
Na lista de ex-aliados do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) se tornou um dos principais cr�ticos do grupo pol�tico que ajudou a eleger no ano passado. O deputado acusou Bolsonaro de destruir o PSL, apontou a exist�ncia de "mil�cias digitais" em gabinetes de Bras�lia e disse que, mesmo ap�s passar 28 anos no Congresso, o presidente n�o � afeito � democracia. "Bolsonaro n�o suporta muito esse processo da C�mara e do Senado, o processo democr�tico", disse em entrevista ao jornal O Estado de s. Paulo.
O parlamentar tamb�m disse considerar o choro da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) nesta semana ao discursar no plen�rio da C�mara uma "fraqueza". A exemplo de Frota, a ex-l�der do governo no Congresso rompeu com Bolsonaro. "Por ter sido l�der do governo no Congresso at� pouco tempo e por ter participado de uma das campanhas mais violentas e viscerais que tiveram nas redes, ela deveria ter se contido e n�o demonstrado isso (fraqueza)", afirmou o deputado. "Ela sabe como � o jogo, ela participou disso."
O sr. publicou em seu Twitter no domingo que essa semana prometia, e incluiu a hashtag "#fogonoputeiro". O que quis dizer?
Uma semana que sabemos que as coisas est�o acontecendo e Bras�lia est� em ebuli��o. Era o Allan dos Santos na CPMI das Fake News, a entrega do pacote de medidas do governo ao Senado e n�o na C�mara, Joice tinha me dito que iria se posicionar, como fez na ter�a-feira, 5. Ela chorou e achei isso uma fraqueza dela.
Por que acha isso?
Quem est� nesse jogo n�o pode chorar. Esse jogo � violento e brutal. Mostraram nas redes que ela no passado tamb�m chamou a ex-presidente Dilma Rousseff de "gorda", de "vaca". Ela foi chamada agora de "gorda" e de "porca". Em uma situa��o dessa voc� tem de estar muito seguro do que est� falando e sabendo tamb�m o que fez no passado, porque seu passado � revirado.
Se Joice fosse homem, chorar ia fazer alguma diferen�a?
N�o � quest�o de ela ser homem ou mulher. Ela sabe como � o jogo, ela participou disso. Ent�o, a partir do momento que ela, mostra que ela est� sendo atingida. Est� sentida com o que est� acontecendo. Ela por ter sido l�der do governo no Congresso at� pouco tempo e por ter participado de uma das campanhas mais violentas e viscerais que tiveram nas redes, ela deveria ter se contido e n�o demonstrado isso. Era o que a mil�cia digital queria, atingir a Joice.
� poss�vel comparar a rea��o da Joice ao chorar com a live do Bolsonaro ap�s ser citado na investiga��o do assassinato de Marielle?
A live do Bolsonaro mostrou mais uma vez a descompensa��o emocional dele quando ele se v� acuado por situa��es que podem de alguma forma incrimin�-lo ou a um filho dele. Bolsonaro tem sofrido de "filhotismo".
Tudo o que acontece com um filho dele faz ele se transformar a ponto dele mexer no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e na Pol�cia Federal.
Ele, por ser uma pessoa que ficou aqui 28 anos, n�o foi l�der, n�o relatou nada de muita import�ncia, mas mesmo assim deveria saber como � o sistema da Casa.
Quando o sr. estava em campanha, no PSL, j� n�o imaginava os problemas que hoje aponta?
N�o. Eu poucas vezes vim � C�mara antes. Eu, como milh�es de brasileiros, acreditamos que Bolsonaro pudesse chegar aqui e fazer realmente uma limpeza, porque esse era o discurso dele. Ele ia combater a corrup��o, acabar praticamente com o PT. Ele foi t�o incompetente que ele acabou com o PSL, mas n�o acabou com o PT.
Mas nem a rela��o com os filhos n�o era poss�vel prever?
