
A mais imprevis�vel e inusitada corrida presidencial desde a redemocratiza��o do pa�s, depois de 21 anos de ditadura militar (1964-1985), come�a oficialmente amanh� com muitas incertezas em tempos de redes sociais, que ser�o decisivas para o pleito, e previs�o de avalanche de fake news, as falsas not�cias que devem contaminar a campanha.
Nunca antes na hist�ria deste pa�s um candidato a presidente tentou, da pris�o, disputar a elei��o. Detido desde 7 de abril na sede da Pol�cia Federal em Curitiba, depois de condenado na Lava-Jato por corrup��o passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex no Guaruj� (SP), o PT deve registrar a candidatura de Lula, hoje, no Tribunal Superior Eleitoral.
A expectativa, entretanto, � de que o registro seja impugnado porque a situa��o do ex-presidente se enquadra na Lei da Ficha Limpa, que barra candidatados condenados em segunda inst�ncia.
Diante da iminente impugna��o, o PT armou um plano B. O ex-prefeito de S�o Paulo Fernando Haddad seria o cabe�a de chapa, tendo como vice a deputada estadual ga�cha Manuela d’�vila (PCdoB).
Sem Lula, a inusitada corrida ganharia novo l�der, segundo as pesquisas de inten��o de voto, O deputado Jair Bolsonaro (PSL), capit�o da reserva do Ex�rcito. Mesmo sem conseguir fazer alian�as devido ao discurso radical, como a defesa do uso de armas pela popula��o, o parlamentar tem boas chances de chegar ao segundo turno.
J� o ex-governador de S�o Paulo, Geraldo Alckmin, tenta fazer o PSDB, que chegou ao segundo turno em todas as elei��es desde 1994 (e venceu em 1998), voltar ao Pal�cio do Planalto.
Mas tem dificuldade de se consolidar na corrida presidencial. Para tentar viabilizar a candidatura e garantir maior tempo de TV, o tucano recebeu o apoio do Centr�o, bloco de partidos que ajudou a eleger Dilma Rousseff em 2014 e deu sustenta��o ao governo at� o impeachment, em 2016.
Depois de bancar o governo Temer, que sucedeu Dilma, o PSDB procura agora se desvincular do emedebista. A mesma dificuldade em rela��o ao governo encontra o candidato oficial, o ex-ministro Henrique Meirelles (MDB).
Apoiado pelo presidente com a menor popularidade da hist�ria do pa�s, Meirelles tenta tamb�m se dissociar de Temer.
Ele aproveita seu tempo de entrevistas – e deve fazer mesmo durante o programa de TV, que come�a no dia 31, para se vangloriar dos bons tempos da economia, quando era um dos principais nomes da equipe ministerial do governo Lula, hoje em campos opostos.
A corrida presidencial tem ainda outro candidato que pode surpreender, o ex-governador do Cear� Ciro Gomes. O pedetista diz que n�o tem rabo preso com ningu�m, mas fez todos os acenos poss�veis para ter o Centr�o, que acabou ficando com o candidato tucano e costumar cobrar alto pre�o pelo apoio no Congresso Nacional e na composi��o da equipe de governo.
Estes cinco candidatos ser�o ainda perseguidos na corrida presidencial por outros oito com menor potencial de voto. Amanh� � noite, os principais postulantes do Planalto v�o se encontrar no segundo debate, na RedeTV, uma semana depois do primeiro confronto, na TV Bandeirantes, no segudo round de uma disputa imprevis�vel.
O fator Lava-Jato
Para o professor de ci�ncia pol�tica da Universidade de S�o Paulo (USP), Rog�rio Arantes, a elei��o de 2018 traz doses de imprevisibilidade que decorrem principalmente da inc�gnita que paira sobre uma das principais candidaturas, a do PT.
“Esta elei��o mistura elementos do pleito de 1989 - crise econ�mica, governo fraco e incapaz de galvanizar a sucess�o presidencial, al�m de fragmenta��o partid�ria recorde, com novo elemento desestabilizador do sistema pol�tico: o fator Lava-Jato”, afirma ele.
“H� quatro anos, temos vivido um embate entre o sistema de Justi�a e o sistema pol�tico, com jogos contundentes, entre os quais o impeachment da presidente est� no conjunto da obra, aos quais se somam tamb�m o esc�ndalo da JBS, que atingiu em cheio os outros dois partidos da trinca principal”, afirma Arantes, em refer�ncia ao PSDB e ao MDB.
“A grande d�vida em rela��o a esta elei��o � se o sistema pol�tico partid�rio sobreviveria”, assinala.
Apesar de estar sob ataque, o sistema pol�tico partid�rio brasileiro sobreviveu, passando longe dos outsiders.
“Apesar da imprevisibilidade e da dispers�o eleitoral neste momento da disputa, est�o presentes ingredientes que podem repetir no segundo turno o padr�o da polariza��o entre PT e PSDB que se verificou a partir de 1998”, avalia o cientista pol�tico.
Ao se debru�ar sobre os padr�es de competi��o nos pleitos presidenciais p�s-redemocratiza��o, Arantes aponta para dois tipos de elei��o, com uma de transi��o. “O primeiro tipo isolado, �nico, solteiro, foi o pleito de 1989”, avalia.
O sistema pol�tico partid�rio se fragmentou ao longo da Constituinte e, �s v�speras da elei��o, o pa�s afundado numa crise econ�mica e o governo Sarney enfraquecido, n�o conseguiu coordenar o processo sucess�rio. A elei��o presidencial seguinte, de 1994, foi na avalia��o de Rog�rio Arantes, uma transi��o para o modelo da polariza��o PT-PSDB.
“Tivemos uma elei��o bipartid�ria sobretudo no segundo turno, mas que, j� no primeiro turno, apesar do n�mero grande de candidatos, apresentou redu��o da dispers�o eleitoral. Uma terceira for�a, em todos os pleitos entre 1998 e 2014 tentou furar o bloqueio para alcan�ar o segundo turno, mas tivemos a repeti��o do padr�o regular e est�vel”, afirma ele.
Os 13 concorrentes
» Alvaro Dias (Podemos) » Cabo Daciolo (Patriotas) » Ciro Gomes (PDT)
» Eymael (DC) » Geraldo Alckmin (PSDB) » Guilherme Boulos (PSOL)
» Henrique Meirelles (MDB) » Jair Bolsonaro (PSL) » Jo�o Amo�do (Novo)
» Jo�o Goulart Filho (PPL) » Luiz In�cio Lula da Silva (PT)
» Marina Silva (Rede) » Vera L�cia (PSTU)