Em um dia de sol na �ltima semana de campanha para a prefeitura de S�o Paulo, o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos) se "dirigiu" a equipe de uma emissora de TV que foi cobrir sua agenda, a c�u aberto, depois que um cinegrafista pediu para ele se posicionar em frente a um muro. "O fundo n�o � escuro, o fundo � claro. Pega aqui �, pega de l� para c�", afirmou. "Disso daqui eu entendo um pouco, voc�s v�o ficar contra a luz", completou o candidato, que entrou na pol�tica ap�s se tornar conhecido como apresentador de TV com enfoque na defesa do direito do consumidor.
Fora dos per�odos eleitorais, Russomanno se divide entre seu programa de televis�o, o Patrulha do Consumidor, exibido pela Rede Record, e o Congresso Nacional - onde, aos 64 anos, e no terceiro partido, exerce seu sexto mandato como deputado federal.
� um ciclo que perdura desde 1995: ele usa a popularidade de apresentador para se eleger deputado e o mandato de deputado para refor�ar a autoridade na TV. Curiosamente, quem o convidou para sua estreia na pol�tica foi o ex-governador tucano M�rio Covas, av� do atual prefeito, Bruno Covas (PSDB).
Seus oponentes pol�ticos costumam citar algumas gafes que comp�em a biografia do apresentador, como o "v�deo da uvinha", em que ele aparece apalpando mulheres na cobertura do carnaval de 1990, e aquele em que ele discute com uma caixa de supermercado - al�m de imbr�glios jur�dicos que envolvem sua atua��o como empres�rio, como o Bar do Alem�o de Bras�lia, que resultou no bloqueio de alguns de seus bens.
Enquanto atuava defendendo o consumidor na televis�o, Russomanno sempre esteve, nos bastidores da pol�tica, atrelado a estruturas de governo das tr�s esferas. No munic�pio, seu partido controlou o Servi�o Funer�rio Municipal de S�o Paulo, a Secretaria de Habita��o e quatro subprefeituras at� agosto.
Al�m disso, pessoas diretamente ligadas a ele atuaram nas dire��es tanto do Procon municipal - na gest�o Covas - quanto da vers�o estadual do �rg�o - no governo de Geraldo Alckmin (PSDB). No ambiente federal, Russomanno integra o bloco conhecido como Centr�o, e chegou a bancar a indica��o, em 2015, do ent�o aliado George Hilton como ministro do Esporte do governo de Dilma Rousseff (PT).
Quando fala de suas propostas para a sa�de p�blica nos atos de campanha e na propaganda eleitoral, costuma citar a morte da sua primeira mulher, Adriana Torres Russomanno, que ele alega ter ocorrido por "neglig�ncia m�dica". O Hospital S�o Camilo, no entanto, foi absolvido pelo Tribunal de Justi�a do Estado de S�o Paulo.
A mulher do deputado morreu em 1990, aos 29 anos, v�tima de uma infec��o generalizada causada por meningite. No dia, Russomanno gravou imagens de dentro do hospital em que acusava a equipe m�dica de descuidos.
Efeito TV
A TV d� ao pol�tico Russomanno alto grau de conhecimento entre os eleitores de S�o Paulo. Isso se reflete em votos quando ele se candidata ao Legislativo. Em 2014, foi o deputado mais votado do Pa�s, com mais de 1,5 milh�o de votos. Nas �ltimas elei��es gerais, foi o terceiro mais votado do Estado, atr�s apenas de Eduardo Bolsonaro (PSL) e de Joice Hasselmann (PSL).
Mas ele n�o consegue o mesmo resultado quando se candidata ao Executivo. Esta � a terceira vez que Russomanno tenta se eleger prefeito de S�o Paulo. Em 2012 e 2016, sustentado pelo recall de seu programa de TV, largou na frente nas pesquisas de inten��o de voto, mas desidratou principalmente na reta fina da campanha e ficou fora da disputa pelo segundo turno.
Nas duas ocasi�es, o comunicador Russomanno come�ou a cair nas pesquisas quando abriu a boca. Em 2012, sua proposta de oferecer tarifa proporcional para quem circula pelos bairros chegou aos ouvidos dos eleitores com a seguinte mensagem: quem mora longe vai pagar mais. Foi fatal.
