
A brincadeira de comparar uma foto de 2009 com outra de 2019, mais conhecida como #10yearchallenge (#desafiodos10 anos, em livre tradu��o), se espalhou nesta semana pelas redes sociais e pegou personalidades de quase todos os setores. Atores, atrizes, cantoras, cantores, esportistas e humoristas de v�rios pa�ses entraram no jogo com milhares de pessoas que compartilharam suas fotos recentes e antigas nas redes. A ideia pretende mostrar o quanto as pessoas mudaram (ou n�o) ao longo de uma d�cada e tentar lembrar onde elas estavam e at� aonde chegaram. O Estado de Minas resolveu incluir os chefes do Executivo das tr�s esferas do poder – federal, estadual e municipal– no desafio para relembrar como estavam Jair Bolsonaro (PSL), Romeu Zema (Novo) e Alexandre Kalil (PHS) h� 10 anos e mostrar de onde vieram, cada qual em uma �rea diferente de atua��o, e suas trajet�rias ao longo desse per�odo.
Jair Bolsonaro

O sorriso farto adotado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) desde a campanha n�o � o mesmo que ele sustentava em 2009. Naquele ano, os mesmos discursos incisivos sobre temas pol�micos j� davam o tom das falas do ent�o deputado federal, mas, pelo menos em suas apari��es p�blicas, a cara era de poucos amigos. H� 10 anos, Bolsonaro estava na metade do quinto mandato na C�mara dos Deputados e atuava pelo PP, partido que deixou em 2016, e sustentava corte de cabelo bem diferente do atual, mais de acordo com a moda da �poca, em que a franja fazia sucesso.
Em discurso no plen�rio da Casa em 2 de abril de 2009, Bolsonaro ressaltava a participa��o dos militares no Brasil e negava a exist�ncia da ditadura militar e do golpe de 1964. “Sem as obras dos militares o Brasil n�o existiria. E obras sem roubalheira, porque voc� n�o encontra nenhum coronel rico, sargento, capit�o da PM. Hoje em dia, qualquer ‘z� man�’ do terceiro escal�o est� com os bolsos cheios de grana. E obras superfraturadas (sic), quer dizer, quebradas”, afirmou.
Em outro momento do mesmo discurso ele rivaliza com a ex-presidente Dilma Rousseff. ent�o ministra da Casa Civil do governo Lula, e cita uma s�rie de crimes ocorridos durante o per�odo militar que teriam sido cometidos por ela. Como argumento, Bolsonaro usa manchetes de jornais publicadas nos primeiros dias de abril de 1964. Entre elas, a do Estado de Minas, que cita o movimento na Pra�a da Liberdade. Tudo para afastar a tese do golpe.
Em 2010, o ent�o deputado j� voltava sua aten��o para Israel. Em 8 de dezembro daquele ano, Bolsonaro participou do grupo que recepcionou o embaixador de Israel, Giora Becher, em visita � C�mara dos Deputados. O agora presidente, que quer transferir a embaixada brasileira para Jerusal�m, integrava a Frente Parlamentar Brasil-Israel pela Paz. Na �poca, j� se discutia um acordo de livre com�rcio entre o Mercosul e Israel. O acordo, na avalia��o dos deputados, evitaria que o Brasil e os pa�ses do Mercosul fossem afetados pelo conflito entre israelenses e palestinos.
Geralmente atuando no combate �s causas defendidas pelo movimento LGBTI+, em 2015, Bolsonaro apresentou projeto de lei que pretendia sustar medidas da Secretaria de Direitos Humanos, entre elas a possibilidade de uso do nome social em escolas e institui��es. De l� para c�, entrou em confronto direto com colegas de esquerda, principalmente mulheres, como a petista Maria do Ros�rio, que acabou levando o parlamentar � Justi�a.
Da� at� a Presid�ncia da Rep�blica, o caminho foi pavimentado por opini�es controversas, com declara��es consideradas racistas e homof�bicas, e muita exposi��o na m�dia, sempre atra�da pela audi�ncia provocada por ele.
Romeu Zema

