"Esquece o PSL, t� ok?", recomendou o presidente Jair Bolsonaro a um apoiador, na manh� do dia 8 de outubro, no primeiro sinal p�blico de rompimento com o partido pelo qual ele se elegeu. Desde ent�o, 7.739 pessoas seguiram a orienta��o e deixaram o PSL, incluindo o pr�prio Bolsonaro. Em m�dia, foram 66 desfilia��es por dia, segundo levantamento feito pelo Estado com dados informados pela legenda ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A desidrata��o do PSL � reflexo da ofensiva para tirar do papel o Alian�a pelo Brasil, partido criado pelo presidente, mas que ainda precisa ser oficializado pela Justi�a Eleitoral. Para isso, s�o necess�rias 492 mil assinaturas de eleitores que n�o estejam filiados a outra sigla.
Pelas redes sociais, integrantes do Alian�a - entre os quais o senador Fl�vio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho mais velho do presidente - t�m orientado os seguidores a se desfiliar de seus atuais partidos para que as assinaturas sejam validadas pela Justi�a Eleitoral. No domingo de carnaval, por exemplo, a advogada e tesoureira do Alian�a, Karina Kufa, publicou no Twitter um passo a passo.
"Desfilia��o. Como fazer? Envie uma comunica��o ao diret�rio municipal do partido a que est� filiado. Ele n�o precisa concordar, mas s� ser informado que n�o deseja mais v�nculo. Leve duas vias e fique com uma com o carimbo de recebimento pelo partido", postou Kufa.
A advogada afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo ter recebido den�ncias de que dirigentes locais do PSL t�m dificultado desfilia��es, se recusando a receber os pedidos. "As pessoas est�o apresentando a ficha ao Alian�a, mas ainda constam como filiados mesmo ap�s pedir a desfilia��o", disse ela.
Apesar dos esfor�os, o Alian�a admite que n�o vai participar das elei��es em 2020, como mostrou o Estado.
Maior bancada
At� ent�o nanico, o PSL se tornou uma superpot�ncia partid�ria em 2018 ao eleger a maior bancada na C�mara (ao lado do PT), na esteira do "bolsonarismo": de quatro deputados pulou para 52. Elegeu, ainda, quatro senadores e tr�s governadores, feito in�dito para a sigla fundada h� 26 anos pelo empres�rio e deputado Luciano Bivar (PE).
No per�odo em que teve o presidente entre suas fileiras, o PSL aumentou sua base de filiados em quase 50%. Foram quase 113 mil pessoas que ingressaram na sigla entre abril de 2018, m�s em que Bolsonaro anunciou sua entrada no partido, at� outubro do ano passado, quando o rompimento se tornou p�blico.
A legenda havia chegado ao seu �pice no m�s anterior, com 354.387 filiados. Desde ent�o, a curva de ades�es, que era crescente, passou a cair. Em janeiro, o n�mero era de 346.648.
O motivo do desentendimento entre Bivar e Bolsonaro foi justamente o controle dessa superpot�ncia partid�ria. O sucesso nas urnas se refletiu nos cofres do partido, que passou a ter o maior quinh�o do dinheiro p�blico que abastece as legendas - o crit�rio para a divis�o � a vota��o para a C�mara. S� em 2020, o PSL ter� quase R$ 300 milh�es, a maior quantia entre as 32 legendas atualmente registradas na Justi�a Eleitoral.
Sem espa�o na dire��o nacional do PSL, Bolsonaro optou por criar seu pr�prio partido, do qual ser� presidente. O movimento foi acompanhado por aliados locais, como o ex-deputado federal Carlos Manato (sem partido-ES). Ele formalizou sua sa�da do antigo partido no in�cio deste m�s.
"Eu abri m�o da presid�ncia do PSL no Esp�rito Santo, a Dra. Soraya (deputada federal, casada com Manato) abriu m�o da vice-presid�ncia e da presid�ncia do partido em Vit�ria. Abri m�o de ser candidato e de um futuro fundo eleitoral, previsto para agosto, de mais ou menos R$ 7 milh�es. � para ficar com Bolsonaro. Eu estou saindo do PSL para acompanhar o Bolsonaro", disse Manato ao Estado.
A debandada de aliados de Bolsonaro para o Alian�a deve ser maior quando o partido sair do papel. Os deputados federais que anunciaram a inten��o de seguir o presidente, por exemplo, ainda permanecem no PSL, pois correm o risco de perder o mandato, caso se desfiliem agora.
Pela regra de fidelidade partid�ria, o parlamentar s� pode deixar a sigla pela qual foi eleito se houver justa causa, como expuls�o ou persegui��o. A sa�da para um partido rec�m-fundado ainda � motivo de controv�rsia na Justi�a Eleitoral. Os "aliancistas" apostam em jurisprud�ncia criada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), permitindo que deputados mudassem para a Rede, em 2015, sem perder o mandato.
PSL contesta
A dire��o do PSL contestou a queda no n�mero de filiados, informada pelo pr�prio partido ao TSE. Segundo nota divulgada no m�s passado, dados internos mostram que "foram registrados 14.817 novos pedidos de filia��o" desde a sa�da de Bolsonaro da legenda. "No mesmo per�odo, foram apresentados apenas cerca de 750 pedidos de desfilia��o em todo o Pa�s", diz o comunicado.
Sob o argumento de que a lei obriga o partido a informar a rela��o de todos os seus filiados apenas duas vezes por ano - em abril e outubro -, a c�pula do PSL amenizou as baixas. "Como a sa�da do presidente Bolsonaro ocorreu em 19 de novembro de 2019, ainda n�o h� por parte do TSE qualquer n�mero oficial."
Apesar de a lei prever apenas duas atualiza��es anuais, a Justi�a Eleitoral divulga mensalmente uma rela��o de n�meros de filiados em cada partido. O dado � extra�do do Sistema de Filia��o Partid�ria (FILIA), alimentado pela dire��o de cada legenda.
O presidente estadual do PSL em S�o Paulo, deputado federal J�nior Bozzella (SP), classificou como "irris�rios" os pedidos de desfilia��o no Estado. "� natural que cres�a a filia��o por causa do processo de elei��o. Os diret�rios locais t�m feito campanha para isso. S� em Santos, v�o me entregar 3 mil novos filiados", afirmou Bozzella, ao destacar que os dados mostrando o crescimento do PSL, apesar da sa�da de Bolsonaro, s� ser�o informados ao TSE em abril.
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