Em 2016, o in�cio do decl�nio coincidiu com declara��es sobre a ilegalidade do aplicativo Uber, a proposta de isolar a Cracol�ndia e a afirma��o de que caso se posicionasse sobre a reforma trabalhista sua candidatura "naufragaria", o que deixava subentendido que votaria contra os trabalhadores.
Neste ano, o candidato vem mantendo o padr�o. Em outubro, pesquisa Ibope/Estad�o/TV Globo o colocava na lideran�a com 26%, cinco a mais que Bruno Covas (PSDB). No m�s seguinte j� amargava a terceira coloca��o, com 12%, empatado tecnicamente com Guilherme Boulos (PSOL), com 13% - Covas tinha 32%. Ontem, no �ltimo levantamento Ibope/Estad�o/TV Globo, ele aparecia empatado numericamente com M�rcio Fran�a (PSB), com 13%.
O in�cio do decl�nio coincidiu com declara��es como a que fez em uma agenda de campanha, quando sugeriu que moradores de rua seriam mais resistentes ao novo coronav�rus porque n�o conseguem tomar banho todos os dias. Em novembro, reclamou que a vacina contra covid-19 n�o era testada em pessoas j� infectadas.
Russomanno � descrito por pessoas pr�ximas como persistente, mas, diante da experi�ncia de 2012 e 2016, custou a entrar na campanha neste ano. S� se lan�ou candidato na �ltima hora, depois de receber a sinaliza��o de apoio expl�cito do presidente da Rep�blica, Jair Bolsonaro.
Para afastar a imagem de "cavalo paraguaio" das elei��es municipais, a aposta desse ano � "surfar" na onda bolsonarista de 2018, mesmo que as pesquisas apontem que o presidente tem alta taxa de rejei��o e baixa capacidade de "transfer�ncia" de votos.
"Russomanno e Bolsonaro s�o duas pessoas que t�m interesses comuns. O Bolsonaro (quer) ficar bem em S�o Paulo e disputar posi��o com o (governador do Estado, Jo�o) Doria. E o Celso que tem essa coisa de resgatar o que sempre foi o sonho dele, que � governar (a cidade de) S�o Paulo. E sentiu, na aproxima��o com o governo federal, a chance", afirmou o marqueteiro da campanha, Elsinho Mouco.
O apoio de Bolsonaro foi al�m de pose para fotos juntos ou pedidos de votos na transmiss�o ao vivo das redes sociais do presidente. Auxiliares diretos do presidente, como o secret�rio executivo do Minist�rio da Comunica��o, Fabio Wajngarten, desembarcaram em S�o Paulo e tiveram participa��o direta na campanha.
Expl�cito
Russomanno oscilou entre a associa��o expl�cita, a retic�ncia e declara��es que iam de encontro ao discurso do presidente. Logo no lan�amento da candidatura, prometeu adotar o "aux�lio paulistano", proposta que replicaria na esfera municipal o aux�lio emergencial pago pelo governo federal a profissionais aut�nomos para minorar os efeitos da pandemia do novo coronav�rus - e foi fundamental para aumentar a popularidade do presidente. Tamb�m questionou testes para a covid-19 e dados de pesquisas eleitorais.
No fim de outubro, aliados de Bolsonaro passaram a criticar os rumos da campanha. Segundo eles, Russomanno se recusava a empunhar bandeiras do presidente como a n�o obrigatoriedade da vacina contra a covid-19 e a abertura geral da economia durante a pandemia, e resistia a adotar uma estrat�gia com �nfase na campanha digital, a exemplo do que Bolsonaro fez em 2018. As diverg�ncias levaram Wajngarten a se distanciar da campanha em S�o Paulo.
Outros aliados do presidente, no entanto, mantiveram apoio e organizaram uma a��o ao amplificarem, na internet, uma suposta den�ncia de que Boulos estaria usando empresa fantasma para justificar despesas de campanha. Era o �ltimo ataque ao advers�rio direto. A afirma��o havia sido feita e replicada por bolsonaristas investigados em inqu�ritos de fake news e de atos antidemocr�ticos contra o Supremo Tribunal Federal. A Justi�a Eleitoral ordenou a retirada do v�deo do ar. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
Acompanhe ao vivo a apura��o das urnas neste domingo (15), a partir das 17h, pelo uai.com.br e em.com.br.
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