Era para ser apenas mais um caf� da manh� na rotina do ministro da Economia, Paulo Guedes, no hotel onde ele "mora" quando est� em Bras�lia, no meio da semana. Ao lado de sua mesa, por�m, um rosto conhecido lhe chamou aten��o. Sozinho, o ex-chefe da Casa Civil de Michel Temer, Eliseu Padilha, famoso pela habilidade em lidar com os humores e vota��es do Congresso, fazia seu desjejum. Padilha logo acenou: "Lembra de mim?". Guedes n�o hesitou e foi at� o "homem da planilha" pedir conselho: "Com quem devo falar no Congresso para aprovar a reforma da Previd�ncia?".
Padilha nem precisou refletir. Abriu o manual da "velha pol�tica" e foi direto: "Procure os senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Eduardo Braga (MDB-AM) e o deputado Arthur Lira (PP-AL)." Guedes ouviu, assentiu com a cabe�a, agradeceu e foi embora.
O encontro ocorreu em uma quarta-feira, 29 de maio. O ministro j� tinha jantado com Renan e conversado duas vezes com Braga, em reuni�es da bancada do MDB. Dias ap�s receber a dica de Padilha, o titular da equipe econ�mica tamb�m teve uma reuni�o com parlamentares do PP de Lira.
Guedes conheceu Renan no fim do ano passado, em Bras�lia. De l� para c�, os dois trocam "diagn�sticos". O ex-presidente do Senado, no entanto, n�o assegura apoio integral �s mudan�as na aposentadoria propostas pelo governo. A cautela marca, ainda, o discurso de Braga e Lira sobre o assunto.
"Eu n�o tenho a pretens�o de ser conselheiro do Paulo Guedes", disse Renan ao Estado. "N�o � poss�vel fazer uma �nica reforma, nem d� para cobrir o d�ficit fiscal com a economia desabando", emendou. Ir�nico, o senador afirmou que, antes de tudo, o governo precisa mesmo � ir atr�s do apoio da bancada do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro.
"Em um cen�rio desses na pol�tica, que papel � reservado � oposi��o?", provocou ele, na quarta-feira, 5, ao assistir a um bate-boca entre o senador Major Ol�mpio (SP), que comanda a bancada do PSL, e a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), l�der do governo no Congresso.
Advers�rio de Renan, Lira disse que, ap�s a conversa de Guedes com deputados do PP, muitas d�vidas foram resolvidas. "Tenho mantido contatos di�rios com Rog�rio Marinho (secret�rio especial da Previd�ncia e do Trabalho). Ningu�m est� mais atualizado do que ele", afirmou o l�der do PP na C�mara. "N�s somos a favor da reforma, mas � preciso tirar de l� o BPC (Benef�cio de Presta��o Continuada), a aposentadoria rural e os Estados e munic�pios."
Batizado de "Posto Ipiranga" na campanha eleitoral e hoje chamado de "PG" por Bolsonaro, Guedes procura medir bem os passos em suas incurs�es pelo mundo pol�tico. Al�m de seguir os conselhos de Padilha, ele acatou a ideia do assessor especial Guilherme Afif Domingos e abriu as portas de seu gabinete. Desde fevereiro, quando o Congresso iniciou a nova legislatura, o ministro recebeu 312 parlamentares de v�rios partidos.
As reuni�es seguem sempre o mesmo ritual. Senadores e deputados s�o acomodados ao redor de uma longa mesa oval. O ministro embala, ent�o, seu pedido de apoio � aprova��o da reforma da Previd�ncia com a defesa do pacto federativo e da descentraliza��o de recursos para Estados e munic�pios. "O senhor constr�i o c�u, mas n�s, deputados, n�o teremos a chave dele. Ent�o, vamos ajudar o governo a construir o c�u e viver no inferno", disse a Guedes o l�der do DEM na C�mara, Elmar Nascimento (BA).
O Pal�cio do Planalto precisa do apoio de 308 deputados e 49 senadores, em duas vota��es, para que as mudan�as propostas na aposentadoria saiam do papel. Rog�rio Marinho garantiu ao ministro, recentemente, que o n�mero est� "quase l�", mas, nos bastidores, deputados dizem haver muito ch�o pela frente. Ao participar de uma audi�ncia p�blica na Comiss�o de Finan�as e Tributa��o da C�mara, na ter�a-feira, 4, Guedes usou uma imagem forte para comparar a situa��o do Brasil � de uma "baleia ferida" por golpes de arp�o, que n�o consegue se mover.
"Paulo Guedes � meu amigo, mas ele usa a frase errada quando vem a p�blico explicar a quase recess�o que o Brasil vive. Ele fala: 'Ah, � porque a Previd�ncia est� atrasada'. S� que a Previd�ncia n�o est� atrasada. Se eles tivessem se organizado, poderiam ter votado em mar�o", afirmou ao Estado o presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Nas conversas em seu gabinete, Guedes sempre diz que consertar o Brasil n�o � quest�o "de direita nem de esquerda", mas ouve queixas de muitos parlamentares preocupados em avalizar uma proposta com pouca aceita��o popular. Ex-professor, ele adota o estilo "fala que eu te escuto" e procura convencer os mais resistentes.
"O ministro tem uma avalia��o simplista, mas n�s sabemos que n�o � bem assim", argumentou a deputada Professora Dorinha (DEM-TO). "Muitos do nosso partido que fizeram a defesa cega da reforma trabalhista (na gest�o de Michel Temer) perderam as elei��es." O pr�prio Rog�rio Marinho, ent�o relator do tema na C�mara, foi derrotado, ap�s oito anos de mandato. N�o � s�: dos 23 parlamentares que �quela �poca votaram a favor das mudan�as na Previd�ncia, na Comiss�o Especial, apenas cinco se reelegeram. Guedes, por�m, sempre diz ser um homem de muita f�. E j� virou adepto das planilhas de Padilha. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
POL�TICA