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Estado de Minas POL�TICA

Senador Fabiano Contarato: um ex-delegado no p� de Bolsonaro e de Moro


postado em 01/09/2019 09:41

Gabriel tem cinco anos e dois pap�s, como costuma dizer no tatibitate pr�prio da idade. Um deles � o ex-delegado de pol�cia e senador Fabiano Contarato (Rede-ES), de 53 anos. O outro � seu marido, Rodrigo Grob�rio, fisioterapeuta, e rec�m-formado em Engenharia Civil, de 30 anos. "Eu aprendi a ser feliz depois do Biel", disse o senador ao Estado durante entrevista em seu gabinete no �ltimo dia 20, ter�a. "Biscoitinho", como Gabriel tamb�m � chamado, entre tantos dengos, foi a estrela da viagem do casal � Alemanha, por duas semanas, no recesso de julho.

"Deus me aben�oou com Biel quando ele tinha dois anos e oito meses", contou Contarato. Era 16 de mar�o de 2017, a data da ado��o. O j� ent�o corregedor-geral do Estado do governo Paulo Hartung havia terminado o longo namoro com Grob�rio - "por achar que o amor tinha acabado". Mas manteve o plano de adotar um filho, que ambos acalentavam. Ganhou at� licen�a-paternidade, judicialmente. O fisioterapeuta soube que Biel chegara, e acabou voltando, contou o senador no quinto cafezinho dos 12 que tomou em quatro horas de conversa.

Casaram-se, de papel passado, oito meses depois, em 10 de novembro de 2017, como lembrou, por um zap, a mem�ria afiada do marido, �s voltas com o "Biscoitinho" no apartamento de Vit�ria, em que moram. "Tenho muita saudade", contou o senador. "No pr�ximo ano vem todo mundo para Bras�lia."

Primeiro senador a assumir publicamente a homossexualidade, sem disso fazer uma bandeira, Contarato usa um brinco de ouro na orelha esquerda, uma pulseira banhada a ouro no pulso esquerdo e duas grossas alian�as de ouro. A da m�o direita � uma homenagem � m�e. A outra tem o nome do marido. Carrega uma pr�tese no quadril, e tem os dois bra�os inteiramente tatuados. "Eu mostro", disse, depois de se livrar do palet� e arrega�ar as mangas da camisa.

Presidente da Comiss�o de Meio Ambiente do Senado, Contarato tem sido, neste primeiro ano de mandato, um cr�tico sulf�rico do presidente Jair Bolsonaro e de seu governo. "� um ditador que propaga o �dio e estimula a viol�ncia", diz, ajeitando os �culos, que quase nunca tira, "�s vezes nem no banho". Ainda est� temeroso, como disse, das amea�as telef�nicas de morte que afirma ter recebido depois de posicionar-se, inclusive judicialmente, contra decretos do presidente - o da libera��o das armas, por exemplo - e de ser duro com ministros que t�m ido ao Senado prestar esclarecimentos.

Chamou a aten��o, no Senado, sua dura interpela��o ao ministro da Justi�a, S�rgio Moro, que acusou de parcialidade no caso das conversas com procuradores da Lava Jato, a eles atribu�das pelo site The Intercept Brasil. O ministro se defendeu. O senador n�o mudou de ideia: "O Moro foi um juiz parcial - e isso � o que h� de pior para a seguran�a jur�dica. Se houver uma futura anula��o de qualquer processo, ele ser� o �nico respons�vel", afirmou. "Defendo a Lava Jato como um importante divisor de �guas, mas ningu�m est� acima da lei, muito menos o juiz."

Trajet�ria

Os av�s Contarato, pobres, vieram da regi�o do V�neto, na It�lia, e foram parar em Nova Ven�cia, no noroeste do Esp�rito Santo. Fabiano � o mais novo de seis irm�os - filho de motorista de �nibus que atazanou a fam�lia com a depend�ncia alco�lica. Passaram necessidades. Com 18 ele formou-se na Escola T�cnica, em Vit�ria, e passou a trabalhar em uma empresa de engenharia civil.

J� sentia que a orienta��o sexual era outra. "Eu ia para a igreja, ajoelhava e chorava para que Deus mudasse aquilo", contou, lembrando de muita timidez, de ser alvo de bullying e do apoio importante da m�e, Gigelda, j� falecida. Namorou uma colega da escola t�cnica - mas n�o rolou. Carregou o peso do segredo por toda a faculdade de Direito. Em 1992, j� delegado de pol�cia, concursado, fez um curso curto de ator com o diretor de cinema Jos� Mojica Marins, o Z� do Caix�o. O curso ajudou a desinibi-lo. Tanto, que passou a dar aulas no curso de Direito na Universidade de Vila Velha, onde se formou.