N�o. Eu pouco encontrei com os filhos na campanha. E Bolsonaro nunca falou algo como "olha, gente, estou combatendo corrup��o, mas tem um cara chamado (Fabr�cio) Queiroz que pode acontecer da imprensa buscar esse cara". Logo no come�o da legislatura, o PSL, que era o partido que veio para atacar e combater a oposi��o, recebe no plen�rio a not�cia do Queiroz. Isso desestruturou o nosso ataque completamente. Ach�vamos que �amos bater e come�amos a apanhar. E o PSL j� vinha de um desconforto criado na transi��o. Todo mundo sabe que foi o partido preterido nessa fase. Qual era o partido do Bolsonaro? Era o DEM, com secretarias, cargos.
Esse desconforto envolve a sua n�o indica��o � secret�ria de Cultura, j� que na �poca chegou a ser especulado que o senhor poderia assumir o cargo?
Nunca houve essa conversa e nunca pedi um cargo ao Bolsonaro. O que houve, partiu do presidente, pedir para que eu auxiliasse o (ministro da Cidadania) Osmar Terra, que foi uma imposi��o do Onyx Lorenzoni, via Michel Temer, para colocar o MDB no governo. Logo no come�o, o ministro disse que a �nica coisa que ele sabia de cultura era tocar berimbau. (A Secretaria de Cultura foi transferida nesta quinta-feira para o Minist�rio do Turismo)
Na sua opini�o, como tem sido a atua��o do governo em rela��o � cultura?
At� agora Osmar Terra tem se mostrado um fracasso na �rea da cultura. Bolsonaro, a partir do momento que transformou o minist�rio em uma secretaria, reduziu a import�ncia da cultura no Pa�s, sendo que o Brasil � um celeiro cultural. Sab�amos que Terra n�o entendia disso e, por isso, Bolsonaro me pediu para montar a estrutura da secretaria. N�o sab�amos que o minist�rio seria reduzido � secretaria e de repente as coisas mudaram depois que chegou na m�o do Onyx.
Quer�amos polir o passado e fazer um novo caminho. Eu fui almo�ar com o Bolsonaro no pal�cio. Est�vamos eu, ele e o (ex-ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos) Santos Cruz. Perguntei quem ele iria indicar para Ancine (Ag�ncia Nacional do Cinema).
O senhor protocolou uma representa��o contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no Conselho de �tica da C�mara. Por que acha que ele deve perder o mandato?
O que ele falou, propor o retorno do AI-5, � algo grave. Isso n�o foi uma gafe ou algo sem querer. Ele j� havia feito isso no plen�rio na ter�a-feira, 29. Entre os dias 14 e 16 de outubro, o Allan dos Santos, amigo dele e aluno de Olavo de Carvalho, j� tinha pedido um novo AI-5, no Twitter, e o Olavo de Carvalho tamb�m. No passado, Eduardo j� havia dito tamb�m que iria fechar o Supremo Tribunal Federal (STF), com um soldado. Bolsonaro, em 1999, apoiou a ditadura e falou de AI-5. Bolsonaro n�o suporta muito esse processo da C�mara e do Senado, o processo democr�tico.
Em rela��o ao "gabinete do �dio", o sr. conhece quem s�o os assessores ligados ao Carlos Bolsonaro?
Essas pessoas foram trazidas das redes sociais pelo Bolsonaro. � o T�rcio (Arnaud Tomaz) e os dois Mateus (Jos� Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz). Na C�mara, eu acho que tem pessoas que funcionam como assessores, mas que, segundo os pr�prios deputados, nas horas vagas eles assumem o lado de mil�cia digital. Semana passada, fui atacado na internet por um ativista e respondi forte. Quando chego no plen�rio, a deputada Caroline de Toni (PSL-SC) falou que eu n�o poderia ter feito isso com o Nicolas, que era o ativista e ela me contou que ele trabalhava no gabinete dela. Quatro dias depois ela exonerou o N�colas.
O governo segue concedendo cargos a essas pessoas?
