O Movimento Brasil Livre, que protagonizou as manifesta��es pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, fez fama criticando a pol�tica institucional, notadamente o PT, e a corrup��o. Depois de estrear nas urnas em 2016, o MBL agora estuda virar um partido. Al�m do interesse em se tornarem agentes pol�ticos, nos moldes tradicionais, seus membros reclamam das dificuldades de ocupar espa�os nas legendas que j� existem. Na Assembleia de S�o Paulo e na C�mara Federal, pleiteiam ainda as presid�ncias das Casas.
No Congresso Nacional, a "bancada MBL" elegeu cinco deputados federais e dois senadores. Neste m�s, o grupo fez uma jogada definitiva para mudar os rumos do movimento e protocolou uma consulta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para saber se assinaturas eletr�nicas poderiam ser aceitas para a forma��o de um partido.
A estrat�gia leva em conta o fato de que o partido tem presen�a expressiva nas redes sociais. Entre haters e seguidores, a p�gina do MBL no Facebook teve 100,9 milh�es de intera��es (curtidas, coment�rios e compartilhamentos) nos �ltimos 12 meses. N�o fica muito atr�s do presidente eleito, Jair Bolsonaro, cuja principal plataforma tamb�m foi as redes sociais - 126 milh�es de intera��es. Ele foi, inclusive, apoiado pelos l�deres do MBL no segundo turno.
A forte atua��o nas redes sociais ajudou a eleger membros do movimento de direita, mas n�o sem controv�rsias. Em julho deste ano, o Facebook desativou uma rede de 196 p�ginas e 87 perfis pessoais relacionados ao MBL, alegando que a rede "escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conte�do com o prop�sito de gerar divis�o e espalhar desinforma��o". O MBL alega que as p�ginas e perfis eram pequenos e de pessoas pr�ximas, n�o do movimento.
A ideia � que o movimento coexista com o partido, que n�o sejam excludentes. O primeiro passo, dizem os l�deres, � a resposta do tribunal. Calculam ent�o se ter�o nomes suficientes para compor uma bancada e se viabilizar como sigla. Rubens Nunes, o advogado que fez a consulta e um dos fundadores do MBL, diz que n�o podem "entrar numa aventura". "Se o MBL falar que vai fazer um partido, � porque ele vai acontecer. A gente n�o teria essa leviandade", disse.
'Natural'
Kim Kataguiri (DEM-SP), uma das principais lideran�as do grupo, foi um dos eleitos para a C�mara neste ano. "Foi uma mudan�a natural desde 2016. � natural que tenha mais essa atua��o", afirmou, quando questionado sobre a suposta mudan�a de posicionamento do movimento, de suprapartid�rio para uma legenda.
A bancada MBL tem membros do PSC, PROS, Novo, MDB e, principalmente, DEM. O partido do presidente da C�mara, Rodrigo Maia, serviu de guarda-chuva para o movimento e lan�ou o youtuber Arthur do Val, do canal Mam�e Falei, para a Assembleia de S�o Paulo, al�m de Kim e outros nomes. Este �ltimo, inclusive, a despeito da tentativa de reelei��o do seu correligion�rio e do incipiente apoio como novato, insiste que vai disputar a presid�ncia da Casa.
A legisla��o impede que um parlamentar com menos de 35 anos ocupe o cargo, por estar na linha sucess�ria da Presid�ncia da Rep�blica. O argumento do estreante � que h� jurisprud�ncia e, se eleito, vai tentar dissociar a linha sucess�ria do comando da Casa. Independentemente de eleito ou n�o, postular para o alto cargo j� garante palanque e visibilidade, bem-vindos para a cria��o de um futuro partido.
Em S�o Paulo, o vereador Fernando Holiday (DEM) disputou a presid�ncia da C�mara Municipal - o atual presidente era de seu partido, mas apoiou um sucessor tucano, eleito ontem. "A rela��o � complicada (com os partidos). Eles t�m seu modo de ser, elegem diret�rios, a maioria das vezes, de forma pouco transparente. E o MBL, por n�o focar em um s� partido, n�o participa dos diret�rios, dos processos decis�rios internos ou, quando participa, � pouco. A constitui��o de um partido nos traria mais independ�ncia e autonomia", disse o jovem de 22 anos.
