Jair Bolsonaro � eleito presidente do Brasil

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), de 63 anos, capit�o reformado do Ex�rcito, foi eleito presidente da Rep�blica pela maioria do eleitorado. Com 99,65% das urnas apuradas, ele tem 55,14% dos votos v�lidos, e n�o pode mais ser ultrapassado pelo candidato do PT, Fernando Haddad, que tem 44,86%. Depois de sete mandatos e 28 anos no Congresso Nacional, o parlamentar chega ao mais alto cargo do pa�s depois de canalizar a frustra��o de parte do eleitorado brasileiro com a corrup��o sist�mica.

 

Em Minas Gerais, Bolsonaro teve 58,19% (6.100.196) contra 41,81% (4.383.099) do petista. Em Belo Horizonte, maior col�gio eleitoral do estado, o candidato do PSL teve vit�ria esmagadora, com 65,59% ante 34,41% de Haddad.

 

 

 

TRINTA ANOS DE VIDA P�BLICA

 

Em novembro de 1988, Jair Bolsonaro foi eleito para o seu primeiro cargo p�blico – o 18º mais votado para a C�mara Municipal do Rio, com 3.046 votos –, em campanha movida a santinhos feitos em m�quina de xerox na sala de casa e camisas pintadas � m�o. No desfecho de uma campanha presidencial marcada por correntes de Whatsapp e v�deos caseiros transmitidos da pr�pria sala, Jair Messias Bolsonaro, de 63 anos, foi eleito para o mais alto cargo da Rep�blica, com mais de 57 milh�es de votos.

Tr�s d�cadas separam as duas elei��es, mas mostram um jeito sui generis de fazer campanha pol�tica. A hist�ria da primeira campanha � contada por ele e pelos filhos para mostrar como o capit�o da reserva gosta de “fazer tudo sozinho” e ter controle da pr�pria carreira pol�tica. Em 1988, ele havia sido mandado para a reserva, depois de ser absolvido pelo Superior Tribunal Militar (STM) por planejar ataque � bomba nos banheiros da Vila Militar, em Resende (RJ). A inten��o era chamar a aten��o para os baixos sal�rios, protesto que j� o havia levado � pris�o por 15 dias, em 1986, quando exp�s os problemas na imprensa nacional.

Com a bandeira de melhoria do soldo, o militar reformado ingressou na pol�tica. Diante de candidaturas mais robustas como de Alfredo Sirkis (um dos fundadores do Partido Verde), Chico Alencar (PT), S�rgio Cabral Filho (PSB) e dos candidatos do PDT, impulsionados pela influ�ncia de Leonel Brizola, Bolsonaro conseguiu uma das cadeiras na C�mara, com pouco mais de 3 mil votos, em campanha de poucos recursos pelo nanico Partido Democrata Crist�o (PDC).

Dois anos na C�mara Municipal do Rio e sete mandatos na C�mara dos Deputados depois (desde 1991, de forma ininterrupta, totalizando 27 anos em Bras�lia), Jair Bolsonaro chega � Presid�ncia da Rep�blica com candidatura outsider, uma terceira via, preenchendo lacuna deixada pelo desgaste do PT, envolvido em esc�ndalos de corrup��o, e do PSDB, tamb�m enfraquecido, que teve vota��o inexpressiva com Geraldo Alckmin no primeiro turno. O candidato do PSL canalizou as frustra��es de parte do eleitorado em momento marcado pelo antipetismo e pela desmoraliza��o da pol�tica.

Embora a candidatura do deputado federal pelo Rio tenha sido oficializada em 22 de junho – pelo Partido Social Liberal (PSL), depois de um flerte com o Patriota –, o nome de Bolsonaro veio tomando for�a nos �ltimos cinco anos, desde os protestos de 2013, e ganhou musculatura na esteira das manifesta��es pelo impeachment da ent�o presidente Dilma Rousseff, quando votou pelo impedimento invocando o nome do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Destacamento de Opera��es de Informa��o – Centro de Opera��es de Defesa (DOI-Codi). A atitude gerou revolta no meio pol�tico, especialmente entre os pol�ticos de esquerda, muitos deles perseguidos e torturados pela ditadura.

