Oito meses depois de ser preso na rua por policiais, o ex-presidente Michel Temer mant�m uma rotina discreta. Afastado das articula��es pol�ticas, hoje ele se dedica a fazer palestras e a escrever um romance de fic��o inspirado em sua pr�pria hist�ria. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o emedebista diz que o governo Jair Bolsonaro "vai indo bem" porque d� sequ�ncia ao que ele fez, mas afirma ser contr�rio a bandeiras de seu sucessor, como o excludente de ilicitude.
Ao falar sobre pol�tica, Temer avalia que o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva deveria ter buscado a pacifica��o ao sair da cadeia e descarta a "rotula��o" dos pol�ticos entre direita, esquerda e centro. "Essa coisa de esquerda e direita ningu�m d� mais import�ncia. Mesmo o centro", disse. A seguir os principais trechos da entrevista:
Como o sr. avalia o primeiro ano do governo Jair Bolsonaro?
O governo vai indo bem porque est� dando sequ�ncia ao que fiz. Peguei uma estrada esburacada. O PIB estava negativo 4%. Um ano e sete meses (depois) o PIB estava positivo 1.1%, al�m da queda da infla��o e da recupera��o das estatais. Entreguei uma estrada asfaltada. O governo Bolsonaro, diferente do que � comum em outros governos que invalidam anterior, deu sequ�ncia. Bolsonaro est� dando sequ�ncia ao que eu fiz.
O estilo de Bolsonaro n�o prejudica a imagem do Brasil?
Cada um tem o seu estilo. Ele tem o estilo do confronto, que � oposto ao meu, de concilia��o. Fui falar em Oxford, Madrid e Salamanca e pude avaliar uma certa preocupa��o com isso. Mas a preocupa��o central � com a seguran�a jur�dica. As pessoas querem ter certeza que se investirem aqui n�o ter�o surpresas. O presidente Bolsonaro diz uma determinada coisa, mas sua a��o � diversa. Quando ele me visitou logo ap�s a elei��o, me pediu modestamente para dar conselhos. Eu disse que n�o daria conselhos para quem foi eleito com quase 60 milh�es de votos, mas disse que daria palpites. Disse que a rela��o com China � important�ssima. N�o podemos ser unilateralistas. E verifiquei que, tempos depois, ele foi � China.
O anti-esquerdismo do presidente serve para manter a base?
Talvez seja um discurso dirigido para sua base. Eu sou contra qualquer tipo de rotula��o. Essa coisa de esquerda e direita ningu�m d� mais import�ncia. Mesmo o centro. As pessoas querem resultado. Tem um livro do Norberto Bobbio chamado "Esquerda, direita. Direita, esquerda". Ele mostra cientificamente que muitas vezes a direita usa teses da esquerda e vice versa.
O que o sr. acha desse discurso de nova pol�tica?
Isso � uma palavra nova, nada mais que isso. O Bolsonaro vai muito ao Congresso Nacional. Foi mais que eu. Ao modo dele, ele faz uma articula��o pol�tica.
O sr. votou no Bolsonaro?
Acabei votando nele (no segundo turno) por uma raz�o. Eu recebia muitas cr�ticas indevidas da outra candidatura (Fernando Haddad). Votei em quem n�o falou mal do meu governo.
O sr. vetaria o fundo eleitoral de R$ 2 bilh�es?
� fundamental ter um fundo partid�rio por uma raz�o pautada pelo princ�pio da igualdade. Se n�o tiver, s� vai se eleger quem for milion�rio.
O sr defende o projeto do excludente de ilicitude?
Eu n�o sou a favor. No autoritarismo se dizia que o medo n�o era do ministro, mas do guarda da esquina. O excludente de ilicitude pode entusiasmar uma esp�cie de a��o policial. Isso passa por uma �rea de subjetividade muito grande. E a subjetividade � a nega��o da seguran�a jur�dica.
O que pensa sobre pris�o ap�s condena��o em 2� inst�ncia?
O Supremo decidiu corretamente do ponto de vista jur�dico. Hoje h� muito populismo nas quest�es de natureza jur�dica. Nesse epis�dio da 2� inst�ncia a Constitui��o diz muito claramente que s� ser� considerado culpado aquele que tiver a senten�a condenat�ria transitada em julgado.
Como o sr. viu a soltura do ex-presidente Lula?
Como eu prego muito a pacifica��o, imaginei que a sabedoria pol�tica determinaria que ele dedicasse os 580 dias na pris�o � unidade do Pa�s. Ele ganharia politicamente. O Brasil tamb�m ganharia. Mas ele radicalizou. Achei que isso foi equivocado institucionalmente.
A polariza��o interessa tanto ao Bolsonaro quanto ao Lula?
Ouso dizer que sim. Se Lula radicaliza de um lado, d� chance ao Bolsonaro ficar na posi��o inversa. Talvez eles tenham isso em mente.
A Lava Jato cometeu excessos?
A tese do estado democr�tico de direito � a da imparcialidade. Nem o juiz pode facilitar a vida do advogado, nem do acusador.
O que sentiu quando foi preso, acusado de corrup��o?
N�o foi uma deten��o, mas um sequestro. Quando se fala em deten��o, se pensa em um processo penal regular. Os autos baixaram do Supremo sem que eu fosse denunciado, ouvido ou indiciado. Os procuradores da Rep�blica assinaram a representa��o em grupo. O juiz recebeu e determinou o sequestro. Se viesse algu�m na minha casa ou escrit�rio e dissesse que tinha um mandado de pris�o, eu ficaria surpreendido mas ia acompanhar. O que fizeram? Primeiro avisaram a imprensa. Eles esperaram eu seguir tr�s ou quatro quadras para depois fazer o espet�culo. Abriram a porta com metralhadora, bazuca, lan�a-chamas. Me preocupei com o Brasil.
At� hoje o MDB n�o abriu processo de expuls�o de S�rgio Cabral e Eduardo Cunha, que est�o presos. O partido n�o deveria ser mais rigoroso?
O MDB tomou a decis�o de aguardar decis�es definitivas do Judici�rio. As decis�es preliminares n�o s�o definidoras de eventual afastamento.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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