenda. Este foi um descuido meu, mas n�o que tenha sido gesto criminoso, absolutamente. Sobretudo o caso do Batista… Era a quinta vez que procurava audi�ncia comigo e n�o pude atend�-lo, por raz�es factuais. Quando ele ligou aqui, tinha uma homenagem para ir. Quando ele mandou ligar, falei para mandar vir naquele momento. Mas n�o chegou a vir, talvez porque seria detectado por causa do gravador, n�o sei. Eu disse que s� podia 21h, 22h, depois da homenagem ao jornalista Noblat. Mandei dizer que precisava sair e fui na homenagem, depois fui para casa e o esperei l�. Mas fiz isso com ele e mais 200 pessoas.
Se o epis�dio de Joesley n�o � o motivo, qual a explica��o para a impopularidade?
N�o sei. Talvez porque eu n�o seja um sujeito de gestos populistas. Desde a �poca da faculdade, da procuradoria… Sempre fui muito discreto. N�o sei me portar como se fosse carro aleg�rico, tem gente que consegue. Eu dificilmente dou lead (informa��o quente e direta para uma reportagem) porque sou muito explicativo. � aquela mania de explicar tudo. Quando tem uma campanha muito grande contra o governo, as pessoas acham que sou um tirano, deseducado… Ali�s, o que falta ao Brasil � educa��o c�vica, certa liturgia, certa cerim�nia entre as pessoas. Porque hoje o desprezo pela autoridade � muito grande. Isso � ruim. Nos EUA voc� n�o chama ningu�m pelo primeiro nome, � mr. Trump, mr. Clinton… Aqui n�o, � Michel, Dilma… Quando se fala em abuso de autoridade, pensam que algu�m ofendeu o presidente da Rep�blica. Se n�o perceberem que a �nica figura que tem autoridade no pa�s � a lei, voc� n�o consegue resolver o assunto, a Constitui��o bem ou mal nasce da soberania popular.
O senhor � candidato?
Ainda estou meditando.
"Quero ser julgado como algu�m que passou por aqui, colocou o Brasil nos trilhos. E algu�m que manteve os crit�rios democr�ticos. Agora, se tamb�m lembrar de outra maneira, n�o tem import�ncia"
O senhor j� est� meditando h� muito tempo, n�o?
Tenho o que dizer. Quem se opuser ao governo, vai ter que dizer que � contra o teto dos gastos, que � contra a infla��o rid�cula de 2,8%, porque � a favor de 10,28%; que � contra a redu��o dos juros de 14,25%, para 6,5% porque quer juros mais elevados; que � contra a recupera��o das estatais, a Petrobras, a Caixa Econ�mica, contra a moderniza��o trabalhista porque “temos que manter a consolida��o de 1943”. Vai ter que dizer isso! N�o vi ningu�m ainda… No caso da reforma da Previd�ncia, est�vamos preparados para votar e aconteceu o embara�o em 17 de maio e paralisou tudo. Foi algo estupendo, que paralisou o pa�s. Embora achassem que eu renunciaria, estamos aqui e faz um ano. N�o vi ningu�m falar, e ningu�m cobrar, o que se far� com a Previd�ncia. Porque, embora tenha sa�do da pauta legislativa, n�o saiu da pauta pol�tica. S� sair� se n�o cobrarem… N�o � poss�vel mais esse disfarce. Quando formulamos um documento chamado “Ponte para o futuro” era para conciliar com o governo anterior. Quando apresentamos, Levy (Joaquim) era o ministro da Fazenda e at� me telefonou dizendo que existiam pontos formid�veis. Mas o governo, n�o sei porqu�, tomou aquilo como gesto de oposi��o. Quando assumimos, cumprimos quase tudo aquilo que est� no projeto. Agora, lan�aremos outro, “encontro com o futuro”.
A divis�o de candidatos de centro n�o pode levar � derrota nas urnas para esse grupo?
