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Estado de Minas POL�TICA

Quando as fake news amea�am a vida real


16/08/2020 16:00

H� nove meses, o professor da Universidade de Virg�nia, nos Estados Unidos, David Nemer, de 35 anos, deixou o Brasil por n�o se sentir seguro. Em dezembro do ano passado, ele recebeu um e-mail com uma foto sua no Parque do Ibirapuera, em S�o Paulo, onde estivera dias antes. O autor da mensagem, al�m de ter seguido o acad�mico naquele dia, escreveu que ele deveria "tomar cuidado" por onde andava. Nemer comprou a primeira passagem dispon�vel para os EUA.

A experi�ncia de Nemer mostra at� onde podem chegar pessoas que usam perfis em redes sociais para amea�ar e agredir quem pensa diferente. Campanhas difamat�rias e divulga��o de not�cias falsas podem atingir qualquer um, de qualquer campo pol�tico, e est�o no centro do debate do projeto de lei das Fake News, em discuss�o na C�mara dos Deputados.

Nemer se tornou alvo de ataques virtuais e fake news tr�s dias antes do segundo turno das elei��es de 2018, quando publicou um artigo sobre o bolsonarismo nas redes sociais, fruto de sua pesquisa acad�mica. As mensagens diziam que o trabalho era financiado pelo filantropo h�ngaro-americano George Soros e que Nemer era contratado pela campanha de Fernando Haddad (PT) - ele nunca teve v�nculos com nenhum dos dois.

"Os ataques voltavam, coincidentemente, toda vez que eu publicava algo novo", lembra. H� cerca de um m�s, ap�s chamar aten��o para o uso de uma nova rede social pela extrema-direita em uma entrevista, surgiram outras amea�as. Ele recebeu fotos de um fuzil, uma pistola e muni��o. "Parece que o esquerdista tem fam�lia no Brasil", era a mensagem.

Hoje, por precau��o, o professor coleta dados de cada intera��o que faz na internet, guarda imagens, armazena amea�as num servidor e monitora novos casos. "Consegui construir uma rede de apoio que me assessora juridicamente na universidade. N�o me intimido, n�o vou parar", disse.

Na �poca em que os ataques a Nemer come�aram, a ent�o candidata a deputada estadual de S�o Paulo Jana�na Paschoal (PSL) tamb�m foi alvo de fake news. Um dos textos que mais viralizaram na internet dizia que ela havia participado de uma suposta reuni�o para forjar a facada contra Jair Bolsonaro durante a campanha.
Eleita para a Assembleia Legislativa de S�o Paulo, Jana�na viu algumas das suas propostas serem distorcidas ou exageradas. Ela foi acusada de tentar impedir atendimento psicol�gico e social a menores de idade. Isso ocorreu ap�s ela propor que tratamentos hormonais s� sejam permitidos a partir dos 18 anos, e cirurgias de mudan�a de sexo apenas a partir dos 21.

"Os ataques s�o cru�is, sexistas. As amea�as s�o sempre de estupro e as ila��es s�o sempre sexuais. Lembro de cartas indagando por qual raz�o eu n�o havia engravidado de algum figur�o, j� que queria tanto aparecer", conta a deputada. Ela diz que as amea�as a perturbam mais do que eventuais not�cias falsas.

"Publicaram endere�os e dados de todos os meus parentes, inclusive distantes."
No m�s passado, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, protocolou dez processos judiciais por uma not�cia falsa contra ele e sua filha, Duda, de 14 anos.

Eles foram acusados de receber R$ 790 mil da Lei Rouanet. Santa Cruz, a mulher e a filha de fato inscreveram um projeto de teatro infantil em um edital do governo. Mesmo ap�s a aprova��o, obtida de maneira regular, eles optaram por n�o captar o recurso e cancelaram a empreitada. Em um dos processos, um site foi condenado a pagar R$ 150 mil de indeniza��o.
Os ataques come�aram ap�s ele assumir a presid�ncia da OAB, em mar�o de 2019.