Em 2009, o governador Romeu Zema (Novo) levava uma vida tranquila em Arax�, sua cidade natal, no Alto Parana�ba. O empres�rio completava 18 anos no comando das Lojas Zema, comemorando um crescimento estrondoso. Ele sempre trabalhou no grupo varejista fundado pelo seu bisav� Domingos Zema, onde come�ou como cobrador. Foi frentista, balconista, estoquista, caixa, comprador antes de chegar a gerente. Aos 44 anos, Zema, que dispensava �culos de grau, administrava 213 lojas, quase quatro vezes mais do que quando passou a presidente da empresa.
Em 2016, se afastou do comando do grupo, hoje com 430 lojas, para iniciar pr�-campanha para o governo de Minas pelo rec�m-criado Partido Novo. Agora, aos 54 anos, completados no dia em que foi eleito em segundo turno, Zema assume o governo do estado, eleito na sua primeira disputa a um cargo p�blico com 6,9 milh�es de votos, o equivalente a 72% das urnas.
Para os pr�ximos quatro, e n�o 10 anos, Zema tem o desafio de tirar o estado da crise que levou ao atraso de repasses a munic�pios e no pagamento de sal�rios do funcionalismo p�blico. Tamb�m resta saber se o governador conseguir� manter a forma f�sica, como conseguiu na �ltima d�cada. Um desafio um tanto complicado a pol�ticos, que costumam engordar ao longo dos mandatos.
Alexandre Kalil

H� 10 anos, Alexandre Kalil assumia o cargo que chegou a considerar “o segundo mais importante de Minas Gerais”, o de presidente do Atl�tico. Na �poca, afirmou que apenas a responsabilidade do governador do estado estaria acima, em quest�o de import�ncia, da principal cadeira no seu clube do cora��o. Em 2009, Kalil nem sonhava em tratar de temas como o aumento da passagem do �nibus, revitaliza��o dos centros de sa�de ou das escolas da capital mineira. Sua maior dor de cabe�a no in�cio daquele ano era acertar os detalhes da contrata��o do atacante Diego Tardelli.
Uma d�cada depois e com dois anos � frente da Prefeitura de BH, Kalil mant�m o estilo que marcou sua gest�o � frente do Galo, sem muita sutileza para abordar temas pol�micos e com sinceridade para falar dos problemas da cidade. Seis meses ap�s assumir o cargo, desabafou nas redes sociais: “T� dif�cil. N�o � mole isso aqui. Isso aqui n�o � brincadeira”.
Eleito para presidir o Atl�tico pela primeira vez entre 2009 e 2011, ap�s uma d�cada turbulenta � frente do time, Kalil adotou um modelo diferente de gest�o. Priorizou investimentos na �rea de futebol e deixou de lado outros esportes. O primeiro ano foi sofrido em termos de resultado, com o vice-campeonato no Mineiro e um frustrante 7º lugar no Brasileiro, ap�s o time ficar parte do campeonato na lideran�a.
Os resultados que tornaram Kalil candidato viriam somente em seu segundo mandato � frente do Atl�tico, no tri�nio 2011 a 2014, quando ele montou o time campe�o da Libertadores, Recopa Sul-americada e Copa do Brasil. Mesmo sem grandes resultados dentro do campo, logo em sua estreia como cartola, Kalil se tornaria conhecido em todo o pa�s, com declara��es duras e brigas com outros dirigentes e entidades do futebol.
“Essa quadrilha montada na Federa��o Mineira n�o deixa nenhum time jogar com 11 contra o Cruzeiro. � uma vergonha. Se est�o achando que aqui tem um ‘Kalilzinhol light’ � o diabo que carregue essa camarilha. Agora o Atl�tico tem presidente”, disparou Kalil ap�s perder um cl�ssico em 2009. No final de 2018, adotou o mesmo tom para tratar do aumento do �nibus em BH, dessa vez nas redes sociais: “Se as empresas de �nibus fazem o que querem, v�o receber o troco. Belo Horizonte tem governo”.
Cidade Administrativa

Em 2009, o cen�rio era de obras no terreno �s margens da MG-010, no Bairro Serra Verde, Regi�o Norte da capital mineira. O governo de Minas, comandado por A�cio Neves (PSDB), corria contra o tempo para manter o cronograma da constru��o e entregar a nova sede do Poder Executivo mineiro ainda no mandato do tucano. Oper�rios chegaram a trabalhar em tr�s turnos. A inaugura��o ocorreu no ano seguinte, em 4 de mar�o, data de anivers�rio do av� de A�cio, Tancredo Neves. De l� para c�, a Cidade Administrativa se tornou centro de investiga��es de desvio de verbas pela Opera��o Lava-Jato, envolvendo empreiteiras e o ex-governador, e disputas entre petistas e tucanos. Em 2017, o governo Fernando Pimentel (PT) decidiu colocar o local � venda, com expectativa de arrecadar cerca de R$ 4 bilh�es. A ideia n�o foi para frente, mas o petista manteve as cr�ticas � constru��o e decidiu interditar o Pal�cio Tiradentes. Pimentel preferiu usar o Pal�cio da Liberdade, no Centro da capital, como local para despachos e eventos do governo. O Pal�cio Tiradentes foi reaberto pelo atual governador, Romeu Zema (Novo), e, quase 10 anos ap�s a inaugura��o, a Cidade Administrativa voltou a ser sede do governo de Minas.