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Estado de Minas POL�TICA

'Huck fica menor na crise. Doria tem maior proje��o', afirma FHC sobre corrida presidencial

Na avalia��o do ex-presidente, governador Jo�o Doria (PSDB) ganhou espa�o durante a crise


postado em 19/04/2020 16:16 / atualizado em 19/04/2020 19:47

Fernando Henrique entende que Doria está mais forte politicamente neste momento(foto: Divulgação)
Fernando Henrique entende que Doria est� mais forte politicamente neste momento (foto: Divulga��o)
Cumprindo o isolamento social em seu apartamento em Higien�polis, regi�o central da capital paulista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem dividido o tempo entre o trabalho em novo livro sobre sua trajet�ria intelectual, releituras de Machado de Assis e reuni�es e debates virtuais do seu instituto. Eventualmente, faz r�pidas caminhadas pelo bairro, sempre de m�scara. O card�pio de filmes e s�ries fica por conta de sua mulher, Patr�cia. Mas FHC confessa que n�o � muito f� de "maratonar" em plataformas de streaming.

Nesta entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, FHC fez um uma an�lise do cen�rio pol�tico em tempos de COVID-19 e disse que o presidencialismo de coaliz�o deu lugar a um sistema prec�rio de governo compartilhado entre C�mara, Senado e Supremo Tribunal Federal. Na avalia��o dele, o governador Jo�o Doria (PSDB) ganhou espa�o durante a crise, enquanto o apresentador e poss�vel presidenci�vel Luciano Huck (foto abaixo), de quem � amigo, ficou politicamente menor.

Luciano Huck, possível presidenciável, é amigo de Fernando Henrique Cardoso(foto: Divulgação)
Luciano Huck, poss�vel presidenci�vel, � amigo de Fernando Henrique Cardoso (foto: Divulga��o)


Alguns especialistas falam em ampliar o isolamento para combater a covid-19, enquanto empres�rios e a Fiesp defendem a abertura lenta e gradual da atividade econ�mica. O sr. acha que � o caso de abrir ou fechar mais?

N�o sou m�dico, mas devemos ouvir os especialistas. O �nico rem�dio nesse momento � ficar em casa. N�o h� vacina nem medicamento espec�fico. Qual a obje��o de ficar em casa? � dizer que est�o olhando mais para o sistema hospitalar, enquanto precisamos da economia funcionando. Vi uma entrevista de um general dizendo que h� munic�pios onde n�o entrou a epidemia. Tudo bem, mas quem decide isso? Tem que ser uma coisa feita pelo governador e o munic�pio. Em tese eu sou mais favor�vel a manter por mais tempo o regime de ficar em casa.

O sr. concorda com a medida provis�ria que permite redu��o salarial durante a pandemia?

Essa MP foi precipitada. Vai chegar um momento que talvez seja necess�rio, mas por que come�ar a apertar quem mais precisa? Quem est� empregado quer manter a renda. Vai se mexer nisso? Me parece provoca��o. N�o acho adequado.

Por que n�o h� um movimento articulado 'Fora, Bolsonaro'?

A oposi��o n�o sabe bem o que fazer. Pedir o impeachment agora com base em qu�? O impeachment ocorre quando o governo perde maioria no Congresso e n�o passa mais nada. Quando perde a capacidade de governar. Segundo, quando h� gente na rua e a situa��o econ�mica est� ruim. Nesse momento, o governo n�o tem maioria s�lida, nem nunca teve porque sempre desprezou a maioria no Congresso, mas continua governando. N�o tem gente na rua. Est� todo mundo em casa, com medo. O momento � de coes�o, de apelar para unidade. E esse � o erro do governo. O impeachment � traum�tico, deixa marcas. N�o vejo que se aplique ao caso atual. Se o presidente come�ar a errar muito, ele mesmo vai provocar seu autoimpedimento. Tirar o ministro da Sa�de foi uma coisa insensata. Um erro grave. Isso vai acumulando e mostrando pouca capacidade de lideran�a.

Como o sr. avalia a atua��o da oposi��o neste momento?

N�o h� oposi��o organizada. Estamos passando por uma situa��o curiosa politicamente no Brasil. T�nhamos um sistema baseado em coaliz�o, que n�o foi planejado pela Constituinte, mas foi acontecendo. � a coliga��o de v�rios partidos para poder governar. O presidente atual despreza os partidos, mas est� acontecendo uma coisa curiosa, uma esp�cie de governo compartilhado. A C�mara e o Senado est�o atuando mais efetivamente. O STF tamb�m. N�o se sabe muito bem o que vai acontecer de tudo isso, mas h� outro sistema em funcionamento que n�o � mais o de coaliz�o.

