No dia em que o Brasil atingiu 127 mil mortos por covid-19, o presidente Jair Bolsonaro fez na noite desta segunda-feira, 7, um pronunciamento em que ignorou a pandemia, n�o destacou a agenda de reformas de governo e procurou enfatizar o seu compromisso com a democracia e a liberdade dos brasileiros. Em tom nacionalista, Bolsonaro afirmou que em 1822, na declara��o de independ�ncia do Brasil, o Pa�s dizia ao mundo que "nunca mais aceitaria ser submisso a qualquer outra a na��o", e que os brasileiros "jamais abririam m�o da sua liberdade". Essa foi a primeira vez que o presidente se manifestou em pronunciamento desde abril.
Sem mencionar a repress�o da ditadura militar a opositores, Bolsonaro destacou que, nos anos 60, "quando a sombra do comunismo nos amea�ou", milh�es de brasileiros foram �s ruas "contra um pa�s tomado pela radicaliza��o ideol�gica, greves, desordem social e corrup��o generalizada". "O sangue dos brasileiros sempre foi derramado por liberdade", disse o presidente. Bolsonaro tamb�m fez refer�ncia � participa��o do Brasil na Segunda Guerra Mundial, quando o Pa�s "foi � Europa para ajudar o mundo a derrotar o nazismo e o fascismo". "Vencemos ontem, estamos vencendo hoje e venceremos sempre", frisou.
Afirmando compromisso com a Constitui��o, a democracia, a liberdade e a preserva��o da soberania, Bolsonaro disse que o Pa�s jamais abrir� m�o de tais valores. "No momento em que celebramos essa data t�o especial, reitero, como presidente da Rep�blica, meu amor � P�tria e meu compromisso com a Constitui��o e com a preserva��o da soberania, democracia e liberdade, valores dos quais nosso Pa�s jamais abrir� m�o. A Independ�ncia do Brasil merece ser comemorada hoje, nos nossos lares e em nossos cora��es", continuou o presidente, que enfatizou a democracia mais uma vez em seu pronunciamento. "A Independ�ncia nos deu a liberdade para decidir nossos destinos e a usamos para escolher a democracia".
A escolha do presidente em enfatizar a defesa da democracia ocorre num momento em que Bolsonaro adota um tom mais ameno na rela��o com os demais Poderes. No primeiro deste ano, o mandat�rio participou de atos antidemocr�ticos em Bras�lia e proferiu uma s�rie de cr�ticas a decis�es do Supremo Tribunal Federal (STF) que contrariaram os interesses do governo - como a suspens�o da nomea��o de Alexandre Ramagem para a Pol�cia Federal.
O presidente tamb�m usou o pronunciamento para ressaltar a miscigena��o brasileira. Para Bolsonaro, o Brasil desenvolveu o "senso de toler�ncia". "O legado dessa mistura � um conjunto de preciosidades culturais, �tnicas e religiosas, que foram integradas aos costumes nacionais e orgulhosamente assumidas como brasileiras. Passados quase dois s�culos da Independ�ncia, nos quais enfrentou e superou in�meros desafios, o Brasil consolidou sua posi��o no concerto das na��es", disse.
Bolsonaro encerrou o pronunciamento com a mensagem de que "somos uma Na��o temente a Deus, que respeita a fam�lia e que ama a sua P�tria", refor�ando o tom nacionalista do discurso.
Celebra��o enxuta
Durante o dia, o presidente participou da cerim�nia do Dia da Independ�ncia, realizada no Pal�cio da Alvorada. Sem m�scara, Bolsonaro chegou no Rolls-Royce convers�vel da Presid�ncia para o evento, acompanhado de um grupo de cerca de dez crian�as, e cumprimentou apoiadores. Algumas usavam m�scaras, outras n�o. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foi chamada de "mita" pelo p�blico.
Em formato enxuto, o evento substituiu o tradicional desfile de 7 de Setembro, realizado na Esplanada dos Minist�rios, modificado devido � pandemia. Na portaria do Minist�rio da Defesa que cancelou o evento o motivo apresentado foi o risco de aglomera��o. No entanto, de acordo com a Secretaria Especial de Comunica��o (Secom), entre 1 mil e 1,2 mil pessoas acompanharam a solenidade.
Estavam presentes autoridades como os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, al�m de ministros de Estado e chefes das For�as Armadas. Assim que Toffoli chegou � solenidade, simpatizantes de Bolsonaro gritaram para o ministro: "Supremo � o povo". Alcolumbre, por sua vez, foi hostilizado com vaias. Entre os ministros, Paulo Guedes (Economia), Ernesto Ara�jo (Rela��es Exteriores) e F�bio Faria (Comunica��es) foram alguns dos presentes.
Com o desentendimento p�blico entre Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Guedes, o presidente da C�mara dos Deputados optou por n�o comparecer � comemora��o. Segundo a assessoria de Maia, o deputado n�o participou por estar no Rio.
Almo�o
Depois da cerim�nia, Bolsonaro ainda participou, junto de ministros, de uma confraterniza��o na casa do secret�rio especial de Assuntos Estrat�gicos, almirante Fl�vio Rocha. O almo�o contou tamb�m com a presen�a do presidente do STF. O convite de Rocha ocorreu justamente no momento em que o primeiro escal�o diverge sobre gastos p�blicos na retomada econ�mica.
Entre os participantes, estava Guedes, que enfrenta desgaste no governo. Mas assuntos de trabalho ficaram de fora da conversa, segundo relatos feitos ao Estad�o. De acordo com convidados do almo�o, o clima foi leve, descontra�do e sem formalidades. No card�pio, arroz carreteiro, porco no rolete e costela.
POL�TICA