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Estado de Minas POL�TICA

Por que o Congresso � o alvo predileto de manifesta��es?

Resposta pode estar em pesquisas que apontam a desconfian�a da popula��o brasileira com o �rg�o


postado em 15/03/2020 08:02 / atualizado em 15/03/2020 08:33

(foto: Antonio Cruz/ABr)
(foto: Antonio Cruz/ABr)
O adiamento das manifesta��es marcadas para este domingo, 15, por causa do coronav�rus n�o poupou o Congresso de ataques. Mesmo ap�s ter vivido a maior renova��o da hist�ria recente nas elei��es de 2018, o Legislativo ainda � alvejado por cr�ticas, como mostram pesquisas de opini�o.

Ap�s sugerir a suspens�o dos atos, o presidente Jair Bolsonaro, que passou 28 anos no Congresso como deputado, teve apoio de seguidores ao dizer que "um tremendo recado ao Parlamento" foi dado nos �ltimos dias.

A percep��o negativa se reflete nas pesquisas. Divulgado em dezembro, levantamento da Funda��o Get�lio Vargas (FGV) sobre a imagem das institui��es mostrou que 79% das pessoas n�o confiam no Congresso. Apenas 10% acham a atua��o do Parlamento �tima ou boa.

No diagn�stico de ex-presidentes, pol�ticos e analistas ouvidos pela reportagem, a explica��o passa pelo excesso de privil�gios dos parlamentares, por pr�ticas de corrup��o e "toma l� d� c�" e pelo hiato entre o resultado de vota��es no plen�rio e a melhoria no cotidiano da popula��o.

Foi uma discuss�o sobre a concentra��o de uma fatia de recursos p�blicos nas m�os de deputados e senadores que levou Bolsonaro a alimentar a fogueira acesa dias antes pelo ministro do Gabinete de Seguran�a Institucional (GSI), general Augusto Heleno. O chefe do GSI provocou um terremoto pol�tico ao acusar o Congresso de chantagear o Executivo.

Bolsonaro compartilhou um v�deo por WhatsApp incentivando as manifesta��es em defesa do governo - como revelou o jornal O Estado de S.Paulo - e, a partir da�, a convoca��o de atos contra o Congresso e o Judici�rio foi feita nas plataformas digitais. Na pr�tica, ao mesmo tempo em que impulsiona novas figuras da pol�tica, o terreno virtual exp�e o poder.

Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, trata-se de um sintoma da crise de democracia representativa. "Com as redes sociais, as pessoas opinam diretamente e imaginam que as institui��es representativas s�o dispens�veis", disse FHC. "A Lava Jato mostrou a teia que envolveu governo, empresas e alguns parlamentares. Al�m disso, o Poder Legislativo sempre foi mais aberto e, tamb�m, mais f�cil de ser criticado."

Desgaste


O retrospecto do Congresso n�o ajuda. Esc�ndalos como o dos an�es do Or�amento (1993), do mensal�o (2005) e a pris�o do ent�o presidente da C�mara, Eduardo Cunha (MDB-RJ), em 2016, afetaram a imagem do Legislativo e o desgaste se tornou irrestrito.

Na avalia��o do ex-presidente Michel Temer, a generaliza��o atrapalha. "H� uma tentativa de desacreditar o Congresso, uma coisa meio doentia at�, e negativa para o Pa�s", afirmou ele, que tamb�m foi alvo da Lava Jato. "Algumas a��es judiciais propostas contra membros do Legislativo, ao longo do tempo, criaram essa vis�o negativa de um �rg�o que � muito positivo para a democracia." Temer presidiu a C�mara tr�s vezes.

A baixa credibilidade n�o � apenas saldo dos ruidosos protestos de 2013. Para o historiador e cientista pol�tico Jos� Murilo de Carvalho, o descontentamento se agravou ap�s 1964. "A ditadura manteve a institui��o em situa��o de humilhante depend�ncia do Executivo. Os eleitores eram obrigados a participar de uma farsa em que elegiam representantes que n�o os representavam e usavam o mandato apenas em benef�cio pr�prio, em arranjos clientelistas."

Trinta e cinco anos ap�s o fim do regime, o resultado das urnas de 2018 sinalizava o in�cio de uma nova rela��o entre representantes e representados. Naquele ano, surgiram novos personagens para 46 das 54 cadeiras em disputa no Senado e a C�mara mudou sua composi��o em 52%. Mesmo assim, esse aspecto n�o foi capaz de alterar de forma expressiva a opini�o do eleitor. Pesquisa da XP Investimentos, feita em fevereiro, apontou que a avalia��o �tima ou boa era de 19% quando os atuais parlamentares tomaram posse, caiu ao longo do ano e chegou a 10%. E, para 52% dos entrevistados, a expectativa para os pr�ximos seis meses n�o � melhorar nem piorar. � ficar tudo como est�.