O youtuber Arthur do Val � um dos que poderiam se beneficiar dessa mudan�a na dire��o. Nas elei��es se destacou ao protagonizar uma cena em que teria levado um "pescotapa" do ent�o candidato � Presid�ncia Ciro Gomes (PDT), ap�s provoc�-lo em uma grava��o. Segundo contou o estreante, pretende se candidatar � Prefeitura em 2020 e, para isso, tem poucas op��es.
"Tem o PSL, Novo, DEM ou uma legenda muito pequena e estrangulada. Fora toda aquela briga com os caras mais velhos do partido." Se o plano de criar o partido sair do papel at� o meio do ano que vem, um ano antes do pleito, sua candidatura pode se concretizar. Mais direto, arremata: "Meu partido � o MBL, o DEM � s� um n�mero que usei".
Nas cr�ticas da falta de espa�o, n�o citam nomes ou partidos, mas as principais lideran�as do MBL s�o filiadas ao DEM. "A gente vai conversar, ele n�o conhece bem como funciona a C�mara, isso a� � vontade de mostrar servi�o, trabalhar", disse o deputado federal Elmar Nascimento (DEM-BA). Ele vai assumir a lideran�a da sigla na C�mara no ano que vem e vai ter que equacionar a candidatura do jovem do MBL contra a de Rodrigo Maia. "Kim � uma pedra bruta a ser lapidada, vamos dar todas as condi��es para ele exercer na plenitude seu mandato."
Apesar de terem assinado uma carta compromisso antes das elei��es, com pontos como o Estado m�nimo e o endurecimento das regras contra o aborto, nem todos os parlamentares da "bancada MBL" est�o dispostos a integrar um futuro partido MBL. O senador eleito e atual deputado federal Marcos Rog�rio (DEM-GO) � amigo pr�ximo dos membros do movimento e subscreveu a carta, mas n�o pretende deixar sua sigla. "N�o tenho raz�o pra poder deixar um partido e criar um novo. Nosso problema n�o � a cria��o de outros partidos, a gente tem que mud�-los por dentro." Para ele, se a ideia do MBL se concretizar, "perde um pouco a for�a do movimento e acaba numa vala comum, ser� mais um partido".
Financiamento
O movimento vai esbarrar na dificuldade de convencer deputados a deixarem a estrutura de suas legendas para embarcar num partido novo que n�o deve ter recursos p�blicos. Como o MBL � contr�rio ao Fundo Partid�rio, avalia que o financiamento de um eventual partido deve sair de financiamento coletivo. A eventual mudan�a vai esbarrar numa mudan�a de h�bito: n�o s�o p�blicas as fontes de renda do MBL.
"Uma vez que exista o partido, tem que prestar contas, isso tudo ser� feito. Hoje n�o divulgamos os doadores porque s�o sigilosos, empres�rios que doam e n�o querem aparecer por medo de retalia��o", disse o fundador do grupo Rubens Nunes. Para o professor de Direito Eleitoral do Mackenzie Alberto Rollo, a distin��o dos caixas � central. "Tem que separar bem as coisas, at� porque n�o existe doa��o de pessoa jur�dica para partido. O MBL � uma coisa, o MBL partido tem de ser outra."
No Facebook
100,9 mi � o n�mero de intera��es (coment�rios, curtidas e compartilhamentos) que a p�gina do MBL na rede social teve nos �ltimos 12 meses.
126,12 mi � o quanto o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), teve em intera��es no Facebook no
mesmo per�odo.
278 milh�es visualiza��es dos v�deos do MBL na rede social.
589 milh�es de visualiza��es dos v�deos do presidente eleito. Bolsonaro costuma fazer transmiss�es
ao vivo na sua p�gina.
12,5 mil � o n�mero de posts que o MBL publicou no Facebook nos �ltimos 12 meses.
1,4 mil � o n�mero de postagens que o presidente eleito realizou de dezembro de 2017 a dezembro de 2018.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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POL�TICA
Antissistema, MBL quer at� virar partido
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