A Pol�cia Federal deflagrou ontem a 64.� fase da Lava Jato, denominada Opera��o Pentiti, para apurar supostos crimes de corrup��o envolvendo o banco BTG Pactual e a Petrobras na explora��o do pr�-sal e "em projeto de desinvestimento de ativos" na �frica. Entre os alvos da Pentiti - baseada na dela��o premiada do ex-ministro Antonio Palocci (governos Lula e Dilma) - est�o a ex-presidente da estatal Gra�a Foster e o banqueiro Andr� Esteves.
Segundo a PF, o preju�zo com o esquema pode ter alcan�ado US$ 1,5 bilh�o - o equivalente a cerca de R$ 6 bilh�es. � a primeira vez que Gra�a Foster, que presidiu a Petrobras entre fevereiro de 2012 e fevereiro de 2015, � alvo de mandados de busca e apreens�o na Lava Jato. Seu antecessor, Jos� Sergio Gabrielli, e seu sucessor, Aldemir Bendine, j� haviam sido investigados.
Segundo Palocci, Gra�a n�o s� tinha conhecimento da corrup��o instalada na petrol�fera como n�o adotou "medidas efetivas" para investigar ou impedir a continuidade do seu funcionamento. A defesa de Gra�a n�o foi localizada ontem.
Os mandados foram autorizados pela ju�za Gabriela Hardt, da 13.� Vara Federal no Paran�. A Opera��o Pentiti - termo italiano que se refere aos "arrependidos" (delatores) - apura crimes de corrup��o ativa, corrup��o passiva, organiza��o criminosa e lavagem de capitais relacionada a recursos contabilizados na planilha "Programa Especial Italiano", gerida no esquema pela Odebrecht.
A Pentiti � a segunda opera��o deflagrada nesta semana com base nas afirma��es de Palocci. Na quarta-feira, a PF deflagrou a Opera��o Carbonara Chimica - fase 63 da Lava Jato - para investigar suspeitas de pagamento de propina por parte da Odebrecht.
Lula
Em seu acordo de colabora��o premiada, Palocci citou a exist�ncia de duas contas no banco BTG Pactual, supostamente criadas pelo banqueiro Andr� Esteves, para repassar propinas ao ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. Os valores seriam usados pelo petista para "fazer pol�tica" e cuidar de "assuntos familiares".
Segundo o ex-ministro, Lula confirmou a exist�ncia das contas e teria afirmado que elas serviriam s� para interesses pessoais, n�o devendo abastecer campanhas eleitorais do partido. Palocci mencionou repasses de R$ 15 milh�es do BTG � campanha presidencial petista de 2010, sendo que R$ 10 milh�es teriam como destino as duas contas vinculadas a Lula no banco.
Palocci afirmou, no entanto, que nunca viu documentos referentes �s supostas contas. Em depoimento, disse acreditar que elas estariam em nome de terceiros ("laranjas") ou que nem sequer existam fisicamente - e haja apenas os registros cont�beis dos valores. O ex-ministro disse ser "poss�vel que os valores estejam distribu�dos em diversos lugares e sejam controlados pelo pr�prio Andr�", o que seria facilitado porque ele � o dono do banco.
O ex-ministro afirmou ainda ter participado de reuni�es em que Esteves manifestou interesse em administrar os recursos oriundos do pr�-sal, e "tamb�m desejava gerir os R$ 300 milh�es que a Odebrecht havia prometido a Lula."
Como parte de sua colabora��o, Palocci entregou agendas, deu dados e "traduziu" anota��es que a Lava Jato apreendeu em seu poder quando o prendeu, em 2016. O ex-ministro disse, por exemplo, que "LL" era Lula e "DD" era Dilma, em suas anota��es a m�o.
Sil�ncio
O delegado Filipe Hille Pace, da PF em Curitiba, tentou ouvir Lula no inqu�rito que apura corrup��o em neg�cios do banqueiro Andr� Esteves com a Petrobras. O petista, no entanto, afirmou que seguiria a orienta��o de sua defesa e permaneceria calado na audi�ncia.