E que sistema � esse? Um parlamentarismo branco?

Isso (parlamentarismo branco) est� acontecendo, mas a cultura no Brasil n�o � parlamentarista. Desde o Imp�rio as pessoas precisam ter algu�m que conduza. Elas criticam quem conduz, mas precisam de algu�m para conduzir. O problema mais grave que enfrentamos hoje � a falta de lideran�as em v�rios setores.

O liberalismo radical entrou em xeque com essa crise?

� verdade. O Estado atuante e necess�rio, nem o m�nimo nem o m�ximo. Na hora da crise todo mundo vira keynesiano (quem segue o economista ingl�s John Maynard Keynes) e quer que o governo gaste e d� dinheiro para quem n�o tem emprego. A� se v� que o Estado tem uma fun��o reparadora importante. Por que s� na �poca das crises? Tem sempre. A intensidade aumenta ou diminui. A ideia de um liberalismo total � uma ilus�o.

Por que, na opini�o do sr., o PT n�o est� conseguindo liderar um movimento consistente de oposi��o a Bolsonaro?

Qual era a proposta do PT? O Lula livre. O Lula est� livre. Relativamente, mas est�. A palavra do PT para a condu��o pol�tica desapareceu. Mas n�o foi s� isso. A base social do PT, sindicatos, CUT, etc., ficou muito aqu�m da movimenta��o da sociedade. Os governadores hoje t�m mais acesso aos meios de comunica��o. O (Jo�o) Doria sabe us�-los. Mostrou que tem decis�o. Decidiu enfrentar o presidente. Nesse momento quem est� colhendo mais frutos � o Doria. O Doria tem mostrado capacidade de sobreviver na crise.

Doria ganha for�a como presidenci�vel e pode ocupar esse campo do centro?

� o que ele se prop�e. Fora disso, quem tem? Um projeto, que � o Luciano Huck, que nasce de um movimento fora dos partidos. Mas na crise ele n�o tem instrumentos de aparecer e agir. Fica menor na crise. Doria fica maior. Os que det�m alavanca de poder, como o Doria, t�m maior proje��o. O Doria vem da rede social. Est� tendo uma vantagem indiscut�vel.

O PSDB devia ir de vez para a oposi��o a Bolsonaro?

Acho que sim. Ficar nessa posi��o de que n�o � quente nem frio n�o � o melhor. Essa polariza��o que houve no Brasil � ruim para as pessoas que s�o razo�veis, e eu procuro ser razo�vel, mas ela existe. � um dado da realidade brasileira. O PSDB corre o perigo de n�o ficar nem c�, nem l�. Doria entendeu isso e avan�ou.

Que cicatrizes ficar�o no Brasil ap�s essa crise do coronav�rus?

Meus pais falavam muito da gripe espanhola. O que aconteceu de mais pr�ximo foi a crise econ�mica de 1929, que resultou, por um lado, no (Franklin) Roosevelt (presidente dos Estados Unidos) e, na Europa, no fascismo com (Benito) Mussolini e (Adolf) Hitler. Houve muita hesita��o para combater esses males. Tomara que haja um Roosevelt daqui para frente.

Como o sr. avalia a influ�ncia da ala ideol�gica, que se baseia em Olavo de Carvalho, no governo? J� leu algo dele?

Nunca ouvi falar de Olavo de Carvalho. E olha que morei nos Estados Unidos em v�rias ocasi�es, fui professor em v�rias universidades. Isso � um invento local, brasileiro. Ele ganhou prest�gio porque o grupo que venceu a elei��o se uniu ao redor de ideias nesse esp�rito reacion�rio, que n�o � de direita. � reacion�rio, atrasado. Infelizmente, embarcamos em uma canoa furada, a cren�a de que h� um perigo ideol�gico que estaria contaminando o Brasil. Olavo representa uma linha de insensatez.

O sr. prezava a liturgia do cargo. Como avalia a rela��o de Bolsonaro com os filhos e os espa�os deles no governo?

O presidente Bolsonaro n�o entendeu a cadeira que ocupa, que � simb�lica. O presidente (Jos�) Sarney falava que havia um ritual do cargo. � verdade. Nenhum filho meu entrava no gabinete ou entrava no meu carro. Eventualmente, minha mulher, que tinha uma fun��o social grande. No helic�ptero n�o ia fam�lia. Na Presid�ncia voc� n�o � um homem comum. Voc� foi eleito. Tenho a impress�o de que o presidente Bolsonaro ainda se acha uma pessoa comum. N�o �. Tudo que ele faz tem repercuss�o internacional. Ele precisa se portar dentro de um figurino. � dif�cil? �. Desagrad�vel? Pessoalmente, � duro, mas � assim que as coisas funcionam. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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