Nos �ltimos anos, Bolsonaro surfou na onda conservadora – fen�meno global – e se valeu da popularidade nas redes sociais, que cresceu com suas posi��es e apari��es em programas de TV – dos humor�sticos P�nico e CQC ao programa de Luciana Gimenez, na RedeTV. De meados de 2016 �s elei��es, viu seu n�mero de seguidores multiplicar no Facebook, de 3 milh�es para 7,8 milh�es de curtidas. Desde que levou facada no abdome, em ato de campanha, em Juiz de Fora, passou a fazer transmiss�es ao vivo pela rede social, em cen�rio improvisado em casa. As lives chegam a ter mais de 6 milh�es de visualiza��es e dividem espa�o com trechos de palestras, discursos e montagens enviadas pelos apoiadores – boa parte delas com cr�ticas ao PT e seu candidato, Fernando Haddad, e �s pautas defendidas pela milit�ncia de esquerda.

Impossibilitado de fazer campanha nas ruas, os tr�s filhos mais velhos assumiram ainda mais a fun��o de porta-vozes do discurso do pai. S�o eles, pela ordem de idade, Fl�vio, de 37 anos, eleito senador, mais votado no Rio (4.380.418 votos); Carlos, de 35, vereador no Rio; e Eduardo, de 34, o deputado federal mais votado da hist�ria (1.843.735), por S�o Paulo. Os tr�s s�o fruto do primeiro casamento com Rog�ria Nantes. Com a segunda esposa, Jair tem outro filho, Renan; e da terceira e atual, Michelle, tem Laura, a �nica mulher, que o deputado federal tratou como “fraquejada”, em palestra, em setembro de 2017. Diante das cr�ticas, disse se tratar de uma brincadeira.

Os filhos, especialmente Carlos, ajudam o pai a administrar as redes sociais. A popularidade da fam�lia foi ainda mais impulsionada em grupos de WhatsApp – alvo de pol�mica na reta final das elei��es, depois que reportagem da Folha de S. Paulo afirmou que empres�rios chegaram a gastar R$ 12 milh�es para impulsionar mensagens a favor do candidato e contra o PT. Fl�vio Bolsonaro chegou a ter o n�mero banido, por comportamento de spam. Depois, afirmou que o n�mero foi liberado.

CARREIRA MILITAR

Bolsonaro � o primeiro candidato de extrema-direita a ter vota��o expressiva para o cargo de presidente da Rep�blica no per�odo democr�tico. Antes dele, o melhor desempenho havia sido de En�as Carneiro, do extinto Prona, que surpreendeu ao terminar em terceiro no pleito que elegeu Fernando Henrique Cardoso, em 1994. Teve 4,6 milh�es de votos, � frente de Brizola e Orestes Qu�rcia, curiosamente, em uma elei��o que sucedeu outro impeachment, o de Fernando Collor de Melo.

Eleito pela primeira vez em 1988 para defender os interesses dos militares, a liga��o de Bolsonaro com as For�as Armadas � anterior � sua prepara��o para ingressar na Academia Militar das Agulhas Negras, em 1973. Em 1970, quando tinha 14 anos e trabalhava na extra��o de palmito nas matas do Vale da Ribeira, no sul de S�o Paulo, passou a colaborar com o Ex�rcito que estava � procura de Carlos Lamarca, capit�o do Ex�rcito que desertou e montou base de treinamento na regi�o. Por conhecer as matas, ajudou na busca do guerrilheiro, morto em 1971, no interior da Bahia.

Bolsonaro ingressou no Ex�rcito em 1973, se especializando em paraquedismo. Na d�cada de 1980, cursou tamb�m educa��o f�sica e serviu no Rio de Janeiro e no Mato Grosso. Em 1986, foi preso depois da repercuss�o de entrevista � revista Veja, criticando os baixos sal�rios. A entrevista lhe rendeu 15 dias de pris�o. Em 1988 foi mandado para a reserva.

