A candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL) � Presid�ncia da Rep�blica encontrou em S�o Paulo a recep��o de um eleitor que se identifica com o discurso e os valores associados ao ex-governador Paulo Maluf (PP). Essa � a opini�o de analistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo. O deputado lidera as pesquisas de inten��o de voto no maior col�gio eleitoral do Pa�s (22%), no cen�rio que exclui o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), condenado e preso na Lava Jato, e recebe ainda o apoio de pol�ticos-s�mbolo do malufismo.
A identifica��o de Bolsonaro com parte do eleitorado paulista produziu um fen�meno nesta campanha: o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) � o �nico dos candidatos ao Planalto mais bem colocados nas pesquisas a ter um desempenho fraco em seu pr�prio Estado (16%). Bolsonaro �, para analistas, a reedi��o do neopopulismo de direita, fen�meno caracterizado por l�deres carism�ticos surgidos nos anos 1980 e 1990 com o confronto entre a cultura democr�tica e a autorit�ria com o fim de ditaduras na Am�rica do Sul.
Essas lideran�as associavam o discurso da for�a e da ordem � defesa do liberalismo econ�mico, como Alberto Fujimori, no Peru. Em S�o Paulo, tal bandeira se resumia em um slogan: "A Rota vai para a rua". Usado por Maluf, maior express�o dessa corrente no Estado, o discurso unia valores conservadores � defesa da linha dura contra o crime.
"S�o eleitores que est�o capturados por uma lideran�a que pode ser caracterizada como neopopulista no sentido de que n�o tem muita preocupa��o com valores democr�ticos e vai na dire��o neoliberal pela promessa de desenvolvimento econ�mico, sem preocupa��o com o social, como � a promessa de crescimento econ�mico como a do PT e do PSDB", disse Jos� �lvaro Mois�s, professor do Departamento de Ci�ncia Pol�tica da USP.
Em sua passagem pelo interior, Bolsonaro encontrou malufistas como o aposentado Carmelindo Gon�alves de Aguiar, de 82 anos. "Ele (Maluf) est� no fim da carreira agora, mas fez muito por esse Estado." Aguiar foi ver Bolsonaro em Barretos. "Vou votar nele. Quando ele fala que lugar de bandido � na cadeia, est� certo." O vendedor aut�nomo Lauro Alves de Andrade, de 57 anos, era malufista e agora � Bolsonaro. "Quando trabalhava em S�o Paulo, o Maluf colocava a Rota para p�r ordem na cidade. Se roubou, pelo menos fez. Tem gente que n�o faz e rouba", disse, ap�s tirar foto com Bolsonaro.
Neste ano - e pela segunda vez desde 1986 -, Maluf estar� ausente das urnas, ap�s ser preso e ter o mandato de deputado cassado. Mas o tema seguran�a predomina nos debates entre os candidatos a governador. Dois deles t�m vices oficiais da PM: Paulo Skaf (MDB) e M�rcio Fran�a (PSB). E um promete levar a Rota para o interior: Jo�o Doria (PSDB).
S�mbolo do discurso da seguran�a, o vereador paulistano Conte Lopes (PP) apoia Bolsonaro, apesar de seu partido estar com Alckmin. "O eleitor v� no Bolsonaro o que eu sempre fiz na vida: combater o crime. O povo est� cansado de quem passa a m�o na cabe�a de bandido." Conte era presen�a constante nas carreatas de Maluf. Seu correligion�rio - o deputado estadual Coronel Telhada (PP) - tamb�m apoia Bolsonaro. "A maioria dos eleitores do Bolsonaro � de jovens que nunca votaram no Maluf, mas tem os mesmos ideais."
Telhada e Conte apoiaram os governos tucanos Jos� Serra e Alckmin e representam parte desse eleitorado que, desde o decl�nio de Maluf, nos anos 2000, passou a votar no PSDB. "Muito mais contra o PT que a favor do PSDB. Agora, esses eleitores encontraram um candidato mais condizente com sua concep��o de sociedade", disse o cientista pol�tico Marco Antonio Teixeira, da FGV. Para ele, o crescimento do voto evang�lico tamb�m explicaria a for�a de Bolsonaro. Em 2000, 17% da popula��o paulista era evang�lica, segundo o IBGE. Em 2018, segundo o Ibope, 29%.
Mois�s acredita que esse apoio pode ser explicado pela perman�ncia na popula��o de valores autorit�rios. Desde a d�cada de 1980 at� 2016, o professor fez pesquisas sobre o apoio � democracia e � ditadura no eleitorado. "Quem dizia preferir a ditadura somava cerca de 15%." Um n�mero n�o distante do apoio a Bolsonaro no Estado.
Dados
Por fim, os governos tucanos t�m na seguran�a indicadores positivos desde 2001, como a queda de mais de 70% dos homic�dios no Estado. "Mas a sensa��o de seguran�a � mais afetada pelo �ndice de roubos do que pelo de homic�dios, pois as pessoas sabem que correm mais risco de ser roubadas do que mortas", disse o pesquisador T�lio Kahn. Aqui, os n�meros n�o favorecem Alckmin. No primeiro semestre de 2010, quando disputou o governo, S�o Paulo registrou 116.882 roubos, ante 132.454 no mesmo per�odo deste ano. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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