O ministro das Rela��es Exteriores, Ernesto Ara�jo, voltou neste s�bado a identificar o nazismo como um movimento de esquerda, em artigo publicado em seu blog pessoal, duas semanas depois de ter feito essa mesma associa��o em entrevista ao canal do YouTube Brasil Paralelo. O artigo foi publicado ap�s especialistas reagirem com cr�ticas a esse trecho da entrevista.
"Eu opinei que o nazismo � de esquerda, e imediatamente a esquerda (junto com o mainstream por ela dominado sem o saber) chegou correndo com seus extintores de inc�ndio, ou melhor, seus extintores de verdade, tentando apagar essa ideia", afirma o ministro, no in�cio do seu artigo, compartilhado por ele em sua conta no Twitter.
No texto, Ara�jo defende em seguida que � f�cil notar que "o nazismo tinha tra�os fundamentais que recomendam classific�-lo na esquerda do espectro pol�tico."
"O nazismo era anti-capitalista (sic), anti-religioso (sic), coletivista, contr�rio � liberdade individual, promovia a censura e o controle do pensamento pela propaganda e lavagem cerebral, era contr�rio �s estruturas tradicionais da sociedade. Tudo isso o caracteriza como um movimento de esquerda", argumenta. "Portanto, o nazismo era anti-liberal (sic) e anti-conservador (sic). A esquerda tamb�m � anti-liberal (sic) e anti-conservadora (sic)", diz.
"J� a direita foi em alguns casos anti-liberal (sic) (durante o S�culo XIX na Europa, por exemplo), em outros casos anti-conservadora (sic) (ou pelo menos n�o-conservadora, indiferente aos valores conservadores, como no caso do neoliberalismo recente), mas nunca foi anti-liberal (sic) e anti-conservadora (sic) ao mesmo tempo. Em tal sentido, o nazismo se sente muito mais confort�vel no campo da esquerda do que no da direita", compara.
Na entrevista ao canal Brasil Paralelo, ele afirmou que nazismo e fascismo s�o resultados de "fen�menos de esquerda". "Eles, de certa forma, sequestraram esse sentimento (do nacionalismo). � muito a tend�ncia da esquerda: pega uma coisa boa, sequestra, perverte e transforma em coisa ruim. Isso tem a ver com o que eu digo que fascismo e nazismo s�o fen�menos de esquerda. � a mesma l�gica", diz.
A declara��o do chanceler ao canal repercutiu negativamente na principal emissora de TV p�blica da Alemanha, a Deustche Welle. Em texto publicado na quinta-feira, na vers�o do seu site em portugu�s, a emissora afirma que as falas de Ara�jo v�o contra o consenso acad�mico sobre o tema e ressalta que essa discuss�o � inexistente entre historiadores s�rios do pa�s. "H� d�cadas n�o restam mais d�vidas, nos �mbitos acad�mico, social e pol�tico, sobre a natureza de extrema direita do nazismo", diz a reportagem.
Para o jornalista do O Estado de S. Paulo e historiador Marcos Guterman, o nazismo n�o pode ser qualificado como de esquerda em nenhuma circunst�ncia. Em geral, quem usa esse discurso se vale do nome da legenda nazista: Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alem�es. H� grupos na internet que costumam reproduzir essa ideia. "Mas � outro contexto. N�o tem nada a ver com o socialismo marxista. Tem a ver com o sentido da totalidade da sociedade alem�", afirmou ele.
Para Guterman, se trataria de uma argumenta��o insustent�vel cujo �nico objetivo seria o de mobilizar a milit�ncia. "Ele est� respondendo a um pensamento do eleitor." Em entrevista � Deustche Welle no ano passado, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, chegou a afirmar que essa discuss�o "n�o tinha base honesta".
O professor alem�o Oliver Stuenkel, da �rea de rela��es internacionais da Funda��o Get�lio Vargas (FGV-SP), diz que a afirma��o faria parte do "submundo das conspira��es". Para Stuenkel, a argumenta��o de Ara�jo traz constrangimento, mas h� o entendimento de que ela n�o representa a totalidade do governo.
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