CARREIRA POL�TICA
A passagem de dois anos pela C�mara Municipal do Rio foi discreta. Bolsonaro apresentou sete projetos, um deles de transporte gratuito para militares em �nibus urbanos. No fim de 1990, com discurso conservador, foi eleito para o primeiro de sete mandatos de deputado federal. Passou por sete partidos: PDC (1988-1993), PPR (1993-1995), PPB (1995-2003), PTB (2003-2005), PFL (2005), PP (2005-2016), PSC (2016-217) e PSL (2018).

Em 27 anos no Congresso, foi autor de 162 projetos, segundo o Portal da C�mara dos Deputados, sendo dois deles aprovados: um prorrogando benef�cios fiscais ao setor de inform�tica, outro autorizando o uso de fosfoetanolamina, conhecida como “p�lula do c�ncer”. Os outros projetos de lei s�o diversos, que v�o de escrever o nome de En�as Carneiro no Livro de Her�is da P�tria (PL 7699/2017) a nomear o mar brasileiro de “Mar Presidente M�dici” (PL 443/2015), em homenagem ao General Em�lio Garrastazu M�dici, presidente de 1969 a 1974.

Tamb�m ficou marcado por posi��es como em 1999, quando disse que era preciso “matar 30 mil” para solucionar o problema do Brasil, e, em 2014, por dizer � deputada federal Maria do Ros�rio (PT-RS) que n�o a estupraria porque “ela n�o merecia” – motivo de um de seus dois processos, por inj�ria, no Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2014, Bolsonaro teve sua maior vota��o para deputado federal, com 464 mil votos – o mais votado do Rio. Com mais de 50 milh�es de votos, aos 63 anos, Jair Bolsonaro foi eleito o presidente do Brasil, com posse marcada para 1º de janeiro.

LINHA DO TEMPO

21/3/1955 Nasce em Glic�rio, interior de S�o Paulo, filho de um dentista pr�tico e uma dona de casa, que tiveram outros cinco filhos.

1966 Depois de morar em diversas cidades do interior paulista, a fam�lia se estabelece em Eldorado, no Vale da Ribeira, sul do estado. Com 12 anos, ganha dinheiro com pesca e extra��o de palmito

1970 Por conhecer as matas do Vale da Ribeira, passa a colaborar com o Ex�rcito que estava atr�s do ex-capita�o do Ex�rcito e guerrilheiro Carlos Lamarca

1972 Forma-se como t�cnico eletricista por correspond�ncia

1973 � aprovado para a Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ)

1981 Nasce Fl�vio, o primeiro de tr�s filhos com Rog�ria Nantes. Teria ainda Carlos (1981) e Eduardo (1984), hoje, todos no Legislativo.

1982 Cursa educa��o f�sica no Ex�rcito e, em seguida, passa a servir no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, em Deodoro, no Rio.

1986 � preso por 15 dias depois de denunciar baixos sal�rios, e absolvido dois anos depois

1987 Idealiza ataque � bomba de baixa pot�ncia em banheiros da Vila Militar, em Resende (RJ), para protestar pela melhoria do soldo

1988 Superior Tribunal Militar (STM) absolve Bolsonaro, que � mandado para a reserva. Em novembro, � eleito vereador no Rio de Janeiro pelo Partido Democrata Crist�o (PDC)

1990 � eleito para o primeiro de sete mandatos sucessivos, passando por oito partidos at� chegar ao PSL este ano.

2005 Concorre � presid�ncia da C�mara pela primeira vez, sem sucesso. Tenta ainda em 2011 e 2017, todos com vota��o inexpressiva

2014 � reeleito para a C�mara dos Deputados com 465.572 votos, o mais votado do Rio

2016 Na vota��o do impeachment de Dilma Rousseff, exalta a mem�ria do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado em 2008 por sequestro e tortura durante a ditadura militar

Vira r�u no Supremo Tribunal Federal por incita��o ao estupro e inj�ria por epis�dio envolvendo a deputada Maria do Ros�rio (PT-RS)

22/7/2018 PSL lan�a oficialmente candidatura de Jair Bolsonaro

6/9/2018 Leva facada na regi�o do abdome durante ato de campanha em Juiz de Fora

7/10/2018 Obt�m 49.276.990 votos (46,03% dos v�lidos) no primeiro turno

28/10/2018 � eleito Presidente da Rep�blica com … votos