
Depois de movimentos arriscados e de declara��es pol�micas nas �ltimas 72 horas, o presidente Jair Bolsonaro convocou dois generais — o porta-voz Ot�vio R�go Barros e o ministro-chefe do Gabinete de Seguran�a Institucional (GSI), Augusto Heleno — para uma transmiss�o ao vivo nas redes sociais.
A tentativa era reduzir danos. A estrat�gia foi a solu��o encontrada pelos conselheiros militares para sustentar a credibilidade do governo, que recebeu cr�ticas dos pr�prios aliados depois da publica��o de um v�deo obsceno feita na conta pessoal do capit�o reformado no Twitter na ter�a-feira. Uma declara��o dada de Bolsonaro na manh� de ontem — de que s� “existem democracia e liberdade quando as For�as Armadas assim o querem” — levou o Pal�cio do Planalto � certeza em optar por uma a��o r�pida no in�cio da noite de ontem.
Antes mesmo da declara��o sobre as For�as Armadas, feita durante a cerim�nia de anivers�rio do Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio de Janeiro, os conselheiros militares de Bolsonaro haviam sugerido a produ��o de um v�deo.
O Planalto n�o esperava uma rea��o negativa sobre a frase do presidente. Sem fazer refer�ncia � publica��o pol�mica no Twitter, ele come�ou se defendendo, dizendo que governar� ao lado das “pessoas de bem”. “Daquelas que amam a p�tria, daqueles que respeitam a fam�lia, daqueles que querem aproxima��o com pa�ses que t�m ideologia semelhante � nossa, daqueles que amam a democracia e a liberdade”, declarou.
A frase endossou a nota oficial publicada pela Secretaria Especial de Comunica��o Social da Presid�ncia, de que o v�deo � um crime contra os “valores familiares e as tradi��es culturais do carnaval”.
A declara��o controversa dita na cerim�nia veio depois, quando Bolsonaro finalizou o discurso: “(S� existem) democracia e liberdade quando as For�as Armadas assim o querem”, afirmou. Por causa do teor, a frase se transformou, em poucos minutos, em um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, inclusive por oposicionistas e governistas.
O pronunciamento de Bolsonaro ecoou r�pido no Planalto. A expectativa era de que, depois da publica��o do v�deo obsceno no Twitter — que acabou tendo uma repercuss�o internacional e levantou cr�ticas at� de aliados —, Bolsonaro deixasse de lado qualquer chance de estimular uma nova controv�rsia.
Assim, por mais que n�o admitissem, integrantes do Planalto se apressaram para explicar a frase. Foi o caso do vice-presidente Hamilton Mour�o, que minimizou a fala como um “mal-entendido” e negou que o contexto seja amea�ador. Heleno tamb�m saiu em defesa. “N�o tem nada de pol�mico. No caso do Brasil, as For�as Armadas s�o o pilar da democracia e da liberdade”, rebateu.
Os regimes cubano e venezuelano foram usados por Heleno como exemplos de quando as For�as Armadas n�o querem liberdade e democracia. “Por que (Nicol�s) Maduro � mantido (na Venezuela)? Porque as For�as Armadas est�o segurando o presidente j� praticamente deposto. Por que Fidel Castro durou o tempo que durou? Porque as For�as Armadas mantiveram a ditadura cubana. De acordo com a determina��o das For�as Armadas, isso acaba sendo fator fundamental do regime pol�tico do pa�s”, justificou.
Mesmo com o respaldo de Mour�o e Heleno, a avalia��o no Planalto ainda era de que o pr�prio presidente deveria se posicionar. E assim o fez. Bolsonaro promoveu a primeira “live” para se comunicar com a sociedade como presidente da Rep�blica e se defendeu. “Devemos �s For�as Armadas a nossa democracia e nossa liberdade. E assim � em todo lugar do mundo. E essa fala come�ou a levar para o lado das mais diversas interpreta��es poss�veis”, minimizou.
Garoto-propaganda
A transmiss�o foi comemorada por governistas e l�deres partid�rios dispostos a compor a base aliada. A transmiss�o ao vivo era um pedido dos aliados para construir uma estrat�gia de comunica��o capaz de mobilizar apoio da popula��o a fim de aprovar a reforma da Previd�ncia. “� um in�cio. Agora, � n�o parar”, ponderou o deputado Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), l�der da legenda na C�mara. “Ou o garoto-propaganda � ele, ou n�o tem reforma. O presidente tem que vender a import�ncia das propostas defendidas pelo governo � sociedade”, acrescentou.
O sucesso da “live” motivou o governo a reproduzir a estrat�gia todas as quintas-feiras, �s 18h30. A meta � comunicar ao p�blico as a��es e medidas defendidas pelo governo. Como ontem, quando Bolsonaro comentou sobre a reforma da Previd�ncia (leia mais na p�gina 3), a pretens�o em estender a validade da Carteira Nacional de Habilita��o (CNH) de cinco para 10 anos e a proposta de extinguir as lombadas eletr�nicas no pa�s. “N�o teremos mais nenhuma, e as lombadas que por ventura existirem — que ainda s�o muitas —, quando forem perdendo a validade, n�o ser�o renovadas”, afirmou.
Contratos renovados
O governo decidiu renovar os contratos com as ag�ncias Isobar e TV1 para cuidar da �rea de m�dias digitais da Presid�ncia da Rep�blica. A renova��o prev� o desembolso de R$ 32 milh�es por ano com os servi�os das duas empresas, o que representou uma redu��o de 25% em rela��o ao contrato anterior. A ideia � que as duas contratadas continuem fazendo o monitoramento dos perfis oficiais da Presid�ncia. No fim de 2018, aliados do presidente cogitaram cancelar a presta��o dos servi�os e montar uma estrutura menor, para cuidar das redes sociais oficiais.