Estimulado pelo presidente Jair Bolsonaro, um grupo de deputados do PSL vai pedir ao partido que promova uma auditoria de suas contas para avaliar como foram utilizados os recursos p�blicos recebidos por meio do Fundo Partid�rio. A medida tem como foco o presidente nacional da legenda, deputado federal Luciano Bivar (PE), com quem Bolsonaro trava um duelo nos �ltimos dias pelo controle do partido. "Vamos pedir uma auditoria nas contas do partido dos �ltimos cinco anos", afirmou o presidente nesta quinta-feira, 10, em visita ao jornal O Estado de S. Paulo.
Filiado ao PSL desde mar�o de 2018, Bolsonaro escolheu a sigla para disputar as elei��es com a expectativa de que pudesse tamb�m determinar os rumos da legenda. Mas, desde a vit�ria nas urnas, enfrenta dificuldades para fazer valer seus projetos internos. Na ter�a-feira passada, ele escancarou o conflito quando pediu a um militante do partido que esquecesse o PSL e afirmou que Bivar estava "queimado para caramba".
A resposta foi imediata. Al�m de declarar que o presidente j� havia decidido deixar o partido, Bivar amea�a retaliar o presidente por meio de seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Presidente da Comiss�o de Rela��es Exteriores da C�mara, o deputado pode ser destitu�do do cargo por decis�o da lideran�a do partido, que tem a prerrogativa de indicar seus representantes nas comiss�es. Em outro lance, Bivar marcou uma conven��o nacional extraordin�ria do partido para o dia 18 com o objetivo de reduzir a for�a de bolsonaristas na legenda.
Sobre as amea�as, Bolsonaro disse que o acusam de flertar com a ditadura, mas que o comando do partido � quem agiria dessa forma ao ameacar deputados do seu grupo com a perda de cargos. Segundo o deputado J�nior Bozzella (PSL-SP), a lideran�a do PSL na C�mara assinou nesta quinta-feira a retirada de cargos comissionados, o desligamento de participa��o em comiss�es especiais e a vice-lideran�a de oito parlamentares do partido. Sobre Eduardo Bolsonaro e a deputada Bia Kicis (DF), que � vice-presidente da CCJ, Bozella disse que est�o sob avalia��o.
O presidente disse ainda que tem lido sobre o assunto na imprensa e nas redes sociais e que, caso a destitui��o de Eduardo sej confirmada, ser� "impublic�vel" o que ele pensa a respeito.
Receita
De 2014 a 2018, quando ainda era uma legenda nanica, o PSL recebeu R$ 29 milh�es de recursos do Fundo Partid�rio - usado pelas legendas para gastos com sal�rios de funcion�rios, viagens e aluguel de sede, entre outros. Inflada pelo bolsonarismo, a sigla se tornou uma superpot�ncia neste ano e a estimativa � de que, ao todo, tenha R$ 110 milh�es at� dezembro.
Sobre eventual desfilia��o do PSL, Bolsonaro deixou a possibilidade em aberto. Enquanto advogados tentam encontrar uma sa�da jur�dica para que o presidente e seu grupo pol�tico deixem o partido, aliados acompanham de perto a cria��o de uma esp�cie de frente conservadora que pode resultar em novo partido.
Uma das preocupa��es de Bolsonaro � evitar a perda de mandato dos deputados que o acompanhem numa eventual mudan�a de legenda. A troca � vedada pela regra de fidelidade partid�ria, mas h� exce��es.
Entre elas, est� a sa�da do parlamentar por justa causa. Segundo o ex-ministro do TSE Admar Gonzaga, que tem orientado Bolsonaro, uma das justificativas que os deputados poderiam usar para convencer a Corte Eleitoral seria a "falta de transpar�ncia com o uso da verba do partido".