Lula disse ao delegado da Lava Jato que "j� prestou muitos depoimentos" e que "tem vontade de falar". "Vontade de falar, gravado e ao vivo, � tudo que eu quero na vida. � toda a oportunidade que eu quero. Mas, seguindo a orienta��o do advogado, em rela��o � decis�o no processo no Supremo Tribunal Federal, ent�o n�o responderei at� o advogado dizer: 'Olha, vamos para o embate'", declarou o ex-presidente.
Advogado
Ao pedir autoriza��o para deflagrar a Opera��o Pentiti, a PF solicitou buscas no escrit�rio do criminalista Jos� Roberto Batochio, em S�o Paulo, mas a for�a-tarefa do Minist�rio P�blico Federal da Lava Jato no Paran� se manifestou contra. A ju�za Gabriela Hardt negou autoriza��o para inspe��o no endere�o de Batochio.
O advogado criticou o pedido. "Quero registrar minha indigna��o a essa pretens�o, s�bia, correta e justamente recha�ada pelo Minist�rio P�blico da Lava Jato no Paran� e pela pr�pria ju�za", reagiu o criminalista. "Onde j� se viu querer associar o advogado?"
PF v� 'conluio'
A Opera��o Pentiti aponta que pelo menos dois delatores da Lava Jato - al�m do ex-ministro Antonio Palocci -, e e-mails do empres�rio Marcelo Odebrecht indicam que a ex-presidente da Petrobras Gra�a Foster tinha conhecimento da corrup��o na petrol�fera, mas n�o adotou "medidas efetivas" para investigar ou impedir a continuidade do seu funcionamento. Presidente da estatal entre 2012 e 2015 (governo Dilma Rousseff), Gra�a � uma das pessoas investigadas na fase 64 da Lava Jato, deflagrada ontem.
A representa��o policial enviada � Justi�a Federal de Curitiba aponta ind�cios de "poss�vel conluio" entre Gra�a e o banqueiro Andr� Esteves, para que a ex-presidente da estatal tivesse controle da Sete Brasil, empresa criada para intermediar as constru��es de plataformas para explora��o do pr�-sal. Segundo a investiga��o, o acerto teria direcionado o processo competitivo de venda dos ativos da Petrobras na �frica para o BTG Pactual, de Esteves.
Em sua dela��o premiada, Palocci afirmou que Gra�a, para favorecer o BTG, transferiu a condu��o do processo de venda dos ativos da �rea Internacional, ent�o respons�vel pela negocia��o, para a Diretoria de Novos Neg�cios da estatal, "a fim de evitar que o PMDB solicitasse vantagens indevidas dos potenciais adquirentes".
O ex-ministro tamb�m anotou que a nomea��o de Gra�a na presid�ncia da Petrobras, "por ser pessoa de confian�a de Dilma, teria por objetivo direcionar eventuais cobran�as por recursos das empresas contratadas para os interesses gerais do PT, e n�o mais de acordo com os interesses de Lula".
A decis�o sobre a opera��o de ontem tamb�m cita a dela��o premiada de Jo�o Carlos de Medeiros Ferraz, ex-presidente da Sete Brasil. O colaborador, segundo a for�a-tarefa, disse que, em conversas com Gra�a, "concluiu que a ent�o presidente da Petrobras tinha pleno conhecimento das atividades de arrecada��o de recursos para o PT/governo federal".
Odebrecht
Ao autorizar a opera��o, a ju�za Gabriela Hardt, da 13.� Vara Federal do Paran�, considerou haver "elementos que indicam a poss�vel ci�ncia" de Gra�a Foster acerca de irregularidades em contrato de US$ 825 milh�es mantido entre a Odebrecht e a Petrobras, que se refere � presta��o de servi�os relacionados � Seguran�a, Meio Ambiente e Sa�de.
Ainda de acordo com o documento, a ex-presidente da estatal teria "anu�do com a continuidade" do acordo. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
POL�TICA