
Nascidos de um movimento pol�tico de ocupa��o das ruas da cidade, alguns dos maiores blocos de rua de Belo Horizonte preparam desfiles que contestam posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e prometem ir para a avenida para deixar seu recado contra o atual governo. Apesar do momento sens�vel na pol�tica, que deixou o pa�s dividido entre apoiadores e cr�ticos de Bolsonaro, eles refor�am que a festa � democr�tica e participa quem quer, independentemente de partido.
No ano passado, a t�nica da festa momesca na capital mineira foi a cr�tica ao ex-presidente Michel Temer (MDB). Uma das cenas que marcaram a folia foi uma multid�o gritando “Fora, Temer” na manh� do s�bado de carnaval, no desfile do bloco Ent�o, Brilha, na Avenida dos Andradas, no Centro. De l� pra c�, o bloco tamb�m participou de atos “Ele, n�o” e se posicionou abertamente contra Bolsonaro.
“Somos a favor das mulheres, contra o racismo, tudo pautado na ideia de que gente � pra brilhar. Vamos fazer v�rios posicionamentos, porque acreditamos sim, no carnaval pol�tico e que, atrav�s da alegria, conseguimos lutar contra as opress�es”, diz a cantora do Brilha Michelle Andreazzi. N�o est� no roteiro puxar um “Ele, n�o”. “Mas, se acontecer, n�o temos receio. Vivemos numa democracia e todos t�m liberdade de express�o”.
Todos s�o bem-vindos no bloco. “Se eleitores do Bolsonaro puderem vir para abrir o cora��o e plantar uma sementinha de amor... S� n�o � bem-vindo quem n�o respeita os direitos dos outros”, afirma.
Um dos maiores blocos do carnaval de BH, o Chama o S�ndico mudou de hor�rio, dia e endere�o e este ano sai no domingo pela manh�, em frente ao est�dio Mineir�o, na Pampulha. O que n�o muda � a defesa de um carnaval “de luta e reflex�o”. Sem partido, mas com tom pol�tico, este ano o S�ndico leva pra avenida o tema “A incr�vel hist�ria de um pa�s tropical”.
“Estamos contra esse projeto pol�tico do governo atual, contra esse mar de lama que se instaurou no Brasil, que n�o respeita a soberania popular, a pluralidade e a diversidade”, afirma um dos fundadores do grupo, o percussionista Paulo “PG” Rocha.
Segundo ele, a rua � p�blica e a festa do povo. “Mas, se quem votou no Bolsonaro for, pode se sentir incomodado porque vamos deixar o nosso recado mais claro ainda a favor das chamadas minorias, que, na verdade, s�o maioria, quilombolas, LGBT+ e as mulheres”, diz. “Somos contra o conservadorismo, contra quem acha que ambientalistas s�o ecochatos e que fam�lia � s� heterossexual”, cita.
O bloco Juventude Bronzeada, que desfila na ter�a-feira de carnaval, publicou uma nota em sua p�gina do Facebook com o posicionamento pol�tico do grupo. “Gostamos sempre de reafirmar que nos posicionamos abertamente contra o atual governo. A Juve sempre foi e sempre ser� um bloco que luta a favor da democracia e da liberdade de express�o, por isso nos opomos a qualquer governo que ameace o bem-estar daqueles que amamos”, informa o texto.
O cortejo ser� tamb�m uma contesta��o ao atual governo. “Festejamos juntos com a consci�ncia de que carnaval e pol�tica podem e devem se cruzar, por isso, durante o cortejo convocamos todos para que gritemos contra o fascismo, contra o extremo conservadorismo, contra o machismo, racismo, sexismo, LGBTfobia e a favor da democracia sempre!”, aponta.
REP�DIO, COM RESPEITO
Regente do Garotas Solteiras e Al� Abacaxi, blocos LGBT, Jhonatan Melo refor�a que os dois grupos n�o t�m qualquer problema de assumir o rep�dio ao governo Bolsonaro. “Ele representa tudo que a gente teme”, diz. “O que a gente est� discutindo n�o � a op��o pol�tico-partid�ria, o discurso evoluiu, tem a ver com a pauta humana do carnaval. N�o queremos deixar de ir pra rua por medo de viol�ncia, queremos respeito e n�o vamos tolerar o discurso de �dio”, afirma. “As pessoas que votaram em Bolsonaro s�o bem-vindas, desde que respeitem o espa�o das outras pessoas”, diz.
“A gente � contra o Bolsonaro, mas democracia � isso, saber dialogar com o diferente. Seja de direita ou de esquerda, desde que a pessoa n�o seja violenta, n�o vejo problema de participar. O di�logo tamb�m se d� atrav�s da m�sica”, afirma o mestre de bateria Unidos do Samba Queixinho, Gustavo Caetano. O Samba Queixinho, que desfila no domingo, traz este ano o tema “O corpo na rua”, um espet�culo que comemora os 10 anos da escola de samba e ainda homenageia o Grupo Corpo.