Questionado pelo Estado sobre a possibilidade de auditoria nas contas do PSL, Bivar disse estar "feliz" com a preocupa��o do presidente com a legenda. "Sim, n�s vamos contratar tudo de auditoria que for poss�vel, imagin�vel. Tudo, com certeza", ironizou o dirigente, incluindo o per�odo de Bolsonaro.
Ao comentar o crescimento do PSL, que hoje tem 53 deputados, Bolsonaro afirmou que a legenda s� elegeu uma bancada grande no rastro de sua popularidade, mas que o PSL ainda n�o soube se aproveitar da nova estatura para se tornar grande e org�nico. O presidente chegou a comentar que muitos parlamentares n�o teriam condi��es de serem eleitos se n�o tivessem colado sua imagem � do ent�o candidato do PSL � Presid�ncia.
Reelei��o
Bolsonaro tamb�m comentou sobre as elei��es de 2022. Citando novamente a possibilidade de tentar a reelei��o - e contando com uma segunda vit�ria -, brincou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vai ficar com ele at� 2026.
Mas tamb�m aproveitou para alfinetar dois de seus eventuais advers�rios em 2020, os governadores Jo�o Doria (PSDB) e Wilson Witzel (PSC). O presidente disse que ambos venceram as elei��es em seus Estados ap�s defenderem seu nome para presidente. Doria chegou a usar o bord�o "BolsoDoria" na campanha, mas, neste ano, disse que nunca esteve alinhado com o hoje presidente.
Em tom de brincadeira, Bolsonaro afirmou ainda que espera que todos os candidatos em 2022 sejam "felizes", colocando o ministro da Justi�a, S�rgio Moro, nessa lista. "Tor�o para que seja verdade", ironizou, completando que agora o ex-juiz j� conhece o dia a dia da pol�tica em Bras�lia. /
Bivar
O presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), marcou uma conven��o nacional extraordin�ria do partido para o dia 18 com o objetivo de reduzir a for�a de bolsonaristas na legenda. O encontro vai referendar uma mudan�a no estatuto da sigla que reduz a influ�ncia de deputados e senadores no diret�rio nacional - grupo respons�vel por eleger o presidente da sigla.
O atual mandato de Bivar � frente do PSL vai at� o dia 29 de novembro. Ele est� no cargo h� 25 anos, desde a funda��o do partido. Segundo parlamentares, a mudan�a no estatuto foi um dos principais motivos da crise entre o dirigente e Bolsonaro.
A conven��o extraordin�ria foi marcada na ter�a-feira passada, dia 8, mesmo dia em que Bolsonaro disse a um apoiador para "esquecer o PSL". No encontro, o partido vai confirmar o aumento no n�mero de integrantes do diret�rio nacional com poder de voto - passar� de 101 para 153.
Pela regra anterior, mais da metade desses cargos (56 dos 101) estava destinada aos deputados e senadores eleitos. Agora, a propor��o deve passar a ser de pouco mais de um ter�o (56 de 153). Todos os novos dirigentes s�o ligados a diret�rios controlados por Bivar e aliados.
A mudan�a foi aprovada em janeiro, antes de a maioria dos atuais parlamentares assumirem seus mandatos e, portanto, quando ainda n�o tinham poder de voto. "N�s j� est�vamos eleitos. O Bivar deveria ter nos consultado em janeiro", afirmou o deputado Filipe Barros (PSL-PR), da ala bolsonarista da bancada.
Influ�ncia
A influ�ncia de Bolsonaro no PSL se d� principalmente por meio de deputados. H� cerca de um m�s, um grupo de parlamentares liderado por Luiz Philippe de Orleans e Bragan�a (SP) chegaram a articular a cria��o de um novo estatuto que abriria caminho para retirar Bivar da presid�ncia da sigla.
"� um movimento pol�tico que fortalece Bivar", afirmou o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), que transita entre os grupos divergentes no partido.
Oficialmente, dirigentes do PSL afirmam que a conven��o � pr�-forma e servir� apenas para colocar em pr�ticas as regras aprovadas em janeiro e homologadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em setembro. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
POL�TICA