O afunilamento se dar� no fim de junho, come�o de julho. Hoje todos os candidatos percebem que h� grande v�cuo, todos acham que podem chegar l�. Sou contra os r�tulos. Esse neg�cio de esquerda, direita, isso n�o existe mais. O que o povo quer � pol�tica de resultado, se vem de quem � de esquerda, direita, centro, n�o importa. Usam-se os r�tulos, de qualquer maneira. Seria extremamente �til que tiv�ssemos um candidato de extrema esquerda, extrema direita e de centro. O eleitor vai escolher em face dos projetos. Agora, se no chamado centro tivermos oito, nove candidatos, ningu�m vai chegar l�.
N�o sendo o senhor o candidato do governo, quem vai ser?
Meirelles (Henrique) � outra op��o, veio para o MDB com esta inten��o, at� muito adequadamente dizendo que a decis�o era minha. Isso d� uma tese da continuidade, n�o vai mudar o que est� hoje, pelo contr�rio, vai prosseguir. Como disse, n�o vi nenhum candidato falando que faria a reforma da Previd�ncia, pelo contr�rio, o que eu vi foi: “Vou destruir tudo que o Temer fez”.
O eleitor est� mais pragm�tico?
O eleitor vai olhar o candidato ou o projeto que interessa a ele. Essa coisa de dizer que o eleitor vota ignorantemente n�o � mais verdadeiro, ele olha com muito cuidado o que vai fazer.
O senhor acha que dificilmente teremos uma renova��o de quadros no Congresso?
N�o vejo isso (renova��o). S�o duas coisas distintas. Uma � a elei��o do Congresso, outra a hist�ria do centro, da disputa ao Planalto. Penso que todos os candidatos de centro tinham que entrar numa tese e dizer que est� disposto a abrir m�o, num pacto, para ter um candidato. At� porque pode ser que n�o seja nenhum dos que est�o a�, a come�ar por mim.
Mas quem vai liderar esse pacto?
Comecei a liderar isso, e at� o ex-presidente Fernando Henrique esteve comigo em S�o Paulo, e ele partilha da mesma tese, de que o ideal seria isso. Sinto que ainda n�o � o momento.
O senhor acha que vai ser quem no segundo turno?
Se eu me pautar pela pesquisa de hoje, ser� Bolsonaro e Ciro. Ou Marina.
O que isso representa para o pa�s, ter um candidato de extrema-esquerda e outro de extrema-direita?
Que precisamos ter um candidato de centro.
A campanha atrapalha a economia?
O clima eleitoral ou pr�-eleitoral atrapalha a economia. O empres�rio investe se tiver certeza do que vai acontecer, quando come�a um clima de inseguran�a, que convenhamos n�o � s� deste per�odo. Podem pegar as elei��es anteriores, onde diziam que se fulano ganhar, iam voltar pra Miami. Esse clima de inseguran�a se repete e talvez com mais for�a, isso atrapalha a economia. Mas n�o ao ponto de paralisar, sen�o n�o ter�amos tido aumento de 40% na produ��o automotiva, 77% de venda de caminh�es... Essa hist�ria do terceiro turno do trabalho que a Fiat e a Toyota fizeram significa mais de 2 mil empregos. Ent�o, a economia n�o parou. Mas h� uma tentativa de paralis�-la.
O senhor identifica algum grupo?
Os candidatos que dizem que v�o eliminar tudo que foi feito � uma tentativa de paralisar a economia. Ela cresceu porque fizemos o teto, a reforma trabalhista…
O que o senhor coloca como o ponto alto destes dois anos de governo?
