O grupo de bispos brasileiros que prepara o S�nodo sobre Amaz�nia, previsto para ocorrer em outubro, em Roma, critica a presen�a de representantes do governo federal no evento. O cardeal e arcebispo em�rito de S�o Paulo, d. Cl�udio Hummes, um dos mais pr�ximos do papa Francisco, foi indicado pela Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para levar ao Vaticano o pedido do Planalto para participar do encontro, mas ele sugeriu � equipe do presidente Jair Bolsonaro buscar outro interlocutor. "Sugeri que o governo acionasse a Embaixada do Brasil na Santa S� como contato, pois se trata de uma quest�o diplom�tica", disse ele ao Estado.
Presidente da Comiss�o Episcopal para a Amaz�nia da CNBB e prefeito em�rito da Congrega��o para o Clero em Roma, Hummes afirmou que a Igreja Cat�lica n�o pretende prejudicar Bolsonaro nem dar uma "resposta" a repress�es sofridas nos tempos do regime militar. "Deve-se ter a preocupa��o de n�o olhar para o passado, mas para o futuro, pois n�o � a mesma coisa agora", disse, referindo-se a setores da Igreja que temem a repeti��o da conturbada rela��o do clero com a ditadura militar.
Um dos principais nomes da Igreja Cat�lica em atividade na regi�o Norte, o bispo em�rito do Xingu (PA), d. Erwin Kr�utler, reagiu com estranheza ao interesse do Planalto em influenciar o encontro religioso para tratar de temas como meio ambiente e �ndios. "N�s conhecemos a Amaz�nia muito melhor do que qualquer integrante do governo federal", afirmou. "Como v�o contribuir quando falarmos da situa��o da floresta, que vivemos h� tantos anos?", questionou.
Entre os integrantes do Planalto, est�o ex-comandantes militares da Amaz�nia, como os generais Augusto Heleno Ribeiro, ministro do Gabinete de Seguran�a Institucional (GSI), e Eduardo Villas B�as, assessor da pasta, al�m do vice-presidente, general Hamilton Mour�o, cuja fam�lia � do Amazonas e comandou em S�o Gabriel da Cachoeira, interior do Estado.
Aos 79 anos, sendo 54 no Par�, d. Erwin disse que � incomum a participa��o de autoridades pol�ticas nesses encontros globais promovidos pelo Vaticano. "N�o, meu irm�o. � um S�nodo de bispos!", disse � reportagem. "Nunca vi membro de governo de qualquer pa�s convidado", acrescentou. "O que um representante do governo vai dizer quando estivermos tratando de novos caminhos da evangeliza��o?"
D. Erwin foi um dos autores da Enc�clica do Meio Ambiente, documento assinado pelo papa Francisco em 2015, que serviu de base para a decis�o da Igreja em realizar o S�nodo. Ele afirmou que os representantes dos governos dos outros oito pa�ses da Amaz�nia - Bol�via, Peru, Equador, Col�mbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Fran�a (Guiana Francesa) - tamb�m deveriam ser convidados. "Se convidar algu�m do Brasil, o papa ter� de chamar tamb�m pessoas de outros pa�ses. Isso me parece at� um absurdo."
'Responsabilidade'
Outro envolvido nos preparativos do S�nodo, o presidente do Conselho Indigenista Mission�rio (CIMI), d. Roque Paloschi, disse que o encontro focar� uma "realidade" de "direitos negados" a �ndios, ribeirinhos, quilombolas e extrativistas. "N�o estamos jogando culpa em ningu�m, estamos assumindo uma responsabilidade hist�rica que exige de n�s clareza", afirmou. "A Igreja tem de ficar do lado de quem? Ao lado de quem promove a morte ou de quem busca a vida?", questionou.
D. Roque discorda da vis�o do Planalto de que os religiosos agem por simpatia � esquerda e antipatia a Bolsonaro. "A miss�o da Igreja � viver o Evangelho", afirmou. "N�o temos nada a esconder. Mas tamb�m n�o temos de nos encolher porque h� uma preocupa��o do governo."
O Estado questionou o Itamaraty sobre as tratativas com o Vaticano, mas n�o obteve resposta at� a conclus�o desta edi��o. A Embaixada da Santa S� em Bras�lia disse que s� falaria nesta semana.
4 PERGUNTAS PARA D. Erwin Kr�utler, bispo em�rito do Xingu, no Par�
1. O governo Bolsonaro vai ser criticado no S�nodo?
Se os bispos fazem cr�tica � querendo ajudar, n�o derrubar. Eles sabem onde o sapato aperta. V�o falar da situa��o dos povos e do bioma amea�ado. Mas n�o para atacar frontalmente o governo.
2. O governo mudou a demarca��o e quer abrir economicamente as terras ind�genas.
Isso fere a Constitui��o, que � exemplar. Que nisso n�o se mexa. Se o governo ousar ferir, vamos nos levantar.
3. O governo editou decreto para fiscalizar ONGs.
� sup�rfluo. O que deve ser fiscalizado � o que se faz clandestinamente. Tem tanta roubalheira aqui na Amaz�nia que s� Deus sabe. N�o precisa ter medo das ONGs.
4. Houve aumento de conflitos florestais?
Nunca parou. Desde 1.� de janeiro tem gente invadindo e derrubando onde n�o pode. Essa conversa de que vai ser aberto � nefasta. Vai conspurcar a imagem do Brasil no exterior.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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