
Esta � a terceira elei��o (a segunda municipal) em que o tribunal divulga dados sobre a ra�a dos candidatos. Em 2016, o n�mero de cidades sem candidatos negros era ainda maior: 2.512 munic�pios, ou 45%. Mesmo onde n�o h� exclusividade, os brancos ainda s�o em maior n�mero, uma vez que, ao todo, 63% dos candidatos a prefeito se declaram assim. � um contraste em rela��o ao total da popula��o do Brasil. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad) 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), 42% dos 209 milh�es de brasileiros s�o brancos, 46,8% s�o pardos e 9,4%, pretos.
Uma das explica��es para o cen�rio � uma dificuldade maior entre os candidatos negros em viabilizar financeiramente suas candidaturas, segundo especialistas. Outra � o fato de as c�pulas dos partidos pol�ticos serem dominadas por homens brancos.
Neste ano, h� previs�o legal de que os partidos t�m de distribuir proporcionalmente suas partes do fundo eleitoral por ra�a, de forma que, se a legenda tem 10% dos candidatos negros, eles receber�o 10% da verba do fundo. Essa regra, no entanto, n�o vale para candidatos a prefeito, s� para vereadores.
Embora as receitas das candidaturas ainda estejam sendo contabilizadas e os valores possam mudar at� o dia 15, os dados preliminares do TSE mostram que, na m�dia, um candidato branco tem R$ 69 mil para sua campanha, enquanto o negro, ou a soma de pretos e pardos, tem R$ 63 mil.
Progresso
Apesar da desproporcionalidade, o soci�logo Jos� Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, v� avan�os na presen�a dos negros no processo eleitoral. "Voc� ainda n�o est� na estrutura dos partidos, mas os negros est�o na base, na milit�ncia e tamb�m entre os candidatos a vereador e a deputado estadual, principalmente. Mas o que ficou aqu�m e al�m � o acesso a esses espa�os privilegiados de poder mais herm�tico e efetivo, que s�o os cargos majorit�rios", afirma.
Ele destaca, por outro lado, que o fato de o candidato ser negro n�o tem rela��o com obter uma vota��o mais ampla entre o eleitorado que tamb�m se v� assim. "Tem mais quest�es ligadas � decis�o do voto."
O professor de Sociologia e Ci�ncia Pol�tica do Instituto de Estudos Sociais e Pol�ticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ) Luiz Augusto Campos acha "precipitado imputar ao eleitor o fato de n�o termos candidatos negros" e destaca que a regra de proporcionalidade racial nas elei��es deste ano, definida pelo TSE, s� vale para a disputa no Legislativo. "N�o tem cota, at� porque � um candidato de cada partido por cidade", observou.
Em S�o Paulo, h� dois candidatos negros: Orlando Silva (PCdoB) e Vera L�cia (PSTU) entre um total de 14 nomes que se lan�aram na disputa. Silva tamb�m cita a falta de recursos como principal barreira. "Para voc� disputar um cargo majorit�rio, quase sempre voc� passa por alguma experi�ncia pol�tica anterior. Se n�s nem disputamos os cargos proporcionais, vereador e deputado estadual e federal, mais dif�cil ainda � voc� disputar cargos majorit�rios."
Uma das cidades s� com candidatos brancos � a vizinha S�o Caetano do Sul, no ABC. Candidato � reelei��o, o prefeito Jos� Auricchio (PSDB) afirma que nunca disputou elei��es contra candidatos negros (j� foi prefeito tr�s vezes). "S� posso atribuir isso ao racismo estrutural que temos no Pa�s", disse. "A democracia vive da representatividade. Quanto maior ela for, melhor."