Segue dando cargos e distribuindo.
Na ter�a-feira, o blogueiro Allan dos Santos negou fazer parte dessas mil�cias digitais.
Claro ele n�o ia falar. Achei que a esquerda, a oposi��o, deveria se preparar melhor para fazer as perguntas a essas pessoas. Eles t�m uma boa ret�rica, n�o s�o bobos, n�o vai arrancar nada que possa incrimin�-los ali. A ideia � deixar eles falarem. A esquerda tem de se preparar. Tem uma s�rie de deputados das antigas que n�o dominam o mundo digital e a� fica dif�cil voc� partir para o embate. Por outro lado, o PSL come�ou a acordar e preparou uma estrat�gia para obstruir. A CPMI s� vai chegar a um final produtivo se a Pol�cia Federal trabalhar junto e se o Minist�rio P�blico fizer as autoriza��es judiciais. Se n�o tiver isso, n�o vai chegar a lugar nenhum.
O senhor se arrepende de ter entrado para o PSL e defendido a candidatura de Jair Bolsonaro?
N�o me arrependo at� porque o PSL me deu a oportunidade de chegar aqui. Apesar de que l� tr�s j� teve problemas. Gastei apenas R$ 10 mil na minha campanha, porque o partido me falou que n�o haveria verba pra ningu�m, mas quatro dias depois vi pelo portal que foi verba para Eduardo e Joice.
Como o sr. v� as den�ncias e os questionamentos sobre a presta��o de contas do PSL?
� algo que precisa ser investigado de verdade. Porque pra gente n�o foi dado nada. Camisa, bandeira, cordinha, adesivo, nada foi entregue pra gente. Se foi gasto, foi com outros candidatos. N�o foi comigo. Em maio, eu pedi via judicial e tamb�m na Executiva Nacional do PSL, a presta��o de contas do diret�rio estadual de S�o Paulo, antes, durante e depois da campanha e isso foi negado pra mim. Tamb�m tinha pedido o afastamento do Eduardo da presid�ncia da estadual.
Qual � seu futuro no PSDB?
N�o sei. N�o fa�o planos para minha vida, vou vivendo um dia ap�s o outro porque as coisas mudam muito r�pido.
Pretende concorrer a algum cargo no ano que vem?
Ano que vem n�o. J� me chamaram para concorrer a prefeito, mas eu n�o vou sair. Tamb�m n�o quero secretaria. Quero cumprir meu mandato aqui. N�o sei, n�o fa�o planos para o futuro. Aprendi que aqui as coisas mudam muito r�pido. � uma roda-gigante.
A atua��o do senhor durante a reforma da Previd�ncia foi muito elogiada por Rodrigo Maia. Qual deve ser sua atua��o frente �s demais reformas apresentadas pelo governo?
Vou apoiar o que tiver que apoiar depois que conversar com o partido. O PSDB n�o � um partido governista nesse momento. � um partido que tem se mantido mais ali no centro, mas o que eu puder fazer para ajudar melhorar, eu entender que vale meu esfor�o nesse sentido, eu vou fazer. Acho que foi uma estrat�gia ontem do Bolsonaro e do (ministro da Economia) Paulo Guedes, depois de tudo que eles passaram na Previd�ncia, levar primeiro para o Senado (o pacot�o de medidas).
O Senado agora � mais f�cil. Mas vai ter de passar pela C�mara e a gente sabe que o Bolsonaro � uma usina de confus�o e problema, ent�o, pode ser que amanh� tudo mude. Por isso que n�o d� pra fazer planos. O �nico que faz � o (deputado) Helio Neg�o (PSL-RJ), que sabe quando vai viajar com o Bolsonaro pelo mundo.
Na tramita��o da reforma da Previd�ncia na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ), o sr. era o canal do Guedes com a bancada do PSL, como est� esta rela��o, ela deu uma estremecida?