As pessoas n�o entendem as atribui��es dos Poderes e o senso comum prevalece, sobretudo entre aqueles que n�o acompanham e n�o conhecem as atribui��es das Casas. � o que observa o cientista pol�tico Jairo Nicolau, professor do Centro de Pesquisa e Documenta��o de Hist�ria Contempor�nea do Brasil da FGV. "A popula��o n�o tem no��o da renova��o. Sabe de um nome ou outro, mas n�o acompanha milimetricamente a atividade parlamentar. E a ideia dos privil�gios, da autoprote��o do Congresso, � bem explorada nas redes sociais."

Embora sejam alvo de cr�ticas, l�deres do Congresso est�o convencidos de que atendem �s demandas populares. Citam o trabalho para a aprova��o das reformas e do equil�brio fiscal como sinal de responsabilidade e consideram injustos os ataques sofridos pelos presidentes da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Contribui��o


O ex-senador e ex-ministro Cristovam Buarque disse, por�m, que a contribui��o do Congresso ainda � pequena. "Onde o povo v� a constru��o de uma coes�o e de um rumo para o Pa�s? O povo n�o v�. Claro que pior que o Congresso � o presidente que temos hoje. Mesmo assim, (o Legislativo) n�o atrai a simpatia da popula��o pelo excesso de privil�gios que t�m os parlamentares em rela��o ao Brasil."

Para o jornalista e ex-deputado Fernando Gabeira, o Congresso tem se empenhado em algumas boas decis�es reformistas. "Mas continua cobrando ped�gios, na forma de fundos eleitorais, etc."

O pr�prio processo de escolha de candidatos aparece no radar das cr�ticas ao Congresso. O sistema brasileiro � o proporcional. Com isso, n�o necessariamente o deputado mais votado ganha. Eleito 11 vezes para a C�mara, o ex-deputado e ex-ministro Miro Teixeira considera "um desastre" esse modelo. "O sistema de voto proporcional com quociente eleitoral se esgotou. No voto majorit�rio, a express�o popular do parlamentar contribui para o fortalecimento da institui��o. No proporcional, � a institui��o que vai fortalecer o titular do mandato."

Professor da USP, Jos� �lvaro Mois�s tamb�m questiona o sistema proporcional, em que correligion�rios disputam entre si, coliga��es p�em ideologias distintas no mesmo pacote e candidatos menos votados podem ser eleitos. "Isso explica a dist�ncia que o Legislativo tem com rela��o aos representados. Em seis meses, as pessoas esquecem em quem votaram e n�o t�m mais conex�o."

'Manifesta��es ficaram pequenininhas'


O chef e empres�rio Junior Durski, dono da rede de restaurantes e hamburguerias Madero, disse � reportagem que o ato convocado para hoje ficou "pequenininho" diante da pandemia do novo coronav�rus. "Tudo que estou fazendo nesse momento � olhar o coronav�rus, administrando uma crise chegando", afirmou Durski, que � apoiador do presidente Jair Bolsonaro e s�cio do apresentador Luciano Huck, apontado como candidato ao Planalto em 2022.

O sr. vai ao ato no Paran�?
N�o sei. Tenho 3 milh�es de clientes por m�s para atender. Tudo que estou fazendo nesse momento � olhar o coronav�rus, administrando uma crise chegando. Acho que isso � outra hist�ria. N�o sei se deve ter ou n�o (manifesta��o). N�o sei como vamos acordar amanh� com esse coronav�rus. Acho que isso n�o � a prioridade no Brasil e n�o � a minha prioridade agora. Esse neg�cio de manifesta��o virou pequenininho perto do tamanho dessa crise que est� chegando.

Fizeram campanha de boicote ao Madero ap�s o sr. declarar apoio a Bolsonaro. Isso pegou?
N�o pega. O barulho nas redes sociais n�o � o que as pessoas pensam. A rede social � muito dura. As pessoas que est�o nas redes s�o muito provocativas, dos dois lados. Nunca foi meu estilo, meu neg�cio. Brigar � uma coisa, no m�nimo, n�o inteligente. Se as pessoas n�o se entendem, que tentem conversar e se n�o der corta a rela��o e toca a vida. Com respeito. A rede social n�o funciona assim. � uma coisa chata que faz parte do Brasil.

O sr. se arrependeu de ter feito o v�deo de apoio ao ato?
N�o me arrependi, mas tamb�m n�o me orgulho, n�o me aplaudo. Por que eu n�o fico quieto e vou fazer hamb�rguer? Esse � o ponto. Estou muito mais preocupado com a chegada do coronav�rus, o que a gente pode fazer para ajudar e se defender. Esse � o assunto do momento. Minha obriga��o como patriota � tentar ajudar nesse problema. O coronav�rus n�o vai escolher a direita ou a esquerda para infectar, vai pegar todo mundo e todo mundo est� junto.

Como fica sua rela��o com seu s�cio Luciano Huck, que tem projeto pol�tico?
J� conversamos muito, � meu amigo de longa data. Politicamente, ele tem opini�es diferentes da minha, e eu respeito muito a opini�o dele. Se ele fosse presidente, seria muito bem-intencionado, tentaria fazer um bom governo e tem toda a condi��o para isso. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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