Insisto nas reformas que foram feitas no pa�s. Come�ando pelo teto de gastos, reforma trabalhista e do ensino m�dio, recupera��o das estatais… Tudo isso resultou na queda da infla��o, dos juros. Essa hist�ria do emprego tamb�m � algo curioso. Sempre se diz que o desemprego n�o diminuiu. E diminuiu. Em janeiro, houve cerca de 79 mil carteiras assinadas, fevereiro, 69 mil, em mar�o, 59 mil carteiras assinadas. Em 2015, o n�mero ativo de desempregados era de 1,5 milh�o. Em 2016, 1,2 milh�o. Agora, em 2017, os dados de dezembro, eram menos 20 mil. O IBGE disse que aumentou e n�o entendi bem aquilo, chamei o pessoal do Minist�rio do Trabalho e da �rea econ�mica e eles me explicaram o seguinte: quando voc� est� muito desalentado e n�o tem chance de emprego, elas n�o procuram. Quando surge certo alento, as pessoas procuram. Tamb�m n�o tem emprego para todo mundo, e quando n�o tem, o IBGE contabiliza como desempregado. � claro que mesmo no c�lculo do IBGE caiu o desemprego. O que devemos contar � que temos dois anos de governo, e pegamos uma recess�o que voc�s conhecem melhor do que eu.
Como assim?
Quando pegamos o pa�s, o PIB era -3,6% (2016). Em 2017, foi +1,1%, portanto, 4,7% de recupera��o. Neste ano, fala-se de 2%, 2,5%. Mas de qualquer maneira, uma recupera��o fruto das reformas. Isso na economia. Meio ambiente, por exemplo, fizemos a maior reserva marinha que o mundo j� conheceu — a que temos hoje equivale a reserva da Fran�a e da Alemanha. Veja o que fizemos com a Chapada dos Veadeiros, que aumentamos em 400%. Veja, Alcatrazes, que delimitamos como �rea ambiental. As multas ambientais transformamos em valores para o meio ambiente no pantanal. Zequinha (Sarney, ex-ministro do Meio Ambiente) fez uma exposi��o e ele dizia: “Olha, h� muito tempo n�o se fazia isso no Brasil, o desmatamento caiu de 12 a 13%”.
Mesmo os advers�rios?
Mesmo os advers�rios, todos os estados. Fizemos 500 mil vagas do ensino em tempo integral, a tend�ncia � chegar em 1 milh�o de vagas e prosperar. Quando fui a Davos, fiz um discurso no papel e falei isso, e um dos temas era exatamente esse. Um europeu me falou: “Olha, o senhor n�o fala isso aqui n�o, porque aqui na Europa todo mundo tem ensino integral”. Falei, pois �, ent�o estamos perfilhando a tese dos pa�ses desenvolvidos.
Ent�o ainda estamos atrasados?
Ainda estamos atrasados. Se eu pegar sa�de, por exemplo, primeiro que de fato que o ministro Barros (Ricardo Barros, ex-ministro da Sa�de) � um bom gestor, ele economizou milh�es de reais, que permitiram a compra de muitas ambul�ncias. Voc�s vejam, h� mais de 7 anos, n�o se distribu�a ambul�ncias para o Samu. Distribu�mos 300 neste ano, mais 800 no ano passado, e tem mais 1,5 mil para serem entregues neste ano. De igual maneira, mais de 12 mil gabinetes odontol�gicos. Consertamos certas coisas. Por exemplo, o aux�lio-doen�a. Quando chegamos aqui, mais ou menos h� dois anos e meio n�o se fazia a revis�o disso. Fizemos coisas aparentemente triviais, por exemplo, liberar o fundo de garantia (FGTS) das contas inativas. Isso injetou R$ 44 bilh�es na economia; e beneficiou 25 milh�es de trabalhadores. Agora que liberamos o PIS/PASEP, que reduzimos a idade para voc� requerer, antes era 70 anos para homem em mulher, agora � 60 anos. Isso j� est� liberando R$ 4 a 5 bilh�es para a economia.
Um tema nas elei��es ser� a corrup��o. Tem a investiga��o no setor de portos, envolvendo a sua filha, inclusive. Como o senhor vai responder a isso?
Desagrad�vel. Vou deixar o Judici�rio decidir isso. N�o interfiro a compet�ncia dos outros poderes. Tomo cautela porque qualquer palavra que eu diga hoje ser� a do chefe do Executivo dando palpite numa mat�ria do Judici�rio. Deixa ele trabalhar, as pessoas v�o se defender como devem.