Circularam mentiras sobre as circunst�ncias da morte de seu pai, que desapareceu ap�s ser preso por agentes da repress�o em 1974. "Voc� n�o passa de um comunista igual ao seu pai, se acha um semideus por andar de carro blindado. N�o se esque�a que existe explosivo C-4", dizia uma mensagem.

H� duas semanas, viralizaram imagens de bolsonaristas em frente ao condom�nio onde mora o influenciador digital Felipe Neto, gritando amea�as ao microfone em um carro de som. O protesto era motivado por informa��es falsas que o associavam ao incentivo � pedofilia. Nas redes circularam imagens adulteradas, com frases que ele nunca havia escrito.

Neto diz que os ataques se intensificaram � medida que ganhou mais espa�o na imprensa devido a suas posi��es pol�ticas (mais informa��es nesta p�gina). Um manifesto assinado por 37 entidades do Terceiro Setor foi publicado em defesa dele. "O tamanho da for�a que eu recebi ap�s esse evento serviu como um alerta para todas essas pessoas violentas e descontroladas: n�o vamos aceitar", disse.

Di�logo. Nemer, Santa Cruz e Neto mant�m di�logo com parlamentares sobre o projeto de lei das Fake News que est� em tramita��o no Congresso. Os dois primeiros concordam que o texto precisa de ajustes antes de ser aprovado. A maior preocupa��o � garantir que a lei permita rastrear o financiamento de grandes redes de fake news, al�m de responsabilizar as empresas que mant�m as plataformas.

Neto considera o texto "vigilantista e punitivista, al�m de incrivelmente amador", e defende sua rejei��o. Os tr�s criticam artigo que permitiria armazenar dados de autores das mensagens em massa por tr�s meses. H� tamb�m d�vidas sobre se o Conselho de Transpar�ncia, criado por lei, n�o poder� ser usado como mecanismo de censura.

De produtor de conte�do infantojuvenil a ativista pol�tico

A combina��o entre produtor de conte�do infantojuvenil, comentarista pol�tico e ativista soa improv�vel, mas, de alguma forma, Felipe Neto re�ne essas caracter�sticas. Aos 32 anos, ele tem um dos tr�s maiores canais do YouTube do Brasil, segundo a plataforma, com mais de 39 milh�es de inscritos.

Seus v�deos registram o que ele pensa h� cerca de uma d�cada, o que resultou num processo de transi��o ideol�gica documentado em detalhes. A metamorfose o levou a ter suas opini�es publicadas no The New York Times e a ver no Terceiro Setor um campo para desenvolver uma nova carreira.

Felipe Neto fala sobre pol�tica desde seus primeiros v�deos na internet, em 2010. O discurso era marcado por um tom antiestablishment, que o acompanhou por mais da metade de sua trajet�ria. A t�nica, por�m, mudou nos �ltimos anos, at� ele se tornar cr�tico do presidente Jair Bolsonaro.

Em maio, ele disse, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ter se arrependido de defender a queda da presidente cassada Dilma Rousseff (PT). "Reviso minhas posi��es pol�ticas, sociais e econ�micas o tempo inteiro", afirmou ele ao Estad�o.

Hoje, Felipe Neto tem concentrado esfor�os no combate a redes de desinforma��o, das quais � v�tima, e faz uma defesa informal, no Congresso, dos interesses de produtores de conte�do na internet.

Isso se intensificou com a discuss�o do Projeto de Lei das Fake News. Sua principal parceira na empreitada � a produtora Nilce Moretto, que tamb�m administra canais famosos no YouTube. "Estamos h� meses nessa jornada, conversando com o m�ximo poss�vel de pessoas. H� diversos institutos do Terceiro Setor que dialogam conosco e lutam no meio dessa loucura toda", disse o youtuber. "� un�nime, entre todos esses especialistas, que estamos caminhando para o caos com esse projeto de lei. Ser� que todo mundo que respira o assunto 24 horas por dia h� anos est� errado?"

Futuro

Neto afirmou que, mesmo ap�s a aprova��o da lei, deve continuar no ramo da filantropia, com a cria��o e financiamento de institutos que trabalhem com temas como desigualdade, liberdade de express�o e meio ambiente. "Tenho mais a oferecer por meio do Terceiro Setor do que pela pol�tica tradicional", disse.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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