N�o, nenhuma, n�o tenho problema nenhum com o Guedes, at� porque eu cumpri todos os meus acordos com ele. E tudo que eu propus fazer para ajudar na reforma da Previd�ncia, eu fiz, cumpri o meu papel do in�cio ao fim, junto com o Rodrigo, junto com ele. Quando encontro com ele, me abra�a, fala muito bem comigo, e sempre lembra do epis�dio que ele fala, olha eu n�o venho mais aqui, encarar essa esquerda, se o Frota n�o estiver aqui comigo, etcetera e tal.
E em rela��o ao Bolsonaro, falou com ele depois de sua sa�da do partido?
Eu nunca mais vi o Bolsonaro. A �ltima vez que eu o vi foi na sess�o solene para o Carlos Alberto de N�brega. Ele atravessou a rua, do Pal�cio (do Planalto), e veio aqui prestigiar. N�o vi mais o Bolsonaro e mesmo quando eu estava atuando a favor dele, pouco eu ia no pal�cio.
Estou muito feliz no PSDB, fui muito feliz no PSL, tenho grandes amigos no PSL. Vou l�, entro l� a hora que eu quiser, falo com as pessoas e o caramba. Tenho inimigos tamb�m, mas tenho mais amigos que inimigos.
O presidente do PSL, Luciano Bivar, chegou a defender que voc� ficasse no partido...
Muitas vezes.
Se hoje o Bolsonaro sair do PSL, existe uma possibilidade de o sr. voltar?
Nenhuma, nenhuma. Eu vou seguir no PSDB. Depois de v�rias defesas do Bivar, o Bolsonaro ligou dando o Ultimate Fighter, n�? Tira o Frota, n�o quero ele mais no meu partido e pronto.
Mas ele estando fora do jogo?
N�o, na verdade, o Bolsonaro sempre esteve fora do jogo. Ele s� usava o PSL quando precisa votar sim, precisa votar n�o, libera a bancada. Agora, quando a bancada ia l� e falava: "olha, eu estou precisando marcar uma agenda, n�o atendia". Agora, melhorou porque ele viu que ficou. Bolsonaro passou alguns dias de C�mara com 12 deputados de base. Secretarias, emendas, algumas coisas andaram mais r�pido. Para poder trazer aquela base que ele tem hoje, de 27 ou 26 deputados, � uma coisa assim, neste meio a�.
Muitas vezes seus opositores usam o seu passado para atac�-lo, por ter atuado como ator porn�. Isso o incomoda?
N�o porque eu n�o fiz nada de errado, eu n�o roubei ningu�m, n�o cometi nenhum processo de corrup��o. Eu acho que a pornografia � voc� fazer a rachadinha com os seus funcion�rios. A pornografia � voc� ter um Queiroz por tr�s e fazer o que vem fazendo, pornografia � fazer esses acordos que a gente assistiu nos �ltimos dias.
Isso n�o me incomoda, at� porque foi uma coisa que eu quis fazer, foi uma op��o minha, gostei de ter feito, tenho descoberto aqui dentro que tenho muitos f�s no segmento. O Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) � um que fica nervoso com essa situa��o. Eu n�o consigo entender bem, eu n�o sei se ele gosta mais das mulheres no filme ou de mim, mas, de qualquer forma, eu descobri que ele � um f� meu neste segmento.
Voc� acha que uma mulher, atriz porn�, conseguiria ter a mesma oportunidade e se tornar uma deputada?
N�o sei. Ela tem que tentar, tem que ver. Eu tive essa fase, fui ator da (TV) Globo, fui ator porn�, fiz uma s�rie de coisas, e quando eu decidi me dedicar a se tornar deputado federal, me dediquei a isso. Acho que todos t�m direito. Se o Tiririca (PL-SP) j� est� no terceiro mandato, e ele me falou h� pouco tempo, vou vir para a pr�xima e acho que vou ter uns 300 mil votos. Ent�o, � poss�vel para todo mundo desde que voc� se dedique, tenha objetivos.