O delegado e professor tinha 27 anos quando apareceu Marcelo, a primeira paix�o. "Sabe quando bate os olhos e a gente sente uma grande afinidade?", perguntou, emotivo, batendo os olhos. Pois assim foi. Um dia, ao acordar, no s�tio de uma amiga, Contarato derreteu-se por uma flor que Marcelo deixara ao lado do colchonete. A rela��o durou um ano. "Foi o meu primeiro amor, o meu primeiro tudo, sofri muito quando ele me deixou", disse o senador da Rede.

Ado�ando os repetidos cafezinhos com a��car de coco, "muito mais saud�vel", Contarato declarou-se � esquerda. "Sempre fui petista, de cora��o, mas nunca filiado." Votou Lula em 2002 e 2006, e Dilma Rousseff em 2010 e 2014. Seria contra o impeachment de Dilma, se estivesse l�. N�o entra no m�rito da pris�o de Lula - "� decis�o judicial, n�o se discute" -, mas defende que ele foi "um bom presidente com avan�os significativos na �rea social".

Enquanto seguia dentro do arm�rio, com portas cerradas e vida amorosa quase clandestina - teve tr�s outros namorados antes de conhecer Grob�rio -, o delegado de pol�cia soube fazer estardalha�o por onde passou. Em uma das muitas cidades de interior, onde pastou durante anos, expulsou da delegacia um prefeito que pedira o sumi�o de inqu�rito envolvendo parente. Na capital, mandou fechar mot�is, e at� o porto de Vit�ria, por falta de licen�a ambiental. "Tudo cumprindo a lei", ressalta ele, negando inten��es de pirotecnia.

Ganhou ainda mais os holofotes quando virou delegado do tr�nsito. Rigoroso com as infra��es e indignado com as estat�sticas macabras, envolveu-se emocionalmente com as fam�lias de v�timas fatais. Ganhou o apelido de Xerife.

Aumentou ainda mais a fama quando mandou divulgar a identidade de centenas de motoristas infratores. Pagou o pato, depois, quando o vazamento de seu prontu�rio mostrou que tamb�m ele era um infrator das leis de tr�nsito, com 15 multas ao longo de tempo.

O outro pai de Biel informou, por zap, socorrendo a mem�ria falha do senador, que se conheceram, precisamente, em 14 de maio de 2011. Era um s�bado. Os dois, solteiros, se encontraram em uma balada. "Sabe quando bate os olhos e a gente sente uma grande afinidade?", l� vem de novo o pai do Biscoitinho. Pois assim foi. "Muita conversa, um sentimento bem agrad�vel, eu me senti atra�do", relembrou, ajeitando a gravata cor de ab�bora sobre a camisa escura. Um m�s depois, na casa do delegado e professor, j� estavam de cama, mesa e portas fechadas para o resto do mundo, planejando a ado��o do filho, ou da filha, fosse quem fosse.

Ren�ncia

Em 2014 o cora��o petista acabou no Partido da Rep�blica (PR) - ent�o comandado, no Esp�rito Santo, por Magno Malta. "Foi o �nico que me ofereceu uma vaga para disputar o Senado, como eu queria", disse, explicando o oportunismo eleitoral. N�o se importou com o lado B de malta, pol�mico e cercado de den�ncias.

"Ele queria que a deputada federal Lauriete, ent�o sua esposa, fosse minha suplente, al�m de inger�ncia total na campanha, inclusive sobre o que eu fosse falar", contou Contarato. Malta tamb�m disse que pastores de sua seita evang�lica n�o engoliram a homossexualidade, ent�o ainda em segredo, pelo menos publicamente. "Jamais aceitaria ser marionete de quem quer que seja." Deixando todos at�nitos, inclusive o ent�o governador Renato Casagrande, que o apoiava (hoje novamente governador), o Xerife bateu o p� e renunciou � candidatura. Simples assim. Seguiu tocando a vida.

As proclamas oficiais do casamento com Grob�rio, em novembro de 2017, acabaram com o mist�rio. O mundo soube, por assim dizer, mas s� desabou em 2018, sob o peso do preconceito, quando ele j� era de novo candidato a senador, pela Rede. J� tinham Biel - e a foto do trio circulou a toda, com coment�rios s�rdidos, nos subterr�neos das redes sociais. Numa vingan�a maligna - para lembrar o Z� do Caix�o que o fez ator - Contarato foi eleito com mais de 1 milh�o de votos, derrotando a experi�ncia de Ricardo Ferra�o e, mais prazerosamente ainda, de Magno Malta, mais tarde jogado �s tra�as pelo presidente Jair Bolsonaro.

Biel � uma espoleta, para usar uma defini��o da casa. Os pais o ensinaram a rezar, todas as noites. "Pai do c�u, aben�oa eu e meus dois pap�s, e traz um irm�ozinho e um ioi�", ele diz, como contou o senador e pai coruja. O ioi� j� chegou. O irm�o, ou irm�, depende da